Opinião
- 14 de maio de 2019
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Encontrando o seu lugar na grande história
Por Ricardo Barbosa de Sousa
O livro de Ester nos conta uma história na qual Deus age através de uma jovem judia cuja vida é tão comum como a da maioria de nós.
Ela acontece no século V a.C. em Susã, uma das duas capitais do Império Persa, governado pelo rei Assuero, aclamado como rei dos reis, porém um homem fraco, inseguro, dedicado apenas aos prazeres da corte.
Ela acontece no século V a.C. em Susã, uma das duas capitais do Império Persa, governado pelo rei Assuero, aclamado como rei dos reis, porém um homem fraco, inseguro, dedicado apenas aos prazeres da corte.
Ester era órfã e foi criada por seu primo Mordecai. O rei Assuero buscava uma nova esposa e, como todo rei daquele tempo, possuía um harém cheio de concubinas, mas precisava de uma rainha e a única exigência é que fosse jovem e extremamente bonita. Ester foi levada junto com outras candidatas para o palácio real a fim de ser preparada. Depois de um ano, ela foi apresentada ao rei e ele se encantou com a sua beleza e a amou mais do que a todas as outras, e a escolheu para ser a rainha. Aconselhada por seu primo, não revelou sua identidade judaica. Até aqui, a história de Ester é bem parecida com um conto de fadas. Sua vida segue de banquete em banquete, numa rotina sem nenhuma importância, sempre submissa, seja ao primo, seja ao rei. Até este ