Dois pardais
“Impede que eu caminhe por Teu belo mundo sem ver”
(John Baillie, A Diary of Private Prayer)
A menina pulando ao chão, o trabalhador roçando o canteiro central, o motorista ultrapassando rapidamente, o jovem organizando cada pasta de dente na prateleira. O dia começa e termina com mãos calejadas, sorrisos forçados para agradar o cliente, socorros momentâneos a quem, inesperadamente, tropeça na calçada. A vida é esse mosaico de pequenos acontecimentos e anônimos gestos de bondade e contínuos atos de esforços (livres ou não).
Mas quem vê?
VER é um ato maior do que imaginamos. Jesus enxergou dois pardais e, a partir dessa rápida cena, ilustrou uma lição sobre a bondade do Criador na imprevisibilidade da existência (Mt 10.29).
No sábado à noite, resolvi dar uma corridinha na Av. Carlos Borges. Bem iluminada, essa bonita via que dá acesso à rodovia me trouxe um senso de graça que, apesar da respiração ofegante, me ajudou a enxergar, de fato. Ver o que acontecia ao meu redor e, assim, testificar que isso é vida.
Eu desconfio que coisas como IA (Inteligência Artificial) vão minar nossa capacidade humana de ver e enxergar o espontâneo, o imprevisível, o único. Gostaria muito que tivéssemos a sabedoria para conciliar as facilidades da tecnologia com a surpresas de simplesmente ser humano no mistério da criação.
Ao final, eu consegui correr 5 quilômetros naquele sábado. Fiquei satisfeito com o meu esforço pessoal depois de uma semana sem exercícios físicos. Tenho me preocupado cada vez mais com minha saúde. Sei que nesta altura da vida todo cuidado é pouco. Ao mesmo tempo, sei que não basta seguir regras e agradar expectativas. Ao perceber a vida em sua inteireza é que eu me sinto mais vivo.
Imagem: Pixabay
Bigduda
que texto lírico, um sermão-conto em poucas linhas. obg por compartilhar