Ato 4: Comunidade e amizade (19 a 25 de março)

Disciplina espiritual: Comunhão

 

Em uma cultura de massa, é fácil confundir multidão com comunhão. Na busca desesperada por pertencimento, corremos atrás de experiências coletivas que nos deem mesmo que migalhas de conexão – seja em um estádio de futebol, em um show da banda favorita ou numa megaigreja. No entanto, conformar-se com tal superficialidade é o mesmo que satisfazer-se com a roupa na vitrine e não com a experiência de vesti-la.

Os hebreus na época da primeira Páscoa não buscavam apenas libertação da escravidão impetrada pelo Egito, mas também uma identidade como povo – povo de Deus. Filhos de patriarcas com trajetórias incríveis de fé – Abraão, Isaque, Jacó -, eles foram humilhados em sua honra durante séculos em uma terra que não era deles. Mas chegou a hora! Eles iriam sair em direção à terra prometida e lá edificar sua nação! A Páscoa foi esse memorial de que, sim, Deus iria cumprir todas as suas promessas em favor daquele que era seu povo.

Quando Jesus nasceu, foi para esse povo que ele veio, usando suas mesmas vestes, crescendo em sua cultura, obedecendo seus rituais e crendo em seu Deus. Jesus não abdicou de sua identidade como judeu, mas tinha como missão resgatar a essência dessa identidade – afastando os abusos religiosos e o exclusivismo – e revelar assim o propósito eterno do Pai para Israel e toda a humanidade.

Comunhão é mais do que ajuntamento ou discursos fabricados para gerar sensações artificiais. Comunhão é viver intensamente com o outro em sua inteireza como ser humano e como filho de Deus. A Páscoa revela o Jesus que dá a vida por seus amigos e, a partir de seu sacrifício na cruz, rasga o véu de cima abaixo que os separava da comunhão mais profunda com Deus.

Paulo nos diz que Deus, em Jesus, destruiu o “muro da inimizade” que nos separava da comunidade de Israel. Ele nos reconciliou com ele e com o próximo. Agora “já não somos mais estrangeiros nem forasteiros, mas concidadãos dos santos e membros da família de Deus” (Ef 2.19).

Agora livres, podemos viver quem somos ao lado de muitos outros!

Comunhão: o fogo de Deus queima mais alto

Na comunhão, nós nos engajamos nas atividades comuns de adoração, estudo, oração, celebração e serviço com outros discípulos. Ela pode envolver grandes grupos ou apenas umas poucas pessoas. Pessoas unidas podem conter mais de Deus e sustentar a força de sua presença de modo mais efetivo do que indivíduos isolados. O fogo de Deus queima mais alto quando a lenha é empilhada e cada uma sente a chama da outra. Os membros do corpo devem estar em contato a fim de sustentarem-se uns aos outros. A redenção cristã não foi projetada para ser algo solitário, embora cada indivíduo tenha um relacionamento único e direto com Deus e Ele, e apenas Ele, seja o Senhor e Juiz de cada um e de todos. No entanto, a Vida exige certa conjunção regular e profunda com outros que a compartilham. Ela diminui grandemente quando falta comunhão.¹

Exemplos bíblicos:

Gn 12.2-3; João 15.15; 1 Pe 2.9-10; 1 Co 12.7-11; Ef 2.11-22; Ap 5.

 

PARA PRATICAR:

  1. Quem você é quando está sozinho condiz com quem você gostaria de ser junto com os outros? Responda essa pergunta e anote a resposta em forma de símbolos. Escolhe um símbolo que sintetize os contrastes de sua identidade isolado e sua identidade em grupo.
  2. É hora de agir. Convide um amigo(a) para tomar um café e dedique o tempo para ouvi-lo antes de você falar. Se tiver oportunidade, também fale algo sobre sua história que se conecte com a história dele(a). Agradeça a ele(a) pela confiança e sugira que ambos tenham um tempo de oração um pelo outro.
  3. Reflita sobre sua experiência em comunidade. Você tem conseguido experimentar a profundidade da comunhão com ela em Cristo? Se não, pergunte-se: o que eu posso fazer para criar essa comunhão que eu desejo? Pense em ideias bem práticas e possíveis de serem executas a curto e médio prazos.

 

PARA PENSAR:

“Estamos tão repletos do amor aos próximos distantes que nos esquecemos constantemente do amor simples, comum e cotidiano aos próximos mais chegados. Perguntamos de que maneira poderemos amar as pessoas, ao invés de começar a amar a que está mais próxima de nós. Nós, cristãos, nos tornamos – ou permanecemos – inaptos para a comunhão, porque sempre visamos à comunhão com todos e não desejamos o início, a disciplina e o exercício da comunhão com uma ou poucas pessoas”². (Hans Bürki)

**

Nota:

  1. WILLARD, Dallas. O Espírito das Disciplinas – entendendo como Deus transforma vidas. Editorial Habacuc, p 211-212.
  2. BÜRKI, Hans. Melhor é serem dois. ABU Editora, p 66-67.

Leia também

A Páscoa e os Atos de Jesus: um roteiro prático para o aprofundamento espiritual até a Páscoa

ATO 1: Nascimento e Encarnação

ATO 2: Crescimento e Movimento

ATO 3: Missão e Escolhas

ATO 4: Comunidade e Amizade

ATO 5: Morte e Lamento

ATO 6: Ressurreição e Esperança

 

Foto: pixabay

Leave a Reply

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *