O Monstro
Vi sua grande boca e contei seus dentes:
458 visíveis
Seus olhos flamejantes traziam uma luz falsa
Parecia dia, mas era noite
Seus braços alcançavam os quatro cantos do mundo
E, por um momento, pensei que eu não tinha para onde ir
Sua risada transformava as flores em pálidas pinturas sem vida
Sua graça era sem graça
Sua desproporcionalidade me encolhia
Me sentia menor, menos gente
Mas uma voz me sussurrou:
“Não tenha medo;
É preciso saber exatamente quem ele é
Para que possa derrotá-lo”
Contei então novamente seus dentes
– muito mais que 458 —
Medi seu tamanho e sua temperatura
Ouvi seu coração
E quanto mais eu sabia, mais fraco ele ficava
E quanto mais eu olhava em seus olhos, mais ele se esquivava
De repente, o monstro era do meu tamanho,
Seus olhos eram frios, quase tristes
Sua boca muda, pequena
A miséria era sua companhia
E ele não sabia para onde ir.