Toda narrativa é incompleta, inclusive, a religiosa (1 Co 13.12). O que vivemos, o que cremos, o que defendemos… são ações humanas diante do incontrolável mistério da vida. Isso não deve diminuir nossa vontade de lutar pelo que acreditamos, mas, pelo menos, poderia nos colocar em uma postura mais humilde e sensata.

Nossos dias estão encharcados por narrativas políticas sustentadas por meias verdades, fakenews ou mesmo mentiras completas. Quando mergulhamos um tênis limpo num balde de água suja, nossas pegadas ao calçá-lo inevitavelmente mostrarão as marcas da sujeira. De mesma forma, se mergulhamos no universo da mentira, nossas opiniões e raciocínios serão contaminados pelo mundo falso. Um abismo chama outro abismo (Sl 42.7).

A mentira é um espelho às avessas da verdade. Por isso, não é fácil discerni-la. O Senhor Jesus já profetizara sobre os “falsos profetas” (Mt 24.11). Paulo disse que o próprio diabo se disfarça de anjo de luz (2 Co 11.14).

Por vezes, na luta pela verdade, somos enganados justamente por isso: porque lutamos pela verdade e a confundimos com o disfarce da mentira. Como disse Eugene Peterson,

“Em geral, as mentiras não são falsidades gritantes. Para serem bem-sucedidas, elas precisam ser predominantemente verdadeiras”.1

Discernir não é uma capacidade humana, mas sim um dom divino (1 Co 12.10).  Portanto, para adquirir discernimento, preciso trilhar o caminho da oração. Por meio da oração, Deus vai abrir meus olhos para a compreensão da Sua Palavra e da realidade que me cerca. A partir disso, terei mais sensatez na hora de julgar as pessoas e causas. Não sou refém das narrativas dos homens, mas sim servo da Palavra de Deus.

Atenção! Nem sempre o espelho revela a verdade. Por vezes, é apenas um ângulo bonito de um rosto feio.

Nota:
1. PETERSON, Eugene. O Grande Banquete de Aleluias: o fim revela quem podemos ser. Editora Vida. São Paulo. Página 55. 

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