A armadilha mais perigosa de se viver na fantasia não é fugir da realidade; é viver menos o que se poderia viver. Ao escolherem o irreal, os viciados em fantasia também escolhem viver miseravelmente, caminhar aquém do potencial de plenitude que a vida oferece.

Nossos olhos não enxergam mais tão bem o concreto, o tempo, o trabalho, a luta. Tudo é meio que desimportante diante dos benefícios de experimentarmos o que não conquistamos, mas que, de alguma forma, está tão facilmente à nossa disposição. Aparentemente fácil.

A ruína da nossa geração não está no uso das novas tecnologias, no excesso de trabalho ou na indiferença com o próximo. Isso sempre existiu (quero dizer, a apropriação dos instrumentos que inventamos, dedicarmo-nos desequilibradamente ao trabalho ou não sermos assim tão solidários). Nossa ruína é perder a sensibilidade para a vida, para a complexidade que é viver, para as derrotas, para os perigos, para as tentações, para a salvação.

Não, não é pessimismo. Ao contrário, é reconhecer todo o bem que há, e que só será realmente visto se não ignorarmos os desconfortos. A gratidão verdadeira nasce da luta que se vence, do perdão que se recebe diante dos erros, do consolo que surge quando a tristeza toma conta.

Nisso o convite de Jesus é completamente real: “vinde a mim todos os cansados e sobrecarregados”. Não se trata de uma fuga, mas de um encontro. Fugíamos antes. Agora não é mais necessário. Agora temos a vida.

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