Opinião
- 02 de junho de 2014
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Por mais humor na teologia
Primeiro, uma confissão. O humor é, para mim, a chave para levar a vida com mais leveza, nas relações, nas reflexões e nos engajamentos a que tantas vezes nos propomos. Inclusive no casamento. Creio firmemente em algo que tem alimentado a cada dia o amor em quase 20 anos de casamento: a nossa capacidade de rir. Rir um do outro e juntos, mas acima de tudo rir cada um de si mesmo. Aquela coisa como você fazer uma piada sobre alguma mania sua e depois os dois chorarem de tanto rir. O humor suaviza, relativiza (em um bom sentido) e nos ajuda a ter perspectivas mais saudáveis.
Segundo, um reconhecimento. Claro, nem sempre o humor é saudável. Ele pode ser preconceituoso, humilhante. A ironia tem seu lado sombrio, com poder destruidor. Eu sou desses pecadores arrependidos que reconhecem já ter adorado usar a ironia como uma arma contra o outro, e cuido para não seguir fazendo isso. Foi só quando eu percebi o quanto essa atitude poderia ser nociva, mesmo dentro do meu casamento ou com meus amigos mais próximos, que passei (ou pelo menos assim o tento) a usar a ironia comigo mesmo. Levar-me menos a sério e rir de mim passaram a ser armas importantes contra a autossuficiência e a arrogância.
Daí, depois dessa confissão e reconhecimento, afirmo que muitas vezes precisamos, não só nas relações, mas também na teologia, na missiologia e na política (seria possível?) de mais humor e menos rancor. Tentarei explicar (algo que não se faz com uma piada) essa afirmação, e sugerir como o humor pode nos ajudar a fugir da incompreensão e intolerância.
Estou apenas iniciando a leitura do que parece ser um excelente livro, “Foi-se o martelo – a história do comunismo contada em piadas”, de Ben Lewis, e já vejo que será uma companhia bastante divertida. Mais que isso, suspeito que também trará excelentes insights em outros temas. O humor funciona porque é um instrumento poderoso da consciência, da capacidade de relativizar os ídolos e as ideologias, de nos fazer repensar as fidelidades que entorpecem e nos limitam a visão. Será que precisaríamos de mais humor em nossas praias, essas da teologia e da missiologia?
Parece que os evangélicos são mais sensíveis, logo ficam chateados ou mandam ao inferno algum humorista ou quem ouse fazer piada sobre como vivem ou quanto ao que creem. Qual seria a razão de tanto mau humor? Talvez venha da insegurança ou de algum sentimento de identidade facciosa, de uma sociedade que precisa se proteger dos oponentes, ou talvez venha do já se sentir seguro e ensimesmado em suas posições, sem considerar qualquer necessidade de possíveis revisões. Ainda assim, desconfio da efetividade ou da sanidade dessa postura.
Sim, às vezes me surpreendo e lamento ao observar que na teologia e na missiologia não nos abrimos tanto para o humor. Nem mesmo para o debate. As razões e motivações parecem seguir o corolário de que os outros são os inimigos, aos quais eu busco desqualificar sem conhecê-los bem, ou ainda pior, usando da ironia e do humor aplicados em forma ácida, pejorativa, agressiva, o que só amplia nosso afastamento e divisão.
Sugiro que ressuscitemos o humor sano como uma tentativa de resgatar a dignidade do debate e relativizar um pouco as fidelidades caninas às nossas próprias tradições e preferências. Mas façamos assim, por segurança e prudência. Que simpatizantes da Missão Integral, por exemplo, sejam capazes de fazer piadas sobre suas próprias ênfases missiológicas, sobre suas hermenêuticas (ou a falta delas), sobre sua práxis (ou a sua incoerência e lacunas), sobre a busca sem fim de sua própria identidade, nesse terreno fértil para as brincadeiras que é o tema de ser sempre confundida com outras teologias e missiologias. Que essa difusão e pluralidade inspirem esse humor, que ao final venha a ajudar nessa constante necessidade de refino e desenvolvimento de uma certa tradição.
Mas cuidado, sugiro que os humoristas venham sempre de sua própria casa, seja ela qual for. Que sejam, por dizer algo, os Wesleyanos a fazer piada sobre a teologia arminiana que pouco conhecem e que talvez Wesley nunca tenha abraçado; que sejam os reformados a fazerem suas próprias piadas sobre um tal de calvinismo melhor que o de Calvino, e assim por diante, onde cada um cresce e se desenvolve nessa habilidade crítica de ver a sua própria tradição com os bons olhos do auto questionamento e da risada que tanto bem faz à alma.
Creio que no dia em que conseguirmos sentar à mesma mesa e atravessar o limite de poder contar essas “auto piadas” àqueles de outra tradição, e vice-versa, no dia em que consigamos rir à vontade de todas elas, esse pode ser o derradeiro sinal. Aquele de que já crescemos, que já não somos mais crianças nesses temas, e que sabemos valorizar a fidelidade comum ao Senhor Jesus e ao seu evangelho. Claro, isso não significa que abandonaremos nossa própria tradição em prol de alguma nova salada cósmica teológica e missiológica mundial. Não, seguiremos crescendo em nossas teologias contextuais (uma vez que toda teologia é contextual, mas isso já é assunto para outro texto), respeitando e aprendendo (ainda que divergindo) daquelas feitas e vividas por outros grupos de irmãs e irmãos.
