Por Daniela Piva

No ano passado, eu levei um bom susto. Como uma mulher morando sozinha em uma casa na cidade de São Paulo, acordei no meio da noite com barulhos de alguém arrombando a porta da casa vizinha. No final do susto, tudo ficou aparentemente bem: a polícia veio, a pessoa já tinha fugido e a minha vizinha não estava em casa naquela noite. Graças a Deus.

No entanto tudo ficou apenas aparentemente bem porque por semanas eu não consegui dormir muito bem. Finalmente, em um dos domingos que fui presencialmente à igreja, compartilhei com bons amigos – que me conhecem há pelo menos 20 anos – o ocorrido e como a insônia me acompanhara. Muitos desses amigos foram meus professores de escola dominical quando criança e foi muito especial receber o carinho deles enquanto impuseram as mãos sobre mim e oraram para que eu me sentisse protegida. Um abraço em meio às máscaras trouxe grande alívio ao meu coração, e me senti muito bem cuidada. Pensei como era gostoso ter essa família de fé, família que acolhia minhas lágrimas. Ter esse abraço que é um abraço de Deus através de seus filhos. Uma das minhas amigas até se ofereceu de dormir na minha casa – eu a considero com muito carinho como uma outra mãe que a igreja me deu.

Essa grande família que me viu crescer e que hoje me vê “adultescer”. Que privilégio meu tê-la, não é?

Nesse mesmo dia, recebi uma ligação do Oriente Médio. Era de uma das mulheres a que dei apoio psicológico enquanto ela estava em busca de uma nova cidadania no Brasil, o que acabou não dando certo e, por isso, ela decidiu retornar. Ela me contou como estava sendo difícil fazer amigos. Um relato que já escutei muitas vezes. É verdade que é complicado fazer amigos na idade adulta. É preciso muita, muita intencionalidade.

Parecia que não importava o que fizesse, ela não se sentia pertencente. Ao telefone, ela falou que já perdeu a esperança de se sentir em casa novamente, cortando meu coração com seu relato. Sentir-se em casa é para quem tem família e como ela não tem mais família – já que por vir de uma família muçulmana ao converter-se a Cristo ela precisou fugir de sua família –sente que não há casa para ela em lugar algum.

Ela me contava como nesse tempo em que retornou ao seu país ainda estava tendo dificuldade para encontrar bons amigos. Conversamos, pensamos juntas e bolamos alguns planos para que ela pudesse desenvolver amizades com pessoas à sua volta. Ir a uma igreja presencialmente para ela, infelizmente, é muito arriscado nesse momento, então essa não é uma opção.

Eu gostaria muito de poder dizer que esse relato de se sentir só é apenas dela.

Mas a verdade é que não é. Quem não se sentiu só nessa pandemia nem que seja por apenas alguns minutos?

Eu sei que eu me senti e penso que, talvez, a sua resposta também seja sim. Mas, no final das contas, você e eu podemos ir à igreja presencialmente, podemos encontrar as pessoas, dar nosso toquinho de mãos, louvar juntos, conversar e sentir essa parceria, essa amizade que floresce nesse lugar onde Cristo é o centro. Podemos sentir que temos uma família estendida que a igreja se torna – e que lindo poder tê-la! Não há nada que substitua a comunhão gostosa dos irmãos que são de formas diferentes, de cores diferentes, de gostos diferentes, mas que ao louvarem ao Criador juntos, são todos iguais, se tornam um só. Para mim é uma representação clara do que será o céu.

É um privilégio nosso ir à igreja, é bom ter com quem compartilhar, é bom ter com quem se relacionar, é bom ter com quem orar, é bom ter a quem confessar. E quando a gente vai à igreja, de certa forma, também honramos os irmãos como a mulher de que falei acima, honramos os irmãos que não podem ir, os irmãos que são perseguidos.

Eu sei que com a pandemia muita gente deixou de frequentar a igreja e talvez tenha se esquecido de quão bom é ter essa família divina. Mas o meu convite é para você tentar mais uma vez, e com certeza encontrará que no fundo seu coração que estava com saudades. A presença de Deus se manifesta na comunhão.

Eu fiquei fora da cidade em janeiro e por boa parte de fevereiro e sei que estou com saudades. Eu também vou à igreja neste domingo e espero encontrar toda a conexão que como brasileira tenho privilégio de ter. O primeiro domingo da quaresma, no dia 6 de março, foi um momento de refletir, de voltar meu olhar para o que eu preciso me arrepender, o que preciso de perdão, o que eu preciso perdoar também. O melhor momento para seguir a liturgia do calendário cristão e então celebrar com meus irmãos que Jesus vive. Vamos à igreja, então?

  • Daniela Piva, aprendiz de seguidora de Jesus.

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