Quem não precisa?

Conversei hoje com um velho e sábio amigo. Com mais ouvidos do que falas, ele se fez presente de forma simples, mas “sublime” (ele gosta desta palavra). Enquanto eu relatava meu momento, ele lentamente ia fazendo perguntas e trazendo insights que descortinam caminhos.
Conversamos por uma hora. Passou rapidamente. Ao final, ele orou por mim.
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Todos temos necessidades. De uma forma ou de outra, todos precisamos de alguém. A autossuficiência absoluta é uma das muitas mentiras do mundo atual.
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Quando se aproximava de Jerusalém, rumo a sua crucificação, Jesus enviou na frente dois discípulos e deu a eles orientações práticas para seu transporte na cidade. Ao pegarem emprestado dois jumentos num povoado, eles deveriam dizer aos seus donos: “O Senhor precisa deles” (Mt 21.3).
Sim, Jesus precisava dos jumentinhos. Porque, montado num dos animais, entrando em Jerusalém, ele cumpriria a profecia de Zacarias (Zc 9.9).
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A experiência humana é incrivelmente única. Não pode ser reproduzida como uma fórmula matemática ou um código computacional. E o que a torna única é a simbiose entre necessidade e serviço, entre compaixão e entrega, entre falta e ganho. Descobrimos no outro o que ainda não somos, e o outro descobre em nós o que ele não é. Entre carências e potencialidades, vamos nos tornando completos à luz daquele que nos criou para tal.
Virtudes como perdão e misericórdia são valiosas porque nos ajudam a equacionar esta experiência humana imperfeita. Erramos, mas podemos corrigir e continuar seguindo em frente.
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Talvez seja complicado demais lidar com tudo isso e, por vezes, nos sentimos muito cansados. Perdemos a paciência e decidimos nos afastar das pessoas, mas no fundo sabemos que a necessidade que sentimos do outro é intrínseca. Faz parte de quem somos.
Uma boa conversa com um amigo pode ser um caminho bonito para começar a reconexão com a vida.
Ilustração: Pixabay.com