Opinião
- 29 de novembro de 2018
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Poucas e boas razões para ler C. S. Lewis
Por Carlos Caldas
Se vivo estivesse Clive Staples Lewis – Jack, para os íntimos, C. S. Lewis para milhões e milhões de leitores ao redor do planeta – completaria 120 anos no dia 29 de novembro deste ano da graça de nosso Senhor Jesus Cristo de 2018. Mas ele teria que ser um elfo, uma daquelas criaturas quase imortais tão bem descritas por seu amigo J. R. R. Tolkien, para ter tamanha longevidade. Lewis se foi há exatos 55 anos, mas seus escritos continuam desafiando, edificando e abençoando vidas. Sem dúvida, Lewis é um dos grandes fenômenos literários do século passado.
Pensando em quem (ainda) não leu nada de Lewis, vamos apresentar alguns motivos que explicam seu sucesso imorredouro como escritor, motivos estes que, ao mesmo tempo, devem servir de estímulo para iniciar leitores na literatura lewisiana. Para tanto, vamos primeiramente apresentar uma classificação dos textos de Lewis e depois, como dito, algumas razões pelas quais ele deve ser lido e relido. Por oportuno, uma advertência: a classificação aqui apresentada não pretende ser definitiva nem exaustiva. A intenção é apresentar uma lista sugestiva, apenas um pouco do muito que Lewis produziu. Vamos lá:
Classificação da obra literária lewisiana – Lewis escreveu muito, em diferentes gêneros, como poesia, ficção, sermões, cartas e ensaios. Em linhas gerais seus textos podem ser assim classificados:
Ficção: neste grupo encontram-se as que provavelmente são suas obras mais conhecidas, como O regresso do Peregrino, O grande abismo (nitidamente inspirado na Divina Comédia, de Dante Alighieri, Cartas do Coisa-Ruim, a trilogia espacial (Além do planeta silencioso, Perelandra e Aquela força pavorosa, obras de ficção científica não futurista e não utópica que tratam de temas espirituais), Até que tenhamos rostos, A Torre Negra e outras histórias, e os sete volumes das conhecidíssimas Crônicas de Nárnia).
Tratados teológicos: textos de exposição direta, como Cristianismo puro e simples, Os quatro amores, Peso de glória, Milagres, Reflexões sobre os Salmos, O problema do sofrimento, A última noite do mundo e Deus no banco dos réus.
Textos de teor autobiográfico: pelo menos dois textos bastante importantes de Lewis têm teor autobiográfico: Surpreendido pela alegria (uma autobiografia espiritual) e Uma dor observada (suas reflexões quando da morte de sua esposa Joy Davidman).
Textos teóricos sobre educação e teoria literária: Lewis não era teólogo “profissional”, por assim dizer. Antes, era professor de literatura medieval e renascentista. Como tal, produziu textos mais técnicos, bem específicos, tratando de educação e crítica literária, como A abolição do homem, Um experimento em crítica literária, A alegoria do amor: um estudo da tradição medieval e A imagem descartada: uma introdução à literatura medieval e renascentista.
Razões para ler Lewis – Tendo apresentado uma proposta de classificação dos textos de Lewis, vamos voltar nossa atenção para o que se constitui no cerne propriamente deste pequenino artigo: que razões justificam ler Lewis? Muitas, sob vários aspectos. Lewis é difícil algumas vezes. Não raro, especialmente em seus textos de exposição teológica direta, é preciso ler um parágrafo, voltar e ler outra vez. Seus textos são sempre lúcidos, profundos e densos e, muitas vezes, irônicos, ousados e provocativos. Pensador arguto e observador, extremamente culto, com um conhecimento enciclopédico da antiguidade clássica greco-latina e da tradição do pensamento cristão, Lewis tinha uma capacidade rara de provocar seus leitores. Mencionamos, na sessão anterior, que alguns dos seus textos são de exposição direta – nestes, percebemos uma argumentação lógica, racional e linear. Talvez o exemplo mais eloquente desta abordagem seja Milagres, em que ele argumenta com deístas e ateus defendendo a plausibilidade do sobrenatural acontecer em nosso mundo físico. Mas mencionamos também que muitos dos seus textos são de ficção e fantasia. Lendo estes textos concluímos que Lewis, a despeito de sua racionalidade lógica, reconhecia os limites da razão para falar do inefável, do sublime, do mistério divino. Daí o recurso tão recorrente em seus textos à linguagem sugestiva da fantasia, da ficção, do mito, que podem muitas vezes expressar melhor conteúdos espirituais que a mera linguagem técnica da filosofia.
Qual Lewis é melhor? O Lewis da racionalidade lógica e linear ou o Lewis da fantasia e do mito? Impossível responder a esta pergunta. Seja usando um tipo de linguagem ou outro, ele sempre nos desafia e edifica. Não é sem razão que muitos e muitos se renderam ao senhorio de Jesus Cristo a partir da leitura de textos de Lewis. Não é sem razão que muitos e muitos foram e são edificados e fortalecidos na fé a partir da leitura dos textos de Lewis. Por isso concluímos com um conselho: leia Lewis.
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É professor do Programa de Pós-Graduação em Ciências da Religião da PUC Minas, onde coordena o GPRA – Grupo de Pesquisa Religião e Arte.
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