Opinião
- 12 de agosto de 2022
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O ministério do copo d'água
Por Ivan Abreu Figueiredo
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Em uma tocante passagem do evangelho, Jesus afirma não se esquecer de quem tenha feito o pequeno gesto de ofertar um copo de água fria ao sedento. Essa passagem nos convida a pensar em sua amplitude e profundidade de aplicações. É simples, profunda, desafiadora. Nos desafia a uma sensibilidade maior para com as sedes das pessoas a nosso redor, tanto de água quanto de reafirmação, ânimo, ajuda. É um xeque-mate na distração e indiferença que tantas vezes nos caracteriza em nossa caminhada. Um lembrete da necessidade de retirar as escamas de nossos olhos para sermos menos egocêntricos.
Outra linda dimensão aqui é a da simplicidade do estar presente, sem alarde, com gestos simples. E aí a gente se alegra por existir o espaço generoso tanto nas cortesias e atenção de rotina quanto nos gestos extravagantes como o da mulher que derramou um pote caríssimo de perfume sobre Jesus. A Escritura expondo a infiltração bendita da bondade em pequenos atos que podem virar costume e em rasgos que detonam a rotina apontando para a liberdade do e no Espírito. Tudo de fato começa aqui em nossa sensibilidade em relação ao outro.
Há ainda o aspecto do uso deliberado e consciente do que temos e somos para abençoar pessoas. Nosso copo d"água compartilhado pode ser exatamente o que alguém precisa em determinado dia e hora. Pode ser a evidência de estarmos no caminho estreito e certo daqueles que resolvem usar seus relacionamentos e posições, aproveitando-os como oportunidades de fazer o bem, fazer diferença. Na contramão da triste tendência de usá-las em benefício próprio, versão explícita do "homo interesseirus" que não devemos ser.
Há ainda o contraste entre o pequeno gesto (dar um copo d"água fria) e suas dimensões eternas na ótica do Pai, um chamado a reconhecer nossas visões limitadas das coisas e da vida, bem abaixo dos pensamentos do Onisciente.
Devo à minha esposa Jacira o chamado a essa reflexão, por ter adotado em casa uma prática que não me ocorreria: a de oferecer um copo d"água a todos os entregadores que vêm aqui. A percepção dos pequeninos mencionados pelo Mestre nessa passagem é exemplificada nas reações deles: alguns se retraem na negativa, tímidos; outros o recusam com o jeito de quem não está com sede agora, outros nos brindam com uma luz alegre no olhar, aceitam esse alívio do calor de São Luís adicionado ao suor das corridas de moto com os fardos de comida nas costas. Outros relaxam mais, ao ponto de não rejeitar o segundo copo d"água que ela me ensinou a oferecer com a pergunta: "Aceita um pouco mais?".
Nessa pequena rotina, um resgate do contemplativo que me falta e está mais naturalmente presente nela. A alegria de, como ela diz, revestir de dignidade uma pessoa que está lutando arduamente pela sobrevivência.
O copo d"água retornando benção a quem o deu. O gosto geladinho de ter a sede mitigada um alívio bem vindo para quem o recebe.
E fico a pensar em tantos que têm sede sem coragem ou abertura de pedir um copo d"água, subproduto cruel da exclusão social que nos divide e discrimina. Aí o copo d"água nos arremessa para a afirmação triunfante do apóstolo Paulo, segundo a qual as diferenças de gênero, nacionalidade e posição social são detonadas pela vivência de sermos irmãos em Cristo.
Termos nossos preconceitos reconhecidos, confessados e trabalhados. Há muito a fazer em nossas vidas, muito a crescer em obediência ao Pai e no aprender a ser gente.
Gratidão por tantas lições de um copo d"água, pelo seu chamado a usarmos o que temos e somos para abençoar pessoas, incluindo nós mesmos. E sairmos da experiência com a alegria despretensiosa de não estarmos fazendo nada de mais.
JESUS – SINGULAR, SUPERIOR, SUFICIENTE | REVISTA ULTIMATO
Jesus – tal como revelado nas Escrituras – está sendo deixado de lado em muitas igrejas. É necessário um esforço para chamar atenção sobre isso. A fé e a vida cristã autênticas têm como base a centralidade de Jesus Cristo. Não existe cristianismo sem Cristo. Na intenção louvável de ser relevante, podemos cair na tentação de fazer concessões desfigurando o evangelho, por exemplo. Somos também tentados a diminuir as exigências éticas e morais do evangelho, desobrigando-nos das decorrências naturais da mensagem e da obra de Cristo.
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Ivan Abreu Figueiredo, médico, professor universitário, membro da Igreja Batista Plenitude, São Luís, MA.
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