Por Jeferson Cristianini

A pandemia provocou muitas mudanças. Com a chegada da pandemia, o processo de digitalização foi acelerado. As instituições que não tinham uma presença digital foram forçadas a se adaptar. Muitos comércios que estavam acostumados a lidar com os clientes no balcão tiveram que investir nas mídias digitais e nas redes sociais para poder vender seus produtos. E com a retomada das atividades comerciais, os lojistas viram que terão que dar atenção ao público digital independentemente da loja aberta ao público. A pandemia, que exigiu de todos nós o distanciamento social, pediu que houvesse alternativas para o consumo. Na pandemia aprendemos, mesmo que forçadamente, a comprar alimentos, roupas, produtos diversos, medicamentos. Fomos forçados a lidar com nossos médicos por meio do teleatendimento; a consulta virtual já está em curso. Tivemos que aprender a lidar com nossa conta bancária por meio dos aplicativos. Aliás, nesse tempo tivemos que baixar inúmeros aplicativos para que pudéssemos ter os serviços básicos mantidos. As próprias instituições do governo foram para a “digitalidade”. O Detran, por exemplo, agora é quase que totalmente digital. Foi por meio do formato digital que fizemos o cadastro para receber a vacina contra a Covid-19.

As igrejas como instituições religiosas foram profundamente impactadas pela pandemia, pois a reunião eclesial é um ajuntamento de pessoas, e assim foi caracterizado como aglomeração. Enquanto muitos reclamaram do rótulo que a igreja recebeu como local de aglomeração, particularmente, fiquei feliz, pois a igreja é, e deve continuar sendo caracterizada como uma aglomeração de pessoas. Aglomeração de pecadores dependentes da graça de Deus. A Bíblia diz que somos “povo de Deus”, somos um ajuntamento de pessoas que foram alcançadas pela graça de Deus, e nós, na nossa individualidade, somos chamados à comunhão com os santos. A igreja é, em essência, uma aglomeração de salvos que se reúnem para, juntos, prestar culto público a Deus, e dessa forma, valoriza o encontro presencial. As celebrações cristãs sempre foram vistas como um ajuntamento de comunhão da comunidade cristã. É claro, e sabemos disso, que a igreja não é o templo, mas o templo acolhe a igreja. A igreja somos nós. Nós somos o templo do Espírito Santo, e nos reunimos como corpo de Cristo naquela localidade onde a igreja local está plantada.

Há muitas discussões de como será a igreja pós pandemia, e muitos “achismos”. Em um mundo que está cada vez mais digital, onde somos um número de um CPF ou o número do nosso aparelho celular ou o IP do computador, a igreja terá que mostrar sua relevância focando nos relacionamentos. A “digitalidade” está produzindo, ou agravando, a solidão e o distanciamento das pessoas, e a individualidade infelizmente é uma das marcas de nosso tempo, e a igreja precisará ser desafiada a suprir a demanda emocional e relacional do povo, e ser um marco referencial de relacionamentos profundos com Deus e com o nosso próximo.

Para o momento que vivemos da pandemia, e já pensamos no pós-covid, teremos que lidar uma igreja híbrida. Igreja híbrida, uma igreja digital on-line e um grupo presencial. Parece que pelo menos nesse tempo de retomada das atividades presenciais da igreja, algumas pessoas não voltarão por diversos momentos, mas que permanecerão acompanhando os cultos pelo formato digital. Além do povo já alcançado pela igreja no período da quarentena da pandemia, de mais de um ano e meio, a igreja também ficou na “vitrine digital”, e dessa forma, alcançou muitas novas pessoas. A igreja viverá sim, na realidade híbrida, com uma participação digital nos cultos e com outro grupo presencial, e a igreja terá que criar mecanismos e buscar estratégias para fidelizar as pessoas “do digital” para o presencial, uma vez que a igreja sugere relacionamentos e encontros.

Para um mundo cada vez mais digital, mais focada nas telas, a igreja precisará ser um reduto de relacionamentos. A igreja não poderá focar nos “eventos”, “programações”; terá que descartar o entretenimento, focando no discipulado marcado pelos relacionamentos. Por um lado, a igreja precisará reforçar e ensinar novamente que o discipulado cristão é a fermenta de Deus para nosso crescimento, e por outro, os líderes precisarão ter um grande desprendimento na direção do cuidado das pessoas e levá-las a buscar um relacionamento profundo com Deus, com suas famílias, com sua igreja local e com sua sociedade local. As pessoas estão carentes de amizade, de relacionamentos profundos, de ambiente afetuoso e espiritual para que possam crescer e ser desafiadas a amar mais a Deus. Oro para que a saudade dos irmãos e dos encontros e celebrações gerem um compromisso relacional com Deus e com os nossos irmãos. Oro para que pastores-líderes-professores repensem a forma de transmitir os ensinamentos bíblicos, e estudem para aprender a ter relevância digital com o foco de alcançar mais pessoas, mas também, para que pastores-líderes-professores sejam cristãos relacionais marcados pelo diálogo, pelo afeto e pela espiritualidade cristã saudável.

Como pastor de uma igreja local, olho para as minhas realidades locais e pelos desafios que me cercam, e peço que Deus oriente a igreja local onde sirvo, assim como as demais igrejas locais espalhadas pelo nosso país e pelo mundo. Mas, como pastor, sei que serei desafiado a ser um pastor diferente, um pastor bíblico focado no cuidado pastoral, visando o crescimento pessoal dos salvos e com o avanço do reino. É claro que essas minhas percepções podem estar desfocadas ou equivocadas, e dessa forma, peço que Deus me oriente e guie os demais pastores e líderes no cuidado do rebanho de Deus. Que Deus tenha misericórdia de Sua Igreja, e das congregações locais para os desafios da pandemia e do pós-pandemia. Descanso meu coração na presença de Deus sabendo que o Senhor é Soberano e Poderoso. A Igreja do Senhor é guiada por Deus. Jesus ao instituir Sua igreja usou o pronome possesivo “minha” igreja. O apóstolo Pedro nos lembra dizendo que a igreja é “raça eleita, sacerdócio real, nação santa, povo de propriedade exclusiva de Deus” (1 Pedro 2:9). Isso aquieta nosso coração e nos leva ao quebrantamento e dependência do Senhor. Que Deus guie os pastores e líderes em cada contexto e as igrejas locais em seus desafios durante a pandemia e no pós-pandemia. Amém!

  • Jeferson Rodolfo Cristianini é pastor da Igreja Batista Nova Canaã Sorocaba.

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