A vida cristã pode ser definida como uma “bravura graciosa”. Ao mesmo tempo que a graça nos liberta, ela também nos prepara para uma luta: a de nos tornarmos melhores pessoas a cada dia. Sabemos quem éramos e no que Deus nos transformou por meio de Jesus Cristo. Agora é a hora de colocar em prática essa graça e permitir que o Senhor complete a obra que começou em nós (Fp 1.6). Para isso, é preciso ter coragem e uma boa dose de inconformismo.

O cristão é um inconformado consigo mesmo – não porque deve negar sua identidade, seus desejos, suas imperfeições e suas consequentes cicatrizes, mas porque anseia (mais do que tudo) ser semelhante a Cristo e viver a experiência inigualável da “vida abundante” (Jo 10.10). O cristão é fascinado por Cristo e não consegue parar de pensar que há um “caminho de santidade”, de grande alegria, preparado pelo Pai aos redimidos, voltando para casa (Isaías 35.8-10).

Para isso acontecer,  é preciso encarar todas as vicissitudes, sem fugir da força contrária que nos tenta oprimir e matar. O vasto horizonte da experiência humana nos desafia a descobrir o significado mais profundo de cada coisa, de cada realidade. Essa vida profunda encontrada em Cristo deve preencher nosso coração de sentimentos, convicções e expectativas em torno do trabalho que Deus está fazendo no mundo.

Mas não se engane: a bravura graciosa não vem por meio da violência dos nossos braços, mas sim pela força do Espírito Santo (Zc 4.6). Por sermos filhos de Deus, somos bem-aventurados homens e mulheres de paz (Mt 5.9). Oramos, trabalhamos e lutamos pelo Shalom de Deus.

A vida cristã é também uma vida de oração e meditação bíblica. Entramos no “mundo de Deus” por meio da prática diligente da oração e do deleite da Palavra. O banquete da Grande Festa está à mesa, mas os primeiros convidados decidiram não vir; estavam muito ocupados com seus interesses medíocres. Quem gostaria de adentrar então? Um a um, os machucados, os estigmatizados, os odiados (Lc 14.15-24). Famintos por comida e por dignidade, outrora rejeitados, agora fazem parte da mesa do Rei.

Jesus nos convida, portanto, a viver intensamente uma realidade ainda em construção, e aí reside o desafio: enxergar o que ainda não está pronto. Aí mora a fé: crer que tudo o que foi prometido será cumprido, que toda justiça será feita, mesmo que ainda não. Aí está a graça: sentir-se incluído por Deus em seus maravilhosos planos e tornar-se cooperador da sua Grande Obra. Não por mera obrigação, mas por alegria e por encontrar nele o mais profundo sentido para a existência.

Para tanto, é preciso ter, sobretudo, bravura, graciosa bravura.

 

Imagem: Pixbay

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