O poeta
O poeta suja as mãos
Com letras, rimas e estrofes
Cada uma delas, tem um cheiro próprio
Tem uma textura original
O poeta não suja as mãos
Com amor, compaixão, ira
Cada uma delas tem uma virtude própria
Tem um gosto original
O poeta é um sublime simplório
Descansa, descalço, à sombra da árvore
Vê o tempo passar
As pessoas circulando com seus afazeres,
Pintando a vida com o trabalho duro
O poeta, não. Ele não trabalha, desfruta.
O poeta é um santo,
Não pela perfeição moral – que não tem,
Mas pelo caminho separado que o conduz a lugares únicos
O poeta sonha pelo caminho perfeito na imperfeição da vida
O poeta é imperfeito,
Não pelas falhas espirituais – que as têm,
Mas pela confusão de sua própria existência que o (des)conduz a lugares sombrios
O poeta sofre pelo caminho imperfeito na perfeição da vida
O poeta é tudo, e é nada.
A poesia é nada, e é tudo.
EDUARDO
Jogo de palavras usando ‘poeta’ ora para oferecer penduricalhos banais, ora para dizer o que ele, que não é nenhum santo, é capaz de fazer. Poesia é algo que se escreve engajado, não há espaço neutro nem termos com características de opacidade.
As duas últimas linhas sua não passam de tautologia.
Sirva-se de um poeta, Lima Barreto, para melhorar seu deslizar na maionese, meu caro Lissânder. Este é engajado e permanece importante até hoje. Ou talvez Rubem Alves, que ainda fala e pontua para tirar do sono delirante raciocínios insossos como esse seu.
“Todo jardim começa com um sonho de amor.
Antes que qualquer árvore seja plantada
ou qualquer lago seja construído,
é preciso que as árvores e os lagos
tenham nascido dentro da alma.
Quem não tem jardins por dentro,
não planta jardins por fora
e nem passeia por eles…”
Infelizmente Elben, antes de falecer, resolveu passar um pito tardio no grande Alves. E, diga-se de passagem, sem conhece-lo. Está aí, nas páginas de ULTIMATO, leia. E levou outro pito.
Aprenda!