Fora do lugar
A terra está em movimento ininterrupto. Nós também nos movemos por ilusões, verdades ou mera convicções. Mesmo quando, por cansaço ou preguiça, estacionamos num lugar, o lugar não deixa de se mover.
Ainda que o movimento seja inevitável, nem sempre a vida se move organizadamente. A verdade é que quase sempre tudo vira uma bagunça – o que nos faz perguntar: “onde está aquele objeto?”, “para onde estou indo?”, “quem é você?”.
Não, isso não é um problema só dos desorganizados, esquecidos e distraídos. É a vida que teima em nos surpreender e nos chamar para acompanhar o Vento.
Estou de férias há três dias e, em todos eles, tive o trabalho de colocar coisas no lugar aqui em casa. A sensação é de que tudo se move sozinho, e rapidamente – como se eu estivesse em uma ciranda ou carrossel.
Como que uma “roda viva”, a vida é mais que um calendário abarcando os dias cronológicos. É mais. É “tudo a qualquer momento”. É o vento abrindo a porta abruptamente. É o carro do lixo passando na hora errada. É um telefonema avisando que você precisa ir ao hospital. É a festa surpresa dos colegas do trabalho. É o anúncio de uma gravidez. É Deus me visitando no silêncio.
O cronos não é sábio o suficiente para explicar o kairós. Este, sim, tem a ver com a convergência de tempo e propósito que se concretiza no chão do cotidiano.
O cronos não é sábio o suficiente para explicar o kairós. Este, sim, tem a ver com a convergência de tempo e propósito que se concretiza no chão do cotidiano.
O que nos resta, então?
Que tal colocar as coisas no lugar, abrir as portas e janelas para o vento entrar, desligar qualquer som (inclusive, o da mente), agradecer ao Pai pelo “sopro” e desfrutar intensamente do que chamamos “vida” – até que “o sol da justiça se levante e traga cura em suas asas” (Ml 4.2)?
Imagem: Pixabay.