Não fale com estranhos
“Não fale com estranhos”. Mas todos os dias eu falo. Trinta segundos ou até um minuto, dou “bom dia” e aperto o botão com o número do meu andar. Às vezes, quando eu entro depois, ele aperta antes de mim. Nessas horas, parece que eu sou o estranho entrando na casa dele, sem pedir licença.
Quando tenho sorte, encontro um amigo e nos saudamos com mais do que o “bom dia”. Tem comentário sobre como será o trabalho hoje, tem previsão do tempo ou até mesmo uma palavra de encorajamento sobre a vida. Filosofia do cotidiano no ventre do elevador.
Hoje, quinta-feira, encontrei uma moça nesse ponto de encontro aleatório. Séria, apertou o 4. Em seguida, foi minha vez: 6. O elevador sobe. Não nos olhamos. Silêncio. Ainda é cedinho, e não caímos na tentação de fugir para dentro da tela do smartphone. Foram menos de 20 segundos, e o elevador parou. Chegou no andar dela. Ao sair, proferiu um “bom dia” e “bom trabalho”. A voz era suave e fina. Reciprocamente, a saudei. E segui sozinho para mais dois andares acima.
Por motivos óbvios em um mundo violento e maligno, falar com quem não conhecemos nem sempre é aconselhável. Mas sendo realista, o que seria da nossa vida se não falássemos com nenhum estranho? Continuaria pequena.
Imagem: Pixbay