Tal qual a formiga que carrega um peso bem maior que ela mesma, o(a) escritor(a) se vê impelido(a) a ordenar palavras e expressões em torno de ideias ou de uma vida que ele mesmo não consegue conter ou controlar. Ou mesmo viver.

O escritor é um iludido. Alimenta-se diariamente (ou quase sempre) da ilusão da escrita – que, de tão sedutora, de tão própria para seu vazio interior, de tão real quanto mais imaginativa for – transforma-se e transforma o escriba em alguém maior do que ele, de fato, é.

A escrita é a mão invisível de Deus sobre o vulnerável escritor. Não que Deus queira enganá-lo, mas, de certa forma, é um encontro entre quem o escritor é e quem ele gostaria de ser. Entre o que a vida é e o que deveria. Entre o sonho e a realidade. Entre o ceticismo e a fé. Entre o amor e a indignação.

A escrita é esse tipo de aproximação miraculosa: de mim para o outro, enquanto todos somos leitores de um mundo tingido com traços imperfeitos em busca de perfeição.

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