Opinião
- 11 de abril de 2012
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Uma juventude protestante cosmopolita
A origem da Associação Cristã de Moços (ACM) remonta ao ano de 1844, em Londres, Inglaterra, quando um caixeiro de tapeçaria, George Williams, iniciou de forma modesta o esforço de assistir jovens necessitados. O contexto da segunda revolução industrial criou bolsões de miséria e desamparo para a população migrante dos campos. Nos Estados Unidos e Canadá, a partir de 1851, as associações se espalharam formando uma aliança com inúmeras sedes, sócios, patrimônio e capital. Diferentes grupos sociais, raciais e econômicos formaram associações, como estudantes, operários, indígenas, negros, militares e mercadores.
No Brasil, duas tentativas sem sucesso antecederam a criação da ACM quando foi formada oficialmente no ano de 1893. A primeira aconteceu em 1875 e a segunda em 1885. As dificuldades e os embates encontrados pelos brasileiros em torno das questões litúrgicas e doutrinárias foram superados quando da vinda do norte-americano Myron A. Clark. Assim, a ACM foi finalmente fundada depois de reunir jovens lideranças das duas principais igrejas do Rio de Janeiro, a Igreja Evangélica Fluminense e a Igreja Presbiteriana. Clark era secretário da Comissão Internacional das Associações Cristãs de Moços nos Estados Unidos.
A ACM foi uma espécie de entidade civil e religiosa que propagava um ideal de ser humano capacitado a viver o progresso de sua época. Por conta desta ideologia religiosa e secularizada, no Brasil ela promoveu o ensino semanal e gratuito de línguas estrangeiras e do próprio português, eventos culturais e de lazer, além de palestras de cunho moral e religioso, abertas ao público. Suas atividades visavam atrair jovens afetados pelos vícios, lhes conceder um espaço de sociabilidade e disseminar o Evangelho.
O discurso da ACM acompanhou a crítica do protestantismo aos costumes tidos como impuros e às manifestações da cultura identificadas como pecaminosas. A contingência da bebida e do fumo, as posturas corretas e o vestuário, a higiene pessoal e pública, a alimentação e o asseio doméstico eram enunciados que faziam parte das falas e das ações dos serviços públicos do período republicano nascente. Havia um ideal de cristão jovem urbano, puro, trabalhador, moralmente responsável, saudável, esportista e intelectualizado.
A ACM foi uma das poucas entidades no Brasil que, neste período inicial da república brasileira, estimulava o exercício corporal como atividade lúdica e de aperfeiçoamento do caráter, juntamente com as escolas protestantes que incluíram a educação física no seu currículo. O puritanismo da entidade contrastava com as formas culturais nativas, mas recolocava outras formas culturais de vida mais adequadas à modernidade. Projetou um ideal de juventude que fosse o mesmo em qualquer parte do mundo, munido de valores morais e religiosos, educado e saudável, cidadão protestante e cosmopolita.
O projeto da ACM no Brasil foi elitista, distante das questões sociais e políticas e, principalmente, das camadas mais carentes da sociedade, meio e ambiente de onde e para onde surgira com George Williams. Contudo, a ACM foi um espaço de sociabilidade para lideranças jovens eclesiásticas e leigas que despontariam no cenário protestante brasileiro. Suas atividades culturais e religiosas serviram para formar uma geração de lideranças engajada em compreender o protestantismo e a sua relação com a cultura brasileira.
Alguns números registraram as atividades da ACM nos anos de 1901 e 1902:
Fontes:
SANTOS, Lyndon de A. As outras faces do sagrado: protestantismo e cultura na primeira república brasileira. São Luis: EDUFMA; São Paulo: Ed. ABHR, 2006. Pp. 191 a 195.
Jornal da ACM – Órgão Mensal da Associação Christã de Moços – Anno V – Rio de Janeiro, Janeiro de 1903 – No. 157.
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Quem são, o que pensam e o que fazem os jovens evangélicos
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Políticas públicas... da juventude?
