Opinião
- 15 de dezembro de 2020
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O significado secreto do dinheiro
Por Carlos “Catito” e Dagmar Grzybowski
Em nossa sociedade ocidental, dinheiro é, na maioria das vezes, sinônimo de poder. A cultura apregoa, silenciosamente, que o sentido da vida é acumular e desfrutar de todos os prazeres que o dinheiro possa nos oferecer. Entretanto esse pensamento pode ser altamente corrosivo para os relacionamentos familiares.
Em famílias nas quais a busca pelo dinheiro se torna o foco principal da existência, o tempo passa a ser regido pela potencialidade do acumular; não pelo chronos, mas por ploútos. Não falo de famílias nas quais a escassez absoluta escraviza o trabalhador, mas daquelas que, possuindo o “pão nosso de cada dia”, estão contaminadas pela obsessão do “um pouco mais”.
Nessa obsessão a mão se transforma em garra e impossibilita o afago da ternura.
O dinheiro tem sido também, inúmeras vezes, utilizado como forma de controle manipulativo: “Eu é quem ganho, portanto determino como deve ser gasto!”. Perde-se a dimensão da unidade de unidades, declarada no postulado: “E serão os dois uma só carne” (Gn 2.24). Quando existe o medo de que o cônjuge vá “desperdiçar” o “meu” dinheiro é porque já não existe a ideia do reino do nosso. Não há um projeto de vida comum e o diálogo nesse campo é superficial.
De igual forma, pais se utilizam do poder manipulativo do dinheiro para manter controle sobre a vida dos filhos, nunca permitindo que estes tornem-se plenamente autônomos. Quando os filhos são pequenos, esses pais nunca permitem que os filhos enfrentem situações de frustração, comprando alegrias efêmeras (brinquedos, doces etc); na adolescência, regulam o processo de diferenciação da família de origem com o monetário; e, na fase de adulto jovem, inculcam nos filhos a ideia de que eles não podem ser autônomos (às vezes, nem se casarem) se não atingirem a mesma condição financeira dos pais – esquecendo que só atingiram esse patamar após vinte a trinta anos de acúmulos. E os filhos vão ficando em casa como “adultescentes”, com graves déficits de maturidade para enfrentar a vida.
Os seguidores de Cristo são chamados a serem pessoas diferenciadas na sociedade – o que John Stott definiu como “contracultura cristã”. “Não se amoldem ao padrão deste mundo, mas transformem-se pela renovação da sua mente, para que sejam capazes de experimentar e comprovar a boa, agradável e perfeita vontade de Deus” (Rm 12.2). E isso deve também nortear as relações com o dinheiro dentro da família.
O dinheiro jamais deve ser usado como instrumento de manipulação ou de poder, pois devemos lembrar: “‘Tanto a prata quanto o ouro me pertencem’, declara o Senhor dos Exércitos” (Ag 2.8). Logo, absolutamente tudo que eu ganho, mesmo com o maior esforço que faço em meu trabalho, não me pertence, antes pertence a Deus. Por isso não preciso querer obsessivamente controlar cada centavo, impedindo até mesmo que meu cônjuge saiba quanto ganho, com medo que venha a tomar de mim. Ninguém pode tirar de mim o que não é meu!
Pais devem lembrar que seu chamado é criar os filhos “segundo a instrução e o conselho do Senhor” (Ef 6.4). E a instrução do Senhor, além dessa citada pelo profeta Ageu, é: “Não acumulem para vocês tesouros na terra, onde a traça e a ferrugem destroem, e onde os ladrões arrombam e furtam” (Mt 6.19); “Não se preocupem, dizendo: ‘Que vamos comer?’ ou ‘que vamos beber?’ ou ‘que vamos vestir?’ Pois os pagãos é que correm atrás dessas coisas; mas o Pai celestial sabe que vocês precisam delas. Busquem, pois, em primeiro lugar o reino de Deus e a sua justiça, e todas essas coisas lhes serão acrescentadas” (Mt 6.31-33).
• Carlos “Catito” e Dagmar são casados, ambos psicólogos e terapeutas de casais e de família. São autores de Pais Santos, Filhos Nem Tanto. Acompanhe o blog.
Em nossa sociedade ocidental, dinheiro é, na maioria das vezes, sinônimo de poder. A cultura apregoa, silenciosamente, que o sentido da vida é acumular e desfrutar de todos os prazeres que o dinheiro possa nos oferecer. Entretanto esse pensamento pode ser altamente corrosivo para os relacionamentos familiares.
Em famílias nas quais a busca pelo dinheiro se torna o foco principal da existência, o tempo passa a ser regido pela potencialidade do acumular; não pelo chronos, mas por ploútos. Não falo de famílias nas quais a escassez absoluta escraviza o trabalhador, mas daquelas que, possuindo o “pão nosso de cada dia”, estão contaminadas pela obsessão do “um pouco mais”.
Nessa obsessão a mão se transforma em garra e impossibilita o afago da ternura.
O dinheiro tem sido também, inúmeras vezes, utilizado como forma de controle manipulativo: “Eu é quem ganho, portanto determino como deve ser gasto!”. Perde-se a dimensão da unidade de unidades, declarada no postulado: “E serão os dois uma só carne” (Gn 2.24). Quando existe o medo de que o cônjuge vá “desperdiçar” o “meu” dinheiro é porque já não existe a ideia do reino do nosso. Não há um projeto de vida comum e o diálogo nesse campo é superficial.
De igual forma, pais se utilizam do poder manipulativo do dinheiro para manter controle sobre a vida dos filhos, nunca permitindo que estes tornem-se plenamente autônomos. Quando os filhos são pequenos, esses pais nunca permitem que os filhos enfrentem situações de frustração, comprando alegrias efêmeras (brinquedos, doces etc); na adolescência, regulam o processo de diferenciação da família de origem com o monetário; e, na fase de adulto jovem, inculcam nos filhos a ideia de que eles não podem ser autônomos (às vezes, nem se casarem) se não atingirem a mesma condição financeira dos pais – esquecendo que só atingiram esse patamar após vinte a trinta anos de acúmulos. E os filhos vão ficando em casa como “adultescentes”, com graves déficits de maturidade para enfrentar a vida.
Os seguidores de Cristo são chamados a serem pessoas diferenciadas na sociedade – o que John Stott definiu como “contracultura cristã”. “Não se amoldem ao padrão deste mundo, mas transformem-se pela renovação da sua mente, para que sejam capazes de experimentar e comprovar a boa, agradável e perfeita vontade de Deus” (Rm 12.2). E isso deve também nortear as relações com o dinheiro dentro da família.
O dinheiro jamais deve ser usado como instrumento de manipulação ou de poder, pois devemos lembrar: “‘Tanto a prata quanto o ouro me pertencem’, declara o Senhor dos Exércitos” (Ag 2.8). Logo, absolutamente tudo que eu ganho, mesmo com o maior esforço que faço em meu trabalho, não me pertence, antes pertence a Deus. Por isso não preciso querer obsessivamente controlar cada centavo, impedindo até mesmo que meu cônjuge saiba quanto ganho, com medo que venha a tomar de mim. Ninguém pode tirar de mim o que não é meu!
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