Opinião
10 de setembro de 2020
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Oração: a fraqueza da igreja do nosso século
Por Luiz Fernando dos Santos
“E tudo o que pedirem em oração, se crerem, vocês receberão" (Mateus 21:22).
![Foto: Mimi Moromisato | Pexels](/image/atualiza_home/principal/ultimas/opiniao/2020/09_set/opi_10_09_20_luiz_fernando_oracao.jpg)
Talvez, nos primeiros dias da pandemia, desafiados e levados no "entusiasmo" de alguns líderes, e graças a Deus por isso, um momentâneo movimento de oração varreu o país, mas, com o passar dos dias, com o prolongamento da quarentena, com a suspensão das reuniões presenciais e com um certo ar de artificialidade das salas virtuais, esse movimento foi perdendo fôlego. Evidentemente existem e resistem heroicas exceções aqui e ali. Entretanto, desde agora, é preciso que restauremos o altar da oração em nossas vidas e na vida da igreja. Se faz urgente entender que a oração é a máxima prioridade da vida cristã e o expediente mais necessário à vida da igreja. De tudo o que temos para fazer e experimentar como igreja, absolutamente nada é mais essencial do que a oração.
Precisamos cultivar o quarto secreto, os encontros a sós com Deus, precisamos redescobrir e fomentar o culto doméstico e, especialmente, incentivar e dinamizar as reuniões públicas de oração. Não somente aqueles momentos quase formais e burocráticos das intercessões inseridas no meio de uma programação qualquer, que também são imprescindíveis para a nossa saúde espiritual. Falo de momentos específicos consagrados, sem pressa e sem atropelos na agenda, para nos dedicarmos à oração. Para confessar os nossos pecados pessoais e comunitários, para suplicar em favor de nossas necessidades, para consagrar o nosso país, para pedir empoderamento na obra da evangelização, para que os grandes feitos de Deus se renovem em nosso meio, para que vejamos milagres!
A história da igreja é testemunha do poder da oração na vida de grandes orantes. Os pais da igreja cultivavam a oração contemplativa em longos colóquios a sós com Deus e mantinham em suas liturgias espaços generosos para a oração. Foi essa dinâmica da oração que lhes permitiu, entre outros, formular o credo da igreja a partir das Escrituras, expor os erros dos inimigos da fé, combater com eficiência os hereges, resistir e permanecer fiéis em meio às perseguições e acompanhar o martírio de seus irmãos com um conforto inexplicável. Os confessores e doutores da fé, que viveram a sua jornada na idade média, em meio às várias incursões bárbaras e à violência desmedida dos vikings, preservaram a fé cristã, plantaram igrejas, converteram nações e derrotaram exércitos. E, a sua principal arma e o seu segredo mais bem guardado era, justamente, uma vida de perene oração, quer nas famílias, quer nos mosteiros. O fato é que a oração era o ar que mantinha a igreja viva.
Quando chega o período da Reforma, essa obra que modificou drasticamente o ocidente, praticamente fundou uma nova civilização e restaurou a igreja de seus escombros foi, antes de tudo, uma obra de oração. Martinho Lutero, Calvino, Beza, Bucer e outros eram hábeis escritores e profícuos expositores bíblicos. Mas, antes de tudo, eram mestres devotados à oração. O testemunho mais patente disso é que, para além de seus tratados e escritos, bem como o próprio testemunho pessoal de oração, a preocupação que tiveram com o culto era justamente uma preocupação com a qualidade e a intensidade da oração. Por isso mesmo, o desejo de se restaurar o saltério e, mais tarde, hinos que trouxessem com mais clareza a sã doutrina, porque entendiam como Agostinho que cantar é uma forma de orar. A Reforma se expandiu e consolidou sob as asas da oração. Os Puritanos eram homens e mulheres que cultivavam a piedade de maneira excelente por meio de um ambiente de oração nos lares e por retiros solitários para oração e contemplação. J. Knox passava madrugadas inteiras gemendo diante do Eterno: "Dá-me a Escócia ou eu morro". A rainha Maria Tudor dizia temer mais as orações de Knox do que todos os canhões da Escócia.
Também o movimento missionário pós-Reforma era essencialmente um movimento de oração, seja os moravianos e seus cem anos de oração ininterruptas, seja a Sociedade Missionária fundada por Willian Carey. O certo é que antes de colar as plantas dos pés em lugares longínquos, fincaram os seus joelhos no chão e alçaram ao mais alto céu as suas orações. E poderíamos aqui desfilar os nomes de gigantes da oração como: J. Edwards; Moody; Spurgeon, Lloyd-Jones; Billy Graham; Packer; James Houston etc. Todos eles teriam uma única coisa em comum, Deus fez muito por meio deles, por causa deles e apesar deles, porque ainda que tão fracos quanto qualquer um de nós, estavam ancorados numa vida de oração que tudo alcança do Eterno.
Atente para o conselho do príncipe dos pregadores: “Rogue pela oração - ore até que consiga orar, ore para ser ajudado a orar e não abandone a oração porque não consegue orar, pois nos momentos em que você acha que não pode orar, é que realmente está fazendo as melhores orações. As vezes quando você não sente nenhum tipo de conforto em suas súplicas e seu coração está quebrantado e abatido, é que realmente está lutando e prevalecendo com o Altíssimo” (C. H. Spurgeon).
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Luiz Fernando dos Santos (1970-2022), foi ministro presbiteriano e era casado com Regina, pai da Talita e professor de teologia no Seminário Presbiteriano do Sul e no Seminário Teológico Servo de Cristo.
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