Ser humano (e suas calamidades)
Há duas semanas, um amigo meu acordou com os olhos inchados. Ele foi ao médico e descobriu que estava com um tipo raro de câncer. Todos nós ficamos estupefados com a notícia. O meu amigo chama-se André e ele tem apenas 22 anos.
Um casal muito querido tentou pela terceira vez ter seu primeiro filho. Todos os bebês morreram ainda na barriga da mãe. O último faleceu esta semana. O esposo nos enviou uma carta de lamento sincera e comovente.
Como enfrentar a dor da doença? Como ser gente diante da indignidade causada por uma enfermidade repentina e grave?
Não sei. Ainda estou sofrendo com estas dúvidas. Mas não sou existencialista, nem humanista. Acredito. Tenho esperança. Olho para além do horizonte.
Como quando olhamos diretamente para os raios do sol de meio-dia, estou com a vista cansada. Porém, sei que pior do que sentir dor nos olhos, é tê-los cerrados e viver na escuridão.
Não sei porque as doenças acontecem. Mas sei que Deus não ficou inerte diante de nosso sofrimento. Ele mesmo veio ao mundo dos mortais e sofreu todas as dores para que tivéssemos esperança de que a salvação ainda existe e ela está disponível.
Salvação de quê?
Salvação das cadeias que nos prendem a nós mesmos e aos nossos desejos egoístas. Salvação da uma “vida-morte” sem sentido e distante de tudo que faz parte do Bem. Salvação da indignidade, do vício, da solidão, da imbecilidade, da alienação, da superficialidade.
Deus é a salvação de tudo que reduz nossa verdadeira humanidade.
E o que é ser realmente humano? É saber exatamente onde estou, porque estou, quem sou. A humanização nos faz ter coragem para enfrentar a realidade cruel e concreta do dia-a-dia. Porque não há melhor opção senão enfrentá-la.