As resoluções de Ano-Novo são “fichinha” diante do potencial de transformação que a Quaresma tem. Quaresma: quarenta dias de preparação espiritual para a Páscoa. Sim, nem todos os cristãos seguem esse calendário litúrgico, mas que bom seria se tivéssemos a disciplina que vai além de nossa vontade individual ou impulso subjetivo. Confesso que eu não sou a melhor pessoa para dizer isso, mas a despeito de minha indisciplina, sei que os “ritmos” da vida fazem bem a quem decidiu seguir uma maratona, e não somente uma corrida de 100 metros rasos. Dá consistência.

Um dos desafios mais fascinantes – e que sinalizam um processo de maturidade – é quando descobrimos nosso próprio ritmo de viver. O Espírito Santo nos conduz à “velocidade da graça” e nos faz seguir olhando e caminhando em direção ao que realmente importa. Isso é particularmente importante hoje, já que nossa geração gosta muito de correr, mas pouco se dedica a descobrir a direção dessa corrida.

Quanto aos 40 dias da Quaresma, vejo como uma boa oportunidade para aprendermos a disciplinar nossos sentidos. Não como uma prisão ou uma religiosidade vazia, mas como um projeto de vida.

A nossa vida faz sentido quando a buscamos intensamente enquanto caminhamos. É no movimento que descobrimos o sentido das coisas. A pergunta é: o que nos impulsiona a nos mover? Pode ser o dinheiro, pode ser a fama, pode ser o prazer. No entanto, tudo isso nos dá um sentido temporário ou provisório. Vamos precisar de mais e mais sentido para continuar seguindo. Mas quando essa descoberta envolve não somente o exterior, mas o interior mais profundo de nós, uma força – antes desconhecida – surge e nos dá a energia suficiente para seguir em frente numa “longa obediência na mesma direção” (como diria Eugene Peterson).

Essa força é o “sopro”, o “pneuma” do Espírito de Deus que nos proporciona experiência e conhecimento que vão além de cartilhas ou dicas de autoajuda.

A vida passa rápido, essa é uma sensação generalizada. Já estamos chegando em março! Mas o tempo continua tendo o seu ritmo; nós é que talvez tenhamos perdido o nosso. Que tal retomar isso? Que tal descobrirmos o nosso movimento – que não é nosso, mas de Deus? Sem dúvida, essa descoberta não afetará apenas a mim, mas também as minhas relações com Deus, com a família, com os colegas de trabalho, com os amigos e até com os desafetos.

Mergulhe nos ritmos de graça e permita que o Espírito mostre a você como caminhar nesse mundo repleto de caminhos e direções.

Vocês não sabem que dentre todos os que correm no estádio, apenas um ganha o prêmio? Corram de tal modo que alcancem o prêmio. (1 Coríntios 9:24 – NVI)

Foto: Imagem de Petra por Pixabay