O filho, o pai e o tempo
É verdade que o menino não sabe distinguir, no pôr do sol, se ainda é dia ou se já é noite. Não sabe, portanto, se deve ou não acender as luzes. De todo modo, não duvida que a noite cairá e que poderá, enfim, iluminar a sala.
Certa vez ele disse naturalmente ao pai: “vou ficar com você para sempre”. O pai, incerto, respondeu: “não podemos prometer isso, filho”. O crescido homem já não acreditava tanto na eternidade. O tenro garoto, por sua vez, não via nada menos que o infinito.
Pobre pai! Acostumou-se a resolver problemas, mas perdeu o hábito de olhar além do visível.
Mesmo assim, o menino não é tão paciente. Aprendeu com as pessoas a não esperar. Talvez se cure desta doença chamada ansiedade. Terá que andar contra a corrente. Terá que esforçar-se bastante para deixar de entregar-se a preocupações infundadas.
Enquanto o menino olha para frente, o pai olha para trás. O menino acha que o que há de bom agora, continuará. Graças a Deus, ele não tem razão para pensar diferente. Mas o pai, velho de guerra, lamenta o que perdeu ao longo da vida. Sente saudades de tempos longínquos em que era mais parecido com seu filho. Lidava melhor com o tempo porque este era um amigo que o ajudava a viver. Hoje, o homem quase velho, enxerga o tempo mais como obstáculo para executar todas as tarefas que precisa cumprir.
Talvez o tempo seja as duas coisas: amigo e inimigo. Duas faces necessárias para que possamos tanto aproveitar as oportunidades quanto para assumir responsabilidades. Não se apresse a culpá-lo por nada.
Ainda há no coração do pai uma chama de esperança, de fé. Fé na aurora que cresce e que trará muito mais do que um novo dia ou um novo ano. É um tipo de alvorada que transcende tudo o que ele já viveu. As luzes do sol são sinais da profecia; são caminhos que o levam até o destino pleno e abundante do Eterno.
O menino ensina o pai sobre como olhar o tempo. O pai ensina o filho a continuar acreditando na eternidade.
Pai e filho. Juntos. Para sempre.
***
“A vereda do justo é como a luz da alvorada, que brilha cada vez mais até a plena claridade do dia”.
(Pv 4.18)
saulo
Quem olha para trás ou para frente não consegue olhar para o agora que, aliás, é uma ótima forma de encarar o tempo.
http://asmelhorescronicas.blogspot.com.br/
Gisele
Que texto tocante!
Lindo! Amei!
Rony Morais
Bom dia! Gostei muito do texto e gostaria de fazer um video com ele. É possivel?
Lissânder Dias
Olá, Rony!
Sim, claro, pode fazer. Me envia o link, por gentileza.
Grato,
otavio
sobre o que fala a historia?
otavio
sobre o que fala historia?
Valéria
a) Qual a ideia central do texto?
b) Explique porque o tempo está presente na crônica.
c) Explique esse trecho “…Talvez o tempo seja as duas coisas: amigo e inimigo…”
Natalia
Você ainda tem essas respostas?
Simone
Lindo texto! vou usá-lo e , certamente, indicando o autor e a fonte. Obrigada!