Por Ioná Nunes

Roo as unhas, perco o sono, não consigo me concentrar. O estômago sofre com as consequências e a minha alma se põe a chorar. Um choro mudo, caracterizado por gritos inaudíveis enquanto rolo de um lado para o outro na cama. 0h, 1h, 4h e o sono foge de mim como a esperança escapule pelas mãos.

Os gemidos são como raios solares tímidos detidos pela pestana da janela, berro por socorro mentalmente e deixo as lágrimas desenharem a urgência emergente do meu clamor. Eu sou como uma marionete sendo manipulada de um lado pelo medo e do outro pela ansiedade. Enquanto eles brigam pra saber quem vai ter controle total sobre mim, sou retalhada ao meio.

Dia desses tive uma dor de dente insuportável que me levou a manifestar um dos comportamentos mais irracionais da minha vida. Eu soquei o colchão, bati propositalmente a cabeça na porta do guarda-roupa, pressionei o lugar da dor com força, caminhei de um lado para o outro no meu quarto, bati a porta, tomei cinco comprimidos diferentes, chutei a televisão e chorei enquanto esperneava sozinha, extravasando o que estava sentindo. E de quebra pensei em coisas terríveis.

Foi uma confusão danada. Enquanto pedia ao Senhor para que acabasse com a dor mentalmente, pensamentos furiosos circulavam pela minha cabeça. Queria que minha emergência fosse atendida com urgência e não recebia resposta. O medo e a ansiedade nos cegam, nos induzem a focar na dor e a agir como animais irracionais.

O medo é uma vozinha mentirosa que usa nossas inseguranças e preocupações como alto-falante para nos controlar. Essa voz ganha corpo à medida que tomamos sua fala como verdade. Somos nós que fazemos nascer pele sobre seus ossos, que permitimos que ela cresça e se desenvolva, pois o medo se alimenta das nossas fraquezas e traumas.

O medo é um sanguessuga que absorve nosso tempo, energia e alegria todas as vezes que abrimos a porta do nosso coração e deixamos sua voz ecoar. Ele planta dúvida para colher desespero. É como uma daquelas pessoas que, na primeira oportunidade, usa nossa fragilidade contra nós mesmos. É um parasita em busca de hospedeiro. É capataz que exerce sua função pelo prazer de nos escravizar e menosprezar.

Os comprimidos baixam a minha pressão, as mãos começam a tremer e uma sonolência domina meu corpo. A fala fica em slow motion e me sinto insegura. O que fazer? Chamo por minha mãe e peço ajuda. Ela prontamente se oferece para comprar remédio e me levar a urgência. É isso que os pais fazem, criam um ambiente seguro para o qual a gente pode correr sempre que estamos em apuros.

Sou uma mulher, mas isso não significa que não fico frágil e que não preciso de alguém. A dor é didática e me lembrou que dependência não é opcional, não é um botão que posso apertar quando quero, mas é um estilo de vida. A dor é didática porque me faz voltar ao centro da vontade de Deus e me lembra do quanto eu preciso Dele.

  • Ioná Nunes, 24 anos. É jornalista e congrega na Igreja Cristã Evangélica.
  1. Allan Edson da Costa Ribeiro

    Todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus. O medo, a ansiedade e a dor podem descambar para coisas piores, mas Deus quer usá-los para nos ensinar que confiar Nele é recompensador. Lindo texto!

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