Quando chove, é comum que algumas pedras das ruas se soltem e fiquem fora do lugar. As mais avessas rolam até alcançarem as calçadas cobertas por mato (nem todas as cidades são tão boas na pavimentação de suas vias públicas). Na minha cidade imaginária, a vida é assim: imperfeita e com algumas coisas fora do lugar. Não que eu prefira assim, mas é.

“Coisas fora do lugar”, aliás, é uma realidade em todas as vidas. Suspeito que aquela busca diária por sentido vem desta constatação: sim, as coisas estão fora do lugar.

Quando eu caminho após a chuva na minha cidade imaginária, vejo as pedras que se desgarraram com a força do vento e a fluidez da água. Então, fico em silêncio e me pergunto: quanta coisa está fora do lugar dentro de mim?

Eu gosto de falar sobre esperança. A palavra é linda e o seu sentido também. Quando reflito sobre ela, vem à mente a imagem de um lindo horizonte cortando um céu bem azul. Nessa cena desenhada em minha mente, nada está fora do lugar. Não chove. Parece um sonho.

Mas o que eu faço então depois da chuva da minha realidade?

Enquanto caminho em direção a um horizonte chamado esperança, movido por uma fé que não sei explicar, vou colocando as pedras de novo no lugar, uma a uma. As mãos se sujam com a terra molhada pela chuva. É que vem essa vontade de consertar a vida, e sou movido por uma força que – reconheço – não é minha. Venta então de repente. E encontro leveza em meio aos desajustes.

Olho para trás e enxergo um caminho maior do que quando por ele caminhei. Agora, com as pedras no lugar, todo mundo pode passar.

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