A caminhada da Judéia a Samaria deve ter durado a manhã inteira. Percurso a pé, sob o sol cada vez mais forte. Jesus estava “cansado da viagem” e com sede (Jo 4.6,7), talvez também suado e empoeirado. Então, ao meio-dia, Ele se assentou junto ao poço de Jacó para descansar as pernas e beber um copo d’água. O poço era fundo, quem sabe de uns 30 metros ou mais, e nunca ficava sem água, desde os tempos do patriarca Jacó, que vivera por ali cerca de 2.000 anos antes. A menos de mil metros adiante ficava o famoso monte Gerizim, de onde as bênçãos da obediência eram pronunciadas sobre o povo (Dt 11.29).

Apesar do cansaço, da sede e da fome (os discípulos ainda não tinham chegado com os alimentos comprados na cidade), Jesus iniciou uma longa e sábia conversa com a mulher samaritana que fora apanhar água do poço. Era uma senhora infeliz na vida conjugal, que tinha um histórico sentimental muito complicado. Já tivera cinco maridos e então vivia com outro homem.

Essa mulher precisava de orientação, apoio e mudança. Ela tinha uma sede interior muito grande, que nem a água do velho poço, nem as sucessivas aventuras amorosas, nem as lembranças nostálgicas do antigo templo do monte Gerezim, destruído cerca de 150 anos antes, lá pelo ano 128 antes de Cristo, não podiam satisfazer. E o Jesus “cansado da viagem” se revelou a ela como o Messias, chamado Cristo, que estava para vir, e lhe deu a “água viva” — aquela água misteriosa que mata a sede interior e ainda jorra para a vida eterna (Jo 4.1-26).

Texto originalmente publicado na edição 288 de Ultimato.

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