No Brasil, duas tentativas sem sucesso antecederam a criação da ACM quando foi formada oficialmente no ano de 1893. A primeira aconteceu em 1875 e a segunda em 1885. As dificuldades e os embates encontrados pelos brasileiros em torno das questões litúrgicas e doutrinárias foram superados quando da vinda do norte-americano Myron A. Clark. Assim, a ACM foi finalmente fundada depois de reunir jovens lideranças das duas principais igrejas do Rio de Janeiro, a Igreja Evangélica Fluminense e a Igreja Presbiteriana. Clark era secretário da Comissão Internacional das Associações Cristãs de Moços nos Estados Unidos.
A ACM foi uma espécie de entidade civil e religiosa que propagava um ideal de ser humano capacitado a viver o progresso de sua época. Por conta desta ideologia religiosa e secularizada, no Brasil ela promoveu o ensino semanal e gratuito de línguas estrangeiras e do próprio português, eventos culturais e de lazer, além de palestras de cunho moral e religioso, abertas ao público. Suas atividades visavam atrair jovens afetados pelos vícios, lhes conceder um espaço de sociabilidade e disseminar o Evangelho.
O discurso da ACM acompanhou a crítica do protestantismo aos costumes tidos como impuros e às manifestações da cultura identificadas como pecaminosas. A contingência da bebida e do fumo, as posturas corretas e o vestuário, a higiene pessoal e pública, a alimentação e o asseio doméstico eram enunciados que faziam parte das falas e das ações dos serviços públicos do período republicano nascente. Havia um ideal de cristão jovem urbano, puro, trabalhador, moralmente responsável, saudável, esportista e intelectualizado.
A ACM foi uma das poucas entidades no Brasil que, neste período inicial da república brasileira, estimulava o exercício corporal como atividade lúdica e de aperfeiçoamento do caráter, juntamente com as escolas protestantes que incluíram a educação física no seu currículo. O puritanismo da entidade contrastava com as formas culturais nativas, mas recolocava outras formas culturais de vida mais adequadas à modernidade. Projetou um ideal de juventude que fosse o mesmo em qualquer parte do mundo, munido de valores morais e religiosos, educado e saudável, cidadão protestante e cosmopolita.
O projeto da ACM no Brasil foi elitista, distante das questões sociais e políticas e, principalmente, das camadas mais carentes da sociedade, meio e ambiente de onde e para onde surgira com George Williams. Contudo, a ACM foi um espaço de sociabilidade para lideranças jovens eclesiásticas e leigas que despontariam no cenário protestante brasileiro. Suas atividades culturais e religiosas serviram para formar uma geração de lideranças engajada em compreender o protestantismo e a sua relação com a cultura brasileira.
Alguns números registraram as atividades da ACM nos anos de 1901 e 1902:
Atividades | Total em 1902 | Mês de Dezembro | Total em 1901 | Mês de Dezembro |
Assistência Diária | 1060 | 35 | 1180 | 38 |
Conferências Dominicais | 172 | 43 | 143 | 29 |
Conferências Populares | 70 | 70 | - | - |
Reuniões de Oração | 46 | 11 | 45 | 11 |
Reuniões Sociais | 106 | 26 | 237 | 59 |
Aula Bíblica | 23 | 11 | 38 | 10 |
Aulas Noturnas | 173 | 11 | 170 | 7 |
Reunião de Vigílias | 180 | - | 80 | - |
Fontes:
SANTOS, Lyndon de A. As outras faces do sagrado: protestantismo e cultura na primeira república brasileira. São Luis: EDUFMA; São Paulo: Ed. ABHR, 2006. Pp. 191 a 195.
Jornal da ACM – Órgão Mensal da Associação Christã de Moços – Anno V – Rio de Janeiro, Janeiro de 1903 – No. 157.
Leia mais
Quem são, o que pensam e o que fazem os jovens evangélicos
Ultimato Jovem
Políticas públicas... da juventude?
Lyndon de Araújo Santos é historiador, professor universitário e pastor da Igreja Evangélica Congregacional em São Luís, MA. Faz parte da Fraternidade Teológica Latino-americana - Setor Brasil (FTL-Br).
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