Por Raphael Cavalcanti

Fazer coisas para Deus não é o mesmo que estar com Deus”. Lembra quando ouvi essas palavras? Foi numa das milhares de pregações do seminário. Coisa óbvia. Mas desconfio que muito do caminhar contigo seja composto das obviedades que insisto em me esquecer.

Será que tenho estado contigo? Será que já estive contigo? Não sei, acho que você pode ter me tido em mente quando contou aquela velha história. Sabe, sempre imaginei que ela estava ali para me ensinar que existem filhos teus perdidos por aí. Gente que largou tudo e foi viver como quis. Gente que gastou dinheiro com prazeres e findou por comer com os porcos. Era muito bom ver que a história estava lá para me mandar buscar esses. Para me alegrar com a sua volta. Para cantar que as portas estavam abertas e que a mesma casa tem pessoas certas, amigos e irmãos.

Só que desconfio que você não estava me falando dos outros. Estava falando de mim mesmo! Eu também estou perdido nessa história.

Será que você não quis me dizer que eu sou o filho que ficou? Eu também vivo na tua casa. Desde 1989, eu vivo na tua casa. Eu como na tua mesa, conheço cada cômodo. Não preciso de mapas, nem de luz acesa para caminhar pelos lugares tão conhecidos. Eu conheço os servos, conheço os outros familiares, conheço os moradores. Sei decorado cada pedacinho do prédio todo. Mas será que realmente faço parte daqui?

Nos últimos anos, tenho tido mais responsabilidades. Agora participo contigo dos cuidados da casa. Eu tiro o mato, conto teu rebanho, cuido do que é teu. Minha vida é cuidar do que é teu! Sou eu quem apago a luz acesa, que arrumo toda a mesa. Mas será que eu não me sento para comer sozinho no fim de tudo?

Qual foi a última vez que simplesmente me lancei em ti? Que deitei contigo para ver o céu? Quando assistimos o sol se pôr? Qual a última vez que eu simplesmente fiquei contigo? Aproveitando quem você é, o que você fez por mim? Será que você já me bastou? Será que eu realmente te amo?

Por que faz tanto tempo que não rimos juntos das besteiras que são criações tuas? Por que acho que posso encontrar algo melhor que você em qualquer outro lugar? Será que eu conheço teu cheiro? Será que ouço tua voz? Será que sinto teu toque?

Onde foi que me perdi na casa? Por que acho que pôr as coisas em ordem é mais importante que olhar para ti?

Pai, eu não quero me perder. Pai, não me deixa te perder! Me tira todas as coisas, mas me ensina o que é estar contigo e isso bastar. Me ajuda a aproveitar a herança que é minha e que é o Senhor mesmo. Você é minha herança, você é tudo que eu preciso. Eu não quero me perder! Por favor, me toma pela mão e me leva para estar contigo.

Que tudo fique para depois, menos o Senhor. Por favor, ganha meu coração. Seja tudo para mim! Tudo! Que eu nunca vá atrás dos possíveis perdidos enquanto estiver comendo sozinho depois das tuas festas.

Eu quero ser totalmente, completamente, teu. Por favor, por favor, faz com que meu coração seja totalmente teu e que eu te ame acima de tudo!

Acima de tudo mesmo!

  • Raphael Cavalcanti. Um nordestino brasileiro que faz o que não quer, e o que quer, não faz. Apaixonado pela minha terra, Natal, por história e por gente. Casado com Ana Luísa. Colabora no blog Cristão Tupiniquim, onde o texto foi originalmente publicado.
  1. Texto excelente e muito profundo …texto pródigo …texto de quem sentiu do que esta falando.. texto que afetam muitos jovens que conheci desde criança e ora estão fora da igreja, vagando como navio sem leme … Deus guarde os nossos filhos onde estiverem …mesmo na barriga da “baleia” …amém, Joel Trigo

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