Opinião
27 de junho de 2018
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Debaixo da nuvem, há raios de luz no Rio de Janeiro
Dois jornalistas aceitaram o convite de Ultimato para colocar em evidência ações de pessoas e organizações no Rio de Janeiro, estado campeão de presença negativa nos noticiários diários. Elsie Gilbert conta histórias inspiradoras de proclamação e Marcelo Santos relata o cotidiano de Provetá, em Angra dos Reis, lugar que recebeu a alcunha de “Ilha dos Crentes”.
Proclamação genuína, não mofada
Por Elsie Gilbert
Na primeira reunião anual da revista Mãos Dadas, há quase dezoito anos, o pastor Elben César, fundador de Ultimato, trouxe-nos uma devocional baseada neste verso: “Em tudo vos dei o exemplo de que, assim trabalhando, é necessário socorrer os fracos e vos lembrar das palavras do Senhor Jesus, porquanto ele mesmo disse: Coisa mais bem-aventurada é dar do que receber” (At 20.35).
Essas palavras de Paulo foram proferidas no momento em que ele se despedia dos líderes da igreja de Éfeso, que tinham atendido ao seu convite para encontrá-lo em Mileto, porto pelo qual Paulo passaria a caminho de Jerusalém. Muito consciente de que o futuro lhe reservava “cadeias e tribulações”, Paulo disse: “Agora, eu sei que todos vós, por entre os quais passei proclamando o reino, não vereis mais a minha face”, numa das cenas mais comoventes de Atos.
O pastor Elben ressaltou que, entre essas palavras, Paulo incluiu uma exortação ao cuidado com os mais vulneráveis. A fala completa de Paulo nessa despedida demonstra que para o apóstolo não há anúncio do reino sem proclamação e não há proclamação sem demonstração de amor.
Em visita recente ao Rio de Janeiro, vi ali muita proclamação. Não me refiro à pregação vazia e mofada, uma carga pesada imposta sobre os ombros dos ouvintes. Vi proclamação genuína, à altura dos padrões do apóstolo Paulo. São como pequenos feixes de luz anunciando dias ensolarados.
Proclamação longeva

Proclamação curadora

Proclamação corajosa

No muro, do lado de fora, foi pintado um mural com caricaturas alegres e festivas. Na parte do muro em que ficou um espaço em branco foram pichados nomes e a palavra “saudades”. Esses nomes formam um memorial singelo em honra aos seis adolescentes mortos no ano passado em tiroteio com a polícia. A coordenadora do projeto, Adriane, apontando o muro, disse: “Onde a luz chegou, o muro ficou bonito. Ela precisa alcançar o muro todo!”.
Proclamação participativa

Enquanto conversávamos, acontecia no campinho da associação a escolinha de futebol com professor formado em educação física. Um número significativo de adultos observavam seus filhos e netos dedicando-se a essa paixão nacional. Tudo feito com muito respeito e seriedade.
Dona Maria Moreira, 74 anos, líder comunitária e membro do grupo gestor do PDA Comunhão, resumiu assim o motivo de seu envolvimento, que já passa dos trinta anos, na comunidade: “Faço isso por causa do evangelho. É o amor pelo evangelho que se traduz em amor pelo meu próximo. É isso que me mantém na luta”.
Dona Maria Moreira, assim como tantos no Rio de Janeiro – invisíveis, porém incrivelmente relevantes –, obedece fielmente às exortações de Paulo em sua despedida dos líderes em Éfeso. A maldade e corrupção sistêmica e histórica que assolam o Rio de Janeiro se originam daquele que busca “matar, roubar e destruir”. No entanto, esses homens e mulheres de Deus teimam em anunciar dias ensolarados para uma cidade que continua maravilhosa e, por que não dizer também, amorosa?
• Elsie Gilbert é jornalista e editora do blog da Rede Mãos Dadas.
* * * * *
A ilha dos crentes
Por Marcelo Santos
Cerca de vinte quilômetros separam a cidade de Angra dos Reis, no sul do Rio de Janeiro, até a Praia de Provetá, na Ilha Grande. Um percurso que só pode ser vencido pelo mar, numa viagem que ladeia o “temido” costão do Itassucê, um conjunto rochoso onde as ondas se embaralham nos dias de mar revolto, mas que ganha calmaria logo ao se ler as boas-vindas estampadas em tinta branca nas pedras: Bem-vindos. Jesus te ama. “É um lugar diferente. De sossego e paz”, explica o barqueiro evangélico Evilázio Cardozo Ayres, 28 anos. Três vezes por semana é ele quem leva e busca moradores e turistas da ilha ao continente em sua embarcação, chamada “Senhor, obrigado”. Um percurso de cerca de duas horas a cada travessia.
Membro da Assembleia de Deus, ela passou meses pesquisando sobre as origens do povoado para apresentar uma peça de teatro em comemoração aos 80 anos da igreja, celebrados em 2015. Transformou-se então numa espécie de historiadora não oficial do local. “Mas não foi só isso. Outro milagre decisivo foi quando o então sacristão que vivia aqui, na época que Dioclécio chegou, ficou gravemente doente.”
Causos, ou melhor, testemunhos de milagres, são rotineiros pelas pequenas vielas onde placas com versículos bíblicos enfeitam os portões das casas e as músicas evangélicas estão sempre nos aparelhos de som. Um deles, no entanto, tornou-se assunto principal no vilarejo desde o fim do ano passado. A pesca da sardinha, principal pescado da região de Angra dos Reis, havia despencado brutalmente. Era um drama que vinha desde 2016, quando as redes dos pescadores recolheram quase três vezes menos peixes que no ano anterior. E, em 2017, o número caiu para 4,6 mil toneladas no primeiro semestre, bem menor que as 42,3 mil toneladas de pescados retirados do mar em 2015. Decidiram convocar um dia de jejum e oração na igreja. “Das seis da manhã até o fim do dia a gente se reuniu”, relembra o pescador Manoel Gonçalves Filho, 57, conhecido como seu Manoelzinho.
• Marcelo Santos é jornalista e escritor.
Nota: Conteúdo publicado originalmente na revista Ultimato, edição maio-junho de 2018.
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