Ult_jovem_09_10_15_altos-paposPor Frederico Rocha

O modo de vida urbano afeta de modo indelével a nossa realidade. Isso ocorre devido às transformações causadas no ambiente natural com a construção da infraestrutura típica das cidades — ruas, avenidas, indústrias, comércios, hospícios, shoppings, igrejas, hospitais, escolas, teatros, cinemas, bares, restaurantes. Os grandes centros no Brasil, caracterizados pela desigualdade extrema e pela expansão desgovernada, preenchem os nossos dias de intensas contradições.

No meio da multidão cada um de nós procura encontrar sentido para uma vida que valha a pena. E tudo isso produz efeitos profundos na alma. De um lado, muitos jovens abraçam um estilo de vida de “plástico”, tornando-se mera estatística no mercado consumidor. Ou se sacrificam de todo o coração, comprometendo a subjetividade para alcançar as metas capitalistas da empresa em que trabalham. De outro lado, jovens inconformados com as injustiças sociais rejeitam o estilo de vida naturalizado pela massa e se associam aos seus pares, formando guetos na luta por um estilo de vida alternativo, muitas vezes, visando à transformação e à revitalização das cidades.

Contudo, independente do lugar que ocupamos nessa estrutura social, invariavelmente, nossas relações sociais se tornam cada vez mais impessoais e quantitativas. Tratamos as pessoas como coisas, e as coisas, como pessoas. De fato, a cidade e o modo de vida urbano, que na concepção moderno-iluminista é tratado como sinônimo de liberdade, não têm cumprido suas promessas. Para encontrar significado no meio desse turbilhão, buscamos a afirmação da nossa personalidade e individualidade.

Nesse contexto torna-se um grande desafio olhar para a igreja como um espaço de engajamento do jovem. Fala-se aqui não de uma igreja idealizada, a “Igreja invisível, mas da “Igreja visível, que se manifesta no tempo e no espaço, em congregações locais, que se organizam para amar a Deus e o próximo, composta por homens, todos falhos, santos e pecadores.

Infelizmente, muitos jovens ao olharem para as igrejas no local onde vivem sentem-se desanimados e afirmam ter “preguiça” de se envolver; gastam o tempo relacionando-se com pessoas da igreja que não compreendem a realidade em que estão inseridos. Isso pode ser fruto de uma organização eclesiástica hierárquica, com lideranças autoritárias e centralizadoras, sem disposição para dialogar. Aqueles que adotam tal estilo de liderança, mesmo com boas intenções, acabam assumindo um modelo capitalista-empresarial de igreja, no qual os jovens que não se encaixam no perfil desejado perdem espaço e deixam de ser ouvidos, tornando-se membros apáticos ou até mesmo abandonando a igreja.

Entretanto, como jovem, é necessário pedir a Deus discernimento. Ter em mente que como homens sempre enxergamos a realidade de modo embaçado. Também somos falhos e imaturos. Mesmo assim, Jesus nos chama a ocupar o nosso espaço na igreja local, amando, servindo e aprendendo com as pessoas de todas as faixas etárias. Precisamos lembrar que a igreja está a serviço da “missio Dei” e não dos nossos projetos de realização individual. Temos de ter cuidado para não cair na tentação de querer transformar a Igreja segundo a nossa vontade numa tentativa desesperada de afirmação da nossa personalidade no meio da multidão. “Jovens, eu lhes escrevi, porque vocês são fortes, e em vocês a Palavra de Deus permanece e vocês venceram o Maligno” (1Jo 2.14).

Nota:
Artigo publicado originalmente na seção Altos Papos, da edição nº 351 da Revista Ultimato.

• Frederico Rocha, 30 anos, cientista social e professor, é membro da Igreja Cristã Evangélica Central de Goiânia, GO.

 

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