Hoje vi um pai levantando a filhinha para que ela não pisasse a grama. Vestida com uniforme escolar, a garotinha se viu conduzida pelo pai que trajava roupa de trabalho manchada por tinta seca. Em minha memória de infância, lembro de meu pai com poucos afetos físicos, mas que me levava de bicicleta para o sítio da família. Um caminho longo, mas marcante. Era quando eu via a força dos seus braços no guidão da bicicleta me carregando.

Essas duas singelas cenas me fazem pensar na paternidade como um peso (não no sentido negativo, mas positivo). Peso que significa suporte, sustentação e arrimo para uma fase específica da vida. Assim como, anos depois, os filhos se tornam “peso” para os pais, os pais são “peso” para os filhos quando estes ainda são pequenos.

Essa dinâmica é incrível.

Seres humanos suportando uns aos outros em fases diferentes da vida. Como bem aconselhou o apóstolo Paulo aos colossenses: “suportai-vos uns aos outros…” (Cl 3.13, ARA), a lógica do cuidado passa pela coragem de assumirmos a carga do outro, mesmo que por apenas um período especial.

Inevitavelmente, olhamos para Deus como pai e o enxergamos como o Senhor que se preocupa em nos levantar para não sujarmos os sapatos. O Deus que nos coloca na garupa da bicicleta e nos conduz ao destino. Também olhamos para Cristo e ouvimos o seu convite para “carregarmos nossa cruz cada dia e o acompanharmos” (Lc 9.25, NBV). Veja bem: não carregamos a cruz sem companhia. Ao contrário, ele está conosco nessa caminhada.

Eu gostaria de ver pais dispostos a enfrentar a jornada que Deus deu a eles. Uma jornada cheia de desafios, mas também repleta de alegrias.

Eu gostaria de ver pais dispostos a enfrentar a jornada que Deus deu a eles.

Quando nos tornamos pais, contamos os ponteiros do relógio de outra forma. Não são segundos ou minutos em nossa agenda, mas sim fases na vida de nossos filhos. Já não são dias de folga, mas momentos marcantes em companhia de uma outra pessoa que vai se formando a nossa semelhança.

É verdade que mais do que pais, somos filhos. Filhos criados à “imagem e semelhança” de Deus. Esse é o senso mais profundo da nossa identidade. Ao mesmo tempo, e não menos verdade, somos convidados a assumirmos papéis nobres – e um dos maiores é o de ser pai.

Ser pai é assumir alegremente o peso do cuidado ao ponto de nos acostumarmos com tal missão. Ao ponto de sentirmos falta do filho que se foi. Ou de estarmos dispostos e correr ao encontro do filho que nos abandonou.

Ser pai é amar num contexto tão especial que chegamos ao ponto de nos sentirmos completos.


Imagem: Pixabay

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