ATO 2: Crescimento e Movimento (05 a 12 de março)

Disciplina espiritual: submissão

 

Nosso ego inflado é um inimigo onipresente e potencializado pelas novas formas e tecnologias de comunicação em rede. Por trás disso, há um indivíduo perdido em suas relações, deficitário na segurança afetiva e preenchido pelo autoengano.

Para lidar com o problema, talvez o caminho seja ‘intragável’: a submissão. Intragável porque a sociedade vive crises sucessivas de confiança uns nos outros – e nem as instituições religiosas nem a família são exceção. Estruturas sociais e econômicas desiguais e distantes de Deus, desonestidade e corrupção, busca por poder e fama, preconceitos… esses são alguns fatores que minam a confiança. Daí a pergunta: como praticar a submissão se não há confiança? Impossível.

Outra questão é um tipo de descrença em tudo que promete ser duradouro. Ninguém mais acredita em grandes verdades e ideias, em grandes instituições ou em grandes projetos. “Tudo que é sólido se desmancha no ar”, já disseram há tempos.

Como então praticar a disciplina espiritual da submissão em um mundo assim?

Creio que o primeiro passo é reaprender a confiar em Jesus Cristo. Um processo duro, profundo e libertador. Ele é a autoridade que precisamos para libertar nosso coração do orgulho. Hebreus disse que Cristo é o Grande Sumo Sacerdote (Hb 5), ou seja, a maior representação de autoridade espiritual na terra. É a partir dessa experiência de submissão a Cristo que daremos os primeiros passos para nos submeter uns aos outros. Na perspectiva cristã, que fique bem claro, o alvo é a submissão mútua; afinal, ela é a proteção para autoritarismos e idealizações manipuláveis. Mas esse estágio não é simples; depende de uma jornada sincera em direção à vontade de Deus para cada coração humano.

“Na submissão, nós nos engajamos na experiência daqueles em nosso convívio que são qualificados para orientar nossos esforços para o crescimento e que, assim, acrescentam o peso de sua sábia autoridade ao nosso espírito disposto, ajudando-nos a fazer as coisas que gostaríamos de fazer e a nos guardar daquilo que não queremos fazer”¹.

A escola da submissão e o exemplo maior

A primeira Páscoa foi instituída numa circunstância em que o povo hebreu era oprimido por autoridades que não serviam a Deus. Tratava-se de uma submissão falsa, porque não era reflexo de um coração livre. A celebração da Páscoa surgiu exatamente porque os hebreus passaram a seguir o Senhor que os libertou. Como um memorial de liberdade humana atrelada à fé em Deus é que ela foi instituída.

O deserto foi uma “escola de submissão” tanto para o povo quanto para os seus líderes. Sem um lar pronto, ambos precisavam confiar, não em sua força e sabedoria, mas na presença de Deus (nuvem de dia, coluna de fogo à noite) e no suprimento diário que ele dava (maná).

Jesus Cristo é Deus, mas se fez servo, se esvaziou e se humilhou (Fp 5.6). Ele foi o maior exemplo de um líder submisso, que lavou os pés dos discípulos na véspera de sua morte (Jo 13). Até hoje me surpreendo com isso.

Jesus cresceu como ser humano e moveu-se em direção a uma liberdade que não era orgulhosa e egocêntrica. Ele se submeteu desde a infância ao processo humano de crescimento, aprendizado, obediência e escuta. Jesus ouvia as pessoas mais simples, curava os que não estavam em seu rol de relacionamentos, reconhecia a fé até de quem não era judeu. Os seus movimentos eram sempre em obediência ao Pai (Jo 4.34). Era submissão genuína .

Ao olharmos para a forma como Jesus lidava com o poder, nossa fé é revigorada. Não precisamos nos submeter a essa tentação, mas sim ao Senhor soberano e íntegro que nos liberta de toda forma de opressão.

 

NA PRÁTICA:

  • Liste cinco atitudes de insubmissão a Deus que, infelizmente, você transformou em hábito. Coloque diante de Deus, em oração, cada uma delas. Peça perdão por seu coração orgulhoso.
  • Crie uma segunda lista com atitudes positivas de submissão, contrapondo-a à primeira lista. Coloque diante de Deus, em oração cada uma delas. Peça capacitação do Espírito para cumpri-la.
  • Se você tem uma atitude recorrente de insubmissão a um líder seu, procure-o e peça perdão. Diga que você quer desenvolver uma atitude de servo diante de Deus e dos homens.

 

Exemplos bíblicos:

Êx 3.4; Is 6.8; Hb 13.17; 1 Pe 5.2,3; 1 Pe 5.5; Ef 5.21; Fp 2.3.

 

PARA PENSAR:

“O Caminho de Jesus não conhece a submissão fora do contexto da submissão mútua, de todos para com todos”² (Dallas Willard).

 

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Notas:

  1. WILLARD, Dallas. O Espírito das Disciplinas, Editorial Habacuc, p 215.
  2. Idem, p 214.

 


Leia também

A Páscoa e os Atos de Jesus: um roteiro prático para o aprofundamento espiritual até a Páscoa

ATO 1: Nascimento e Encarnação

ATO 2: Crescimento e Movimento

ATO 3: Missão e Escolhas

ATO 4: Comunidade e Amizade

ATO 5: Morte e Lamento

ATO 6: Ressurreição e Esperança

 

 

Imagem: Pixabay

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