Como lhes disse, o bom humor tem ajudado a manter meu casamento sano e feliz, sendo que também por meio dele busco conservar e cultivar boas amizades com aqueles que pensam bem diferente de mim. Espero também que um dia esse mesmo sano humor venha em socorro para ajudar-nos a construir mais unidade naquilo que importa, na fé, no evangelho e na missão. Com alegria! Falando nisso, já te contei aquela última piada dos crentes de diferentes tradições que se encontram no inferno? Se bem que, para que não briguemos sobre quem ou o que os mandou para lá, e para evitar o risco de vir a encontrar por lá muitos humoristas, a gente adapta e cria logo uma versão light sobre um certo encontro no céu...
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Daí, depois dessa confissão e reconhecimento, afirmo que muitas vezes precisamos, não só nas relações, mas também na teologia, na missiologia e na política (seria possível?) de mais humor e menos rancor. Tentarei explicar (algo que não se faz com uma piada) essa afirmação, e sugerir como o humor pode nos ajudar a fugir da incompreensão e intolerância.
Estou apenas iniciando a leitura do que parece ser um excelente livro, “Foi-se o martelo – a história do comunismo contada em piadas”, de Ben Lewis, e já vejo que será uma companhia bastante divertida. Mais que isso, suspeito que também trará excelentes insights em outros temas. O humor funciona porque é um instrumento poderoso da consciência, da capacidade de relativizar os ídolos e as ideologias, de nos fazer repensar as fidelidades que entorpecem e nos limitam a visão. Será que precisaríamos de mais humor em nossas praias, essas da teologia e da missiologia?
Parece que os evangélicos são mais sensíveis, logo ficam chateados ou mandam ao inferno algum humorista ou quem ouse fazer piada sobre como vivem ou quanto ao que creem. Qual seria a razão de tanto mau humor? Talvez venha da insegurança ou de algum sentimento de identidade facciosa, de uma sociedade que precisa se proteger dos oponentes, ou talvez venha do já se sentir seguro e ensimesmado em suas posições, sem considerar qualquer necessidade de possíveis revisões. Ainda assim, desconfio da efetividade ou da sanidade dessa postura.
Sim, às vezes me surpreendo e lamento ao observar que na teologia e na missiologia não nos abrimos tanto para o humor. Nem mesmo para o debate. As razões e motivações parecem seguir o corolário de que os outros são os inimigos, aos quais eu busco desqualificar sem conhecê-los bem, ou ainda pior, usando da ironia e do humor aplicados em forma ácida, pejorativa, agressiva, o que só amplia nosso afastamento e divisão.
Sugiro que ressuscitemos o humor sano como uma tentativa de resgatar a dignidade do debate e relativizar um pouco as fidelidades caninas às nossas próprias tradições e preferências. Mas façamos assim, por segurança e prudência. Que simpatizantes da Missão Integral, por exemplo, sejam capazes de fazer piadas sobre suas próprias ênfases missiológicas, sobre suas hermenêuticas (ou a falta delas), sobre sua práxis (ou a sua incoerência e lacunas), sobre a busca sem fim de sua própria identidade, nesse terreno fértil para as brincadeiras que é o tema de ser sempre confundida com outras teologias e missiologias. Que essa difusão e pluralidade inspirem esse humor, que ao final venha a ajudar nessa constante necessidade de refino e desenvolvimento de uma certa tradição.
Mas cuidado, sugiro que os humoristas venham sempre de sua própria casa, seja ela qual for. Que sejam, por dizer algo, os Wesleyanos a fazer piada sobre a teologia arminiana que pouco conhecem e que talvez Wesley nunca tenha abraçado; que sejam os reformados a fazerem suas próprias piadas sobre um tal de calvinismo melhor que o de Calvino, e assim por diante, onde cada um cresce e se desenvolve nessa habilidade crítica de ver a sua própria tradição com os bons olhos do auto questionamento e da risada que tanto bem faz à alma.
Creio que no dia em que conseguirmos sentar à mesma mesa e atravessar o limite de poder contar essas “auto piadas” àqueles de outra tradição, e vice-versa, no dia em que consigamos rir à vontade de todas elas, esse pode ser o derradeiro sinal. Aquele de que já crescemos, que já não somos mais crianças nesses temas, e que sabemos valorizar a fidelidade comum ao Senhor Jesus e ao seu evangelho. Claro, isso não significa que abandonaremos nossa própria tradição em prol de alguma nova salada cósmica teológica e missiológica mundial. Não, seguiremos crescendo em nossas teologias contextuais (uma vez que toda teologia é contextual, mas isso já é assunto para outro texto), respeitando e aprendendo (ainda que divergindo) daquelas feitas e vividas por outros grupos de irmãs e irmãos.
Como lhes disse, o bom humor tem ajudado a manter meu casamento sano e feliz, sendo que também por meio dele busco conservar e cultivar boas amizades com aqueles que pensam bem diferente de mim. Espero também que um dia esse mesmo sano humor venha em socorro para ajudar-nos a construir mais unidade naquilo que importa, na fé, no evangelho e na missão. Com alegria! Falando nisso, já te contei aquela última piada dos crentes de diferentes tradições que se encontram no inferno? Se bem que, para que não briguemos sobre quem ou o que os mandou para lá, e para evitar o risco de vir a encontrar por lá muitos humoristas, a gente adapta e cria logo uma versão light sobre um certo encontro no céu...
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É casado com Ruth e pai de Ana Júlia e Carolina. Integra o corpo pastoral da Igreja Metodista Livre da Saúde, em São Paulo (SP), serve globalmente como secretário adjunto para o engajamento com as Escrituras na IFES (International Fellowship of Evangelical Students) e também apoia a equipe da IFES América Latina.
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