Uma paráfrase da história do profeta Jonas

Sou o Jonas. Fujo de ti. Fujo de mim. Que o mar me leve para longe de quem me revela a imagem verdadeira. Difícil não é enfrentar Nínive; é gozar tua bondade, porque perto dela sou completamente feio.

Que ninguém me encontre, me reconheça, me faça falar do meu passado, de minha história de fé. Não quero seguir um destino que não escolhi. Não quero falar a um povo do qual não gosto. Não quero ser profeta de verdade, nem ter que representar tua voz. Solene demais, ela me obriga a ser melhor do que sou.

As noites são longas, porque não há paz. Só me resta o dia para esconder-me no sono profundo. Escondo-me de tudo que é verdadeiro, do sol e do vento. Mas tu me pões em confronto com a revelação.

A mentira é jogada ao mar; e eu com ela. Fundo, escuro, mal-cheiroso. Assim sou. Assim as correntes do pecado me escravizam. Mas, de repente, surge o fôlego (na verdade, o gemido). A dor do coração, insurgida em palavras de oração. Diálogo com aquele de quem eu fugia. De repente, me vejo buscando-o, e até desejo adorá-lo, ainda que a vergonha permaneça. De repente, me vejo salvo do mar bravio. O escuro significa ressurreição. “Porque tu trouxeste a minha vida de volta da sepultura e quando a minha vida se apagava, eu me lembrei de ti, Senhor, e a minha oração subiu até ti”.

Sou o Jonas medroso, covarde. Sou o Jonas sem saída, sem escolha. Sou o Jonas que te encontra e é ressuscitado em sua fé. Não que eu já seja perfeito (porque sei que não sou, ah sei!), mas agora sigo o caminho novamente em direção ao meu destino. O que virá? O que eu já sabia. Tu revelando tua bondade sobre quem não merece. Que seja como queres, mesmo que eu não queira.

Que a tua sombra seja a minha proteção, mesmo quando tu desejas dá-la a mais de um. Que o teu juízo seja a força que me move, se já não restar nada mais que uma planta morta. Que tu me questiones, se ainda hoje eu não entender a tua misericórdia. Que seja eu marcado na história, se a tua voz não ultrapassar minha própria existência.

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