Vida em pedaços
Quando vivo em pedaços, Deus é diminuído em mim. Ele se torna apenas um remendo religioso para minha ferida realidade existencial.
Diminuir Deus – e isso é um grande pecado – é encará-lo como um simples encaixe, uma peça que falta ao meu quebra-cabeça pessoal. É até necessário, mas nunca será mais importante que todas as outras peças juntas. Se assim o é, Deus sempre será um provedor imediato, mas nunca um guia eterno.
Olhando a revelação bíblica, Deus é apresentado como Senhor e Salvador. Longe de um jargão religioso, afirmar e crer nisso é, em outras palavras, nos encaixarmos na realidade de Deus, e não o inverso. Na prática, quero dizer que a fé cristã me faz encarar minha vida como um horizonte que depende do nascer-do-sol para ser visto. A aurora revela toda a realidade, e, eu, reconhecendo isso, me entrego à fonte da luz e só então me enxergo de verdade.
Meus desejos mesquinhos e meus vazios psicológicos não passam de poeira, sem o poder de Deus trazendo sentido, direção, consolo e cura. Facilmente permanecerei confuso diante de minhas incoerências mais íntimas, e as tornarei poderosas divindades, se não baixar as armas, abandonar o esconderijo e render-me por completo a Cristo.
Preste atenção: render-me não é entregar a Deus o que ainda não se encaixa em mim ou me incomoda. É, de fato, dar a ele tudo o que sou – os pontos iluminados, mas também os obscuros. Só assim conseguirei entender que o convite de Deus não é menos que viver uma vida inteira, eterna, e não uma vida em pedaços, efêmera. Isso depende fundamentalmente de quanto eu estou disposto a me render: inteiramente ou apenas em parte.
Fé é entregar-se por inteiro. Absolutamente.