O tempo não me assusta
O tempo não me assusta. A trilha, no entanto, é por demais estreita. Parece um filete de água na paisagem do deserto.
Por vezes, a abundância de estímulos e o prazer industrialmente fabricado tentam nos enganar. Nestas horas, pensamos: “ah, meu caminho não tem margens, posso seguir por qualquer direção”. Não nego certa verdade nisso, a julgar o anseio pela eternidade que carregamos dentro de nós. Talvez seja isso a centelha de fogo que o pai e o filho carregavam no mundo devastado do romance “A Estrada”, de Cormac McCarthy.
Mesmo assim, parece tão irrealista! A desordem que nos confunde, a injustiça que nos subjuga, a guerra interior que nos enfraquece, o mal que nos assusta, o coração humano que nos engana. A vida não é um parque de diversões, mesmo que haja fonte de alegria em nosso coração. A vida não é um paraíso, mesmo que possamos aprender a dádiva do contentamento.
O tempo não me assusta. O que assombra é o caminho e suas limitações. Limitações que se tornam evidentes quando completamos ciclos pessoais. Eu chego à idade de 36 anos e então me pergunto qual a validade dos aniversários. Sempre me senti estranho nestes dias, meio com vergonha, meio desconfiado dos “parabéns”.
Hoje me isolo para descobrir o significado de tudo isso. Encontro respostas — bem mais simples do que minhas elucubrações. Aniversários existem, não para enchermos nossos quartos de presentes, mas para sermos convencidos do que realmente importa. A vida bate à porta e pede para entrar. Ela entra, senta-se e conta a verdadeira história. Nós — ouvintes mais atentos que outros dias de outrora — vivemos para que possamos aprender a viver ainda mais. Mesmo que a estreiteza do caminho pareça morte, esta não é definitiva. Se prestarmos bem atenção, ela não é o fim. Há mais vida na outra esquina.
Chego aos 36 anos com a certeza de que poderia ter vivido melhor. Ainda posso. Meu caminho é vergonhosamente pequeno diante da riqueza da existência. Mas tenho o essencial. Este é o meu presente. Esta é a minha vida. Este é o tempo que me foi dado. Por ele, agradeço sinceramente.
Lene
Bela crônica!
Luan Christyan
Uma boa crônica
Fabricio Gomes
Ótima crônica, bem leve e sem se importar em ser uma crônica simples.
Alex Miyasaki
bela cronica
Alex Miyasaki
Bela cronica.desculpe gente n sei fazer acento circunflexo no computador.