Opinião
- 02 de maio de 2013
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Uma história de criança contada por gente idosa
Na reunião do Conselho da Sociedade Bíblica do Brasil (SBB), escutei de seu presidente, o Rev. Adail Sandoval, de 76 anos, uma edificante meditação e uma linda confissão. Uma história de criança contada por gente idosa. Após a devocional, pedi a ele que a redigisse. Este singelo testemunho será mais bem aproveitado se lido com isto em mente:
- Deus manifesta sua graça diretamente às crianças e, em alguns casos, esta experiência vai ser determinante para o adulto que virá a ser;
- Deus pode transformar fatalidades: Rev. Adail tinha tudo para não ser ninguém na vida.
- Deus usa pessoas para esse intento. Há muitas donas “Rosas” por aí que foram canais de benção e permitiram que “Joãos e Marias ninguém” contrariassem as previsões.
Leia abaixo o relato escrito pelo próprio Rev. Adail Sandoval.
***
Um testemunho da misericórdia de Deus
[Re. Adail Sandoval]
Fui criado por uma das mulheres mais extraordinárias que tive o privilégio de conhecer.
Por sua fé, amor, dedicação e uma vida de intimidade com Deus, ela se tornou uma dessas raras figuras que, de quando em quando, surgem no cenário da vida para ser instrumento de benção na vida de milhares de pessoas ao longo de sua caminhada terrena.
Meu pai era próspero fazendeiro na cidade de Marília, interior de São Paulo. Com a traumática separação de meus pais, minha mãe nos levou para a cidade de Cocos, na Bahia. Éramos três filhos: Clotilde, com oito anos, Davi, com três anos, e eu, com alguns meses de idade.
Quando eu tinha três anos, com cada vez mais dificuldades, minha mãe resolveu nos levar para internato da Escola Oliveira Magalhães, dirigido por Dona Rosa, em Santa Maria da Vitória, Bahia.
Minha mãe foi para Belo Horizonte a fim de trabalhar. Três anos depois, em 1942, recebemos a notícia de seu falecimento: minha mãe fora vítima de uma epidemia de tuberculose que assolara o país. Estávamos em meio à 2ª Guerra Mundial. Meus irmãos e eu ficamos arrasados, pois mantínhamos a esperança de que ela voltaria para nos buscar, como havia prometido.
A qualidade de ensino da Escola de Dona Rosa, apesar dos poucos recursos que dispunha, era excelente. No internato, viviam mais de cem crianças, adolescentes e jovens, alguns de pais muito pobres e outros órfãos como meus irmãos e eu. Embora nosso pai estivesse vivo em Marilia, São Paulo, não demonstrava interesse em nos acolher nas poucas cartas que recebíamos dele apenas por insistência de Dona Rosa. Fui conhecê-lo aos vinte anos, numa visita rápida que lhe fiz. Depois disso nunca mais o vi.
Comida, pela graça, nunca faltou ao internato, ainda que muito simples e não muito farta. Tudo ali era um milagre da providência de Deus!
Certa ocasião, quando eu tinha sete anos, senti uma fome fora do comum, meu estômago fazia seus reclames. Dona Rosa havia feito um doce de “batata purga”, que não era sobremesa, mas sim um purgativo para combater os vermes da meninada.
A enorme bandeja com o doce foi colocada em cima do guarda-roupa do quarto dela. Já passava do meio-dia e a hora do almoço nunca chegava. Ao sentir aquele cheiro, fui até o quarto, subi em um tamborete, levantei o pano branquinho que cobria a bandeja e, quando enfiei os dedos naquele doce, ouvi passos. Era Dona Rosa! Assustado e com o coração batendo mais forte, desci do banquinho o mais rápido que pude e me escondi atrás da porta, com a boca cheia e quase sufocando. Por fim, consegui engolir tudo. D. Rosa não notou nada, pensei, e achei que tinha me livrado do flagrante e que tudo estava encerrado ali. Puro engano.
Logo depois do almoço, ela foi ao quarto e trouxe aquela e mais outras duas bandejas, colocando-as sobre uma das mesas. Quando levantou a toalha, viu as marcas de dedos no doce. Tratei logo de me colocar atrás de um menino maior para fugir do olhar de Dona Rosa. Quando menos esperava, ela disse: “alguém mexeu nesse doce e eu conheço esses dedinhos”.
Eu era o menor da turma e mesmo sem saber como ela poderia adivinhar, comecei a chorar e cheguei perto dela dizendo que estava arrependido.
Ela me colocou de lado e disse que eu não poderia comer mais daquele doce porque era um remédio muito forte para combater vermes e eu poderia ficar doente. Foi aí que chorei mais ainda.
Terminada a distribuição de doces para todos os meninos e meninas, ela me mandou para o quarto e eu esperei pela maior surra de minha vida. No internato, o castigo mais severo era a palmatória, às vezes seis “bolos” e, em casos mais graves, uma dúzia. Era isto que eu achava que ia receber.
Ao chegar ao quarto, ela me pôs no colo e disse: “meu filho, eu amo muito você e Deus o ama muito mais. Sei que você comeu esse doce porque estava com fome. Porém, nunca mais faça isso. Não coloque a mão em nada que não lhe pertença, a menos que alguém lhe ofereça. Deus não criou você para ser um homem desonesto. Ele tem um plano maravilhoso para sua vida. Você estudar para ser uma benção nas mãos de Deus”. E me desceu do colo.
