Por Pedro Paulo Valente

Inquietação, preocupação e ansiedade — estes são sinônimos para descrever o mal que atormenta nossa geração pós-moderna. Nossos dias estão mais curtos, a quantidade de informações a que estamos expostos é assombrosamente grande, a competição extrapola o ambiente profissional e se manifesta em todos os nossos relacionamentos. Por fim, numa era em que o relativismo sucumbe com o absolutismo, a incerteza toma conta da nossa mente.

Não é de se estranhar que a exposição contínua a essas situações de estresse nos cause desconforto. Lembro-me da advertência de Jesus no Sermão do Monte: “Busquem, pois, em primeiro lugar o Reino de Deus e a sua justiça, e todas essas coisas lhes serão acrescentadas. Portanto, não se preocupem com o amanhã, pois o amanhã trará as suas próprias preocupações. Basta a cada dia o seu próprio mal” (Mt 6.33-34). Ao contrário do que muitos pensam, as palavras de Jesus não têm a função de amenizar nosso desconforto por viver no século 21; elas nos desafiam a não nos conformarmos com a mentalidade deste século.

Enquanto o ritmo dos nossos dias tende a levar a pessoa a um estado de ansiedade que resulta num olhar essencialmente egoísta e individualista da realidade que a cerca, Jesus propõe viver o dia de hoje sem antecipar as preocupações que estão por vir. Ele nos adverte a priorizar o reino de Deus e a manifestação de sua justiça, no exercício da fé na providência divina.

Jesus não está relegando o dia de amanhã à sorte, ou a um estilo de vida irresponsável; em vez disso, está trazendo à memória que o andar preocupado não acrescenta esperança a nossa existência. Deus é pessoal e tem pleno conhecimento das nossas necessidades. Até a natureza testemunha do seu cuidado — basta olhar para as aves do céu e para os lírios do campo.

Ao mesmo tempo, somos lembrados de que temos uma identidade. Não vivemos exclusivamente para nossas satisfações, mas para a promoção do reino de Deus. Por exemplo, andamos tão preocupados conosco que negligenciamos a atenção devida ao nosso próximo. Essa é uma situação corriqueira, capaz de nos tornar insensíveis às necessidades de nossos irmãos. Ao contrário do que se pensa, o olhar para si mesmo não traz contentamento, e sim uma busca egoísta e insaciável por prazer. Para combater este mal é primordial investir tempo em relacionamentos, pois só assim estaremos aptos a olhar para as necessidades daqueles que nos cercam.

Não é exagero lembrar que o próximo ao qual o texto se refere não se limita aos irmãos da igreja que frequentamos, mas é abrangente a toda a humanidade. Daí a urgência em promover o reino de Deus e sua justiça entre todos aqueles que estão distantes do evangelho.

Aquietai-vos, fiquem tranquilos e parem de lutar — estes são sinônimos para descrever a reação que Deus espera de seus filhos frente às turbulências de nossos dias. Lembrem-se de que o Senhor está conosco, ele é o nosso refúgio (Sl 46.11). Cabe a nós não desanimar diante dos desafios da nossa geração e manter a proclamação do evangelho de Jesus, seja com palavras, seja com o testemunho da nossa vida.

Publicado originalmente na edição 318 da Revista Ultimato.

Pedro Paulo Valente é casado com Liz, tem 41 anos e é engenheiro de alimentos. É pastor da Igreja Presbiteriana de Viçosa.


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