No corretor do Terminal Rodoviário do Tietê, muita gente indo e vindo. Eu sigo para o guichê do metrô. Preciso ir até a outra rodoviária (Barra Funda). Entre tantas pessoas que atravessam meu caminho, surge um rapaz bem apressado. Enquanto ando, olho de relance para ele e vejo algo inusitado: uma vírgula gigante está tatuada em sua testa. Sorrio por dentro e fico me perguntando: “Por que ele tatuou justamente uma vírgula?”.

Obviamente não tenho respostas, mas tal cena me fez pensar que vírgulas são importantes. Pelo menos para aquele cara, né? Não, vírgulas são importantes para todos nós. Não há saúde sem vírgulas, sem pausas, sem pequenos descansos que nos dão fôlego para longas caminhadas. A vírgula impede que optemos pelo ponto final antes da hora. Ela nos ajuda a seguir em frente.

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Ao longo daquela tarde (antes de encontrar o cara da vírgula) fiquei no Tietê à espera do horário mais adequado para sair. Neste período, por duas vezes fui abordado por mulheres pedindo alguma ajuda (para comprar comida ou passagens). Uma delas estava com um bebê, dormindo no colo. Quando isso acontece, costumo ajudar, mas sempre sinto tristeza por não ver esperança nos olhos dessas pessoas. Uma das maiores lástimas é a perda de esperança.

Nesta tarde eu não vi o tempo passar, absorto que estava nessa realidade que tornamos furtiva, entre a pobreza, o inusitado e o silêncio da espera. Minha mente girava com uma ciranda ininterrupta.

Esperar a hora do embarque é a parte mais fácil de hoje. Mas o que esperar quando a vida de uma pessoa se reduz a olhar de baixo para cima, refém da misericórdia alheia?

Talvez tenha sido isso que aconteceu com aquela mulher que encontrou Jesus. Ela insistiu pelo favor de Cristo, dizendo que até os cães comiam das migalhas que caíam da mesa dos homens”. Jesus se surpreendeu com tamanha vontade de receber ajuda. Sim, a misericórdia pode parecer humilhante, mas ela também é uma porta de transformação quando é sustentada pela esperança da cura. Ela nos coloca de volta à mesa por causa da bondade de outro.

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Ao chegar na segunda rodoviária, eu sigo para o guichê de ônibus e pergunto se não posso adiantar meu embarque, já que ainda faltam 2 horas para a partida. A funcionária pede minha passagem, dá sinais positivos, mas no final diz que não há permissão. A regra estabelece que só posso trocar a passagem três horas antes. “Que droga!”, penso. Me retiro, questionando a mim mesmo: por que não vim aqui antes?

Depois de tudo isso, agora estou aqui sentado, escrevendo essas singelas palavras, que não sei se terão alguma conclusão. Na verdade, eu só queria registrar essas realidades furtivas que talvez se conectem com algo maior ou talvez sejam apenas vírgulas inesperadas nas narrativas da vida.

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