Não sei se me tornei tudo quanto ela desejou, mas sei que naquele dia meu coração ficou curado pela maravilhosa graça de Deus, por meio daquela santa mulher, Rosa Oliveira Magalhães.
(Corrigido em 03/05/2013)
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Leia abaixo o relato escrito pelo próprio Rev. Adail Sandoval.
***
Um testemunho da misericórdia de Deus
[Re. Adail Sandoval]
Fui criado por uma das mulheres mais extraordinárias que tive o privilégio de conhecer.
Por sua fé, amor, dedicação e uma vida de intimidade com Deus, ela se tornou uma dessas raras figuras que, de quando em quando, surgem no cenário da vida para ser instrumento de benção na vida de milhares de pessoas ao longo de sua caminhada terrena.
Meu pai era próspero fazendeiro na cidade de Marília, interior de São Paulo. Com a traumática separação de meus pais, minha mãe nos levou para a cidade de Cocos, na Bahia. Éramos três filhos: Clotilde, com oito anos, Davi, com três anos, e eu, com alguns meses de idade.
Quando eu tinha três anos, com cada vez mais dificuldades, minha mãe resolveu nos levar para internato da Escola Oliveira Magalhães, dirigido por Dona Rosa, em Santa Maria da Vitória, Bahia.
Minha mãe foi para Belo Horizonte a fim de trabalhar. Três anos depois, em 1942, recebemos a notícia de seu falecimento: minha mãe fora vítima de uma epidemia de tuberculose que assolara o país. Estávamos em meio à 2ª Guerra Mundial. Meus irmãos e eu ficamos arrasados, pois mantínhamos a esperança de que ela voltaria para nos buscar, como havia prometido.
A qualidade de ensino da Escola de Dona Rosa, apesar dos poucos recursos que dispunha, era excelente. No internato, viviam mais de cem crianças, adolescentes e jovens, alguns de pais muito pobres e outros órfãos como meus irmãos e eu. Embora nosso pai estivesse vivo em Marilia, São Paulo, não demonstrava interesse em nos acolher nas poucas cartas que recebíamos dele apenas por insistência de Dona Rosa. Fui conhecê-lo aos vinte anos, numa visita rápida que lhe fiz. Depois disso nunca mais o vi.
Comida, pela graça, nunca faltou ao internato, ainda que muito simples e não muito farta. Tudo ali era um milagre da providência de Deus!
Certa ocasião, quando eu tinha sete anos, senti uma fome fora do comum, meu estômago fazia seus reclames. Dona Rosa havia feito um doce de “batata purga”, que não era sobremesa, mas sim um purgativo para combater os vermes da meninada.
A enorme bandeja com o doce foi colocada em cima do guarda-roupa do quarto dela. Já passava do meio-dia e a hora do almoço nunca chegava. Ao sentir aquele cheiro, fui até o quarto, subi em um tamborete, levantei o pano branquinho que cobria a bandeja e, quando enfiei os dedos naquele doce, ouvi passos. Era Dona Rosa! Assustado e com o coração batendo mais forte, desci do banquinho o mais rápido que pude e me escondi atrás da porta, com a boca cheia e quase sufocando. Por fim, consegui engolir tudo. D. Rosa não notou nada, pensei, e achei que tinha me livrado do flagrante e que tudo estava encerrado ali. Puro engano.
Logo depois do almoço, ela foi ao quarto e trouxe aquela e mais outras duas bandejas, colocando-as sobre uma das mesas. Quando levantou a toalha, viu as marcas de dedos no doce. Tratei logo de me colocar atrás de um menino maior para fugir do olhar de Dona Rosa. Quando menos esperava, ela disse: “alguém mexeu nesse doce e eu conheço esses dedinhos”.
Eu era o menor da turma e mesmo sem saber como ela poderia adivinhar, comecei a chorar e cheguei perto dela dizendo que estava arrependido.
Ela me colocou de lado e disse que eu não poderia comer mais daquele doce porque era um remédio muito forte para combater vermes e eu poderia ficar doente. Foi aí que chorei mais ainda.
Terminada a distribuição de doces para todos os meninos e meninas, ela me mandou para o quarto e eu esperei pela maior surra de minha vida. No internato, o castigo mais severo era a palmatória, às vezes seis “bolos” e, em casos mais graves, uma dúzia. Era isto que eu achava que ia receber.
Ao chegar ao quarto, ela me pôs no colo e disse: “meu filho, eu amo muito você e Deus o ama muito mais. Sei que você comeu esse doce porque estava com fome. Porém, nunca mais faça isso. Não coloque a mão em nada que não lhe pertença, a menos que alguém lhe ofereça. Deus não criou você para ser um homem desonesto. Ele tem um plano maravilhoso para sua vida. Você estudar para ser uma benção nas mãos de Deus”. E me desceu do colo.
Não sei se me tornei tudo quanto ela desejou, mas sei que naquele dia meu coração ficou curado pela maravilhosa graça de Deus, por meio daquela santa mulher, Rosa Oliveira Magalhães.
(Corrigido em 03/05/2013)
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