Aquele que está preso à sua própria justiça, é como alguém abandonado em uma ilha deserta: sem pão, sem ajuda, sem salvação. Os caminhos do egoísmo passam necessariamente pelas ilhas da justiça individual. Eis mais uma maldição do nosso tempo.
O homem contemporâneo vê a vida, as pessoas e os problemas a partir de um único princípio: “quem me deve que me pague!” Não há espaço para descontos ou perdão; muito menos para erros, imprevistos ou desatenção dos outros. Não há alegrias compartilhadas, apenas compensações. Não há compaixão, apenas favores. Não há confissões, apenas argumentos.
A maldição da justiça individual consiste em reduzir a uma única pessoa o que deveria ser para todos. O vislumbre do pôr-do-sol privatizado em uma tela pintada. É como comer todo o bolo no meio de outros famintos só porque foi você quem o preparou. “Eu fiz o bolo, logo é justo que o coma por inteiro e não o reparta com ninguém”.
No entanto, não se faz justiça sem misericórdia, porque ninguém resiste ao crivo da justiça individual, assim como ninguém sobrevive sozinho por muito tempo em uma ilha deserta. Quem decide viver assim se torna prisioneiro de si mesmo e da ilusão de uma organização da vida que, na verdade, é egoísta, insuficiente e incompleta. Uma solidão profunda atinge a vítima desta maldição, porque ela não vê amigos, apenas estranhos que ameaçam seus direitos.
A promessa do reino de Deus é colocar em ordem o fluxo da misericórdia. Quem se reconhece dentro deste reino, tem misericórdia dos outros e recebe misericórdia de Deus (Mt 5.7). A justiça da compaixão é o seu cetro. Fazer parte deste reino é ser libertado da escravidão da justiça individual e gozar da plenitude da justiça compartilhada, guiada por Deus e enriquecida pelos relacionamentos verdadeiros.

Misericórdia é “levar ajuda ao miserável” (Léxico Grego de Strong). Para que isso aconteça, precisamos admitir que somos ambos, o que leva a ajuda e o que recebe a misericórdia. E isso só será possível quando Deus nos curar da maldição da justiça individual.

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