O “jugo de Cristo” é compatível com a liberdade humana?
Por John Stott
É sob o jugo de Cristo que encontramos liberdade e realização. Ouça sua própria afirmação sobre isso: “Sou manso e humilde de coração, e vocês encontrarão descanso para as suas almas. Pois o meu jugo é suave e o meu fardo é leve” (Mt 11.29-30). O que isso significa? Muitos acreditam que, se houver controle sobre aquilo em que cremos ou sobre o modo como nos comportamos, não somos livres. Como nossa mente pode ser livre, questionam eles, se Jesus Cristo nos diz em que acreditar? E como nossa vontade poderá ser livre, se ele nos diz como devemos nos comportar? Eles veem o jugo de Cristo e a liberdade deles como coisas incompatíveis.
Observe a mente primeiro. Existe apenas uma autoridade debaixo da qual a mente é livre, e essa é autoridade da verdade. A mente não é livre se estiver acreditando em mentiras. Pelo contrário, ela está presa à fantasia e à falsidade. Ela é livre apenas quando crê na verdade, e as coisas são assim, quer a verdade em questão seja da ciência ou das Escrituras.
Da mesma forma, a única autoridade sob a qual a vontade é livre é a autoridade da justiça. A vontade não é livre se estiver desobedecendo a Cristo. Pelo contrário, ela está presa à vontade própria e à paixão. Ela é livre apenas quando obedece aos padrões justos de Jesus Cristo.
Se alguém perguntar por que isso acontece, só podemos responder que essa é a natureza da realidade, pois o próprio Deus é o epítome da verdade e da bondade, e ele nos criou à sua imagem para que encontremos a nós mesmos, nosso verdadeiro eu, apenas em relação com ele. Ele nos fez seres racionais, com a mente preparada para examinar sua verdade e encontrar liberdade para crer nela.
Ele nos fez seres morais e gravou sua lei em nosso coração (Rm 2.15). Sua lei moral não é, portanto, um padrão estranho, mas a lei do nosso ser humano. Há uma correspondência fundamental entre o que Deus é em sua própria justiça eterna e o que ele “gravou” em termos de lei moral tanto no coração humano quanto na Bíblia.
É por causa dessa correspondência fundamental entre o Criador e suas criaturas humanas, entre sua verdade e nossa racionalidade criada, entre sua justiça e nosso senso moral criado, que nossa mente encontra sua liberdade no sentido de crer na verdade de Deus, e nossa vontade, de obedecer à sua lei. É por isso que o jugo de Cristo é “suave”. Ele se encaixa.
“Eu lhes darei descanso”, disse ele. Não encontramos o verdadeiro descanso quando descartamos o jugo de Cristo, mas quando nos submetemos a ele. “Debaixo de Cristo” somos livres.
STOTT, John. A Vida Em Cristo. Editora Ultimato, p 83 e 84.