Por Irislene Silveira de Paiva

O amor não é egoísta e para que não tenhamos a falsa sensação de que somos bons simplesmente porque fazemos um ato de caridade é fundamental refletirmos constantemente sobre a real motivação de nossas ações.

Invasão zumbi é um filme sul-coreano, produzido no ano de 2016 pelo diretor Yeon Sang-ho. O filme mostra o drama de pai e filha que partem numa jornada de trem angustiante para tentar chegar numa única cidade que ainda não havia sido afetada por uma epidemia de zumbis. O filme vai muito além de retratar uma história de ação e zumbis, mas é capaz de levar os espectadores a se emocionarem ao trazer reflexões sobre a vida e o questionamento sobre quem são os verdadeiros monstros da história.

O roteiro mostra as diferentes reações humanas perante um momento de desespero, expondo o vilão, “monstro” do filme, mas também os “vilões” humanos, dos quais faremos uma breve análise.

Em meio ao pânico, o pior lado das pessoas vem à tona, deixando evidente o egoísmo e o individualismo de cada um. Assim como esperado, logo no início do filme, vemos pessoas que se importam apenas consigo mesmas e que não hesitam em passar por cima das outras na busca pela sobrevivência. Em diversos momentos do longa, os espectadores são tentados a duvidar se os personagens humanos são realmente melhores do que os zumbis. Felizmente, alguns poucos deles são capazes de abrir mão de sua própria segurança para tentar salvar os outros.

No entanto, o que essas cenas revelam sobre mim e sobre você? O filme traz reflexões sobre algumas questões: Quem nós seríamos nessa situação? Você se colocaria em risco para salvar o seu próximo?

Acredito que dificilmente nos depararíamos com uma situação de vida ou morte, como essa. Talvez, mais importante do que refletir sobre quem você seria em meio a um apocalipse zumbi, é refletir sobre quem você é no dia a dia. Não é preciso ter um aparente fim do mundo para observarmos que o individualismo e o egoísmo são tão evidentes em nossa sociedade.

Um dos personagens retratados no filme é um mendigo. Quando todos estão preocupados com a própria sobrevivência, não é de se admirar que ele provavelmente seria um dos últimos candidatos a receber piedade das outras pessoas. Se as pessoas não estavam preocupadas nem com aqueles que viam como “semelhante”, quem dirá com alguém banalizado pela sociedade. Porém, quebrando qualquer paradigma, esse mesmo homem, que não esperava a misericórdia de ninguém, foi capaz de ajudar várias pessoas em situações de perigo e até mesmo dar a sua própria vida para salvar o próximo. Ele foi capaz de ajudar outras pessoas (sem esperar nada em troca) e evidenciar que a capacidade de sentir empatia vai muito além das aparências.

Somos chamados para amar o próximo não com um amor superficial e hipócrita, mas para amar como Cristo nos amou. A Bíblia deixa claro em diversos trechos o que Deus espera de nós. Por exemplo, na passagem de Lucas 10:27 diz: “Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todo o teu pensamento. E amarás o teu próximo como a ti mesmo”. Se temos que amar o nosso próximo como a nós mesmos, afinal, quem é esse próximo? Parece uma resposta simples, mas na prática muitas vezes a ignoramos ou distorcemos em prol de nossos próprios interesses. O próximo não é apenas os meus amigos, a minha família, as pessoas que me fazem bem, aqueles pelos quais eu sinto empatia, tampouco apenas as pessoas que considero “úteis” para mim. O próximo é todo aquele que não sou eu, portanto, pode ser meu vizinho, uma pessoa que me feriu ou até mesmo, em tempos de grande polarização, alguém que possui uma opinião diferente da minha.

Outro “erro” comum ao pensarmos no próximo, é que muitas vezes nos concentramos nele como alguém distante. Conseguimos nos comover com o próximo que está passando fome na África, sem ao menos sentir compaixão do próximo que passa necessidades ao nosso lado. Pouco tempo atrás, em 4 de setembro de 2020, ocorreu uma grande explosão na cidade de Beirute, no Líbano, que deixou mais de 100 mortos e 4 mil feridos. Diversos canais de notícia divulgaram o ocorrido e muitas pessoas compartilharam a notícia. Não quero desmerecer o acontecimento, com certeza, foi um acidente horrível e lamento as vidas que foram perdidas. Porém, é importante salientar que nesse mesmo período mil pessoas morriam diariamente por complicações causadas pela Covid-19 no Brasil e, contrário às minhas expectativas, parecia que as várias vidas perdidas diariamente não despertavam tamanho espírito de empatia em boa parte da população que já estava “acostumada” com uma tragédia tão próxima a nós.

Então, se sabemos o que é amor ao próximo, como expressar esse amor? O amor não é egoísta e para que não tenhamos a falsa sensação de que somos bons simplesmente porque fazemos um ato de caridade ou porque ajudamos uma velhinha a atravessar a rua (algo muito legal inclusive), é fundamental refletirmos constantemente sobre as reais motivações de nossas ações. O amor não busca seus próprios interesses, na prática seria, às vezes, deixar de satisfazer as nossas próprias necessidades para tentar ajudar o outro. Quer um exemplo simples? Podemos demonstrar amor ajudando alguém numa tarefa, mesmo sabendo que perderemos o episódio tão esperado da série favorita da Netflix. Isso significa que não precisamos solucionar o problema da fome na África (claro que podemos ajudar como pudermos), mas é possível demonstrar o amor de Cristo através de nossas vidas nas mais pequenas ações.

É importante salientar que somos capazes de expressar o amor não porque somos bons, amamos porque isso é dom de Deus. É uma tendência natural sentirmos raiva, inveja e entre outros sentimentos nada agradáveis, porém, através de Jesus Cristo, podemos ter uma nova vida, lutando contra a nossa carne e matando o velho homem todos os dias. Somente podemos amar porque Ele nos amou primeiro. Demonstrando a maior prova de amor, Deus enviou o Seu Filho amado para morrer por nós e pagar pelos nossos pecados. Por isso podemos ter esperança, isso é maravilhoso.

  • Irislene Silveira de Paiva, 22 anos. Estudante de Bacharelado em Sistema de Informação na Universidade Estadual de Campinas – UNICAMP. Serve no ministério de Jovens da Igreja Presbiteriana de Paulínia, SP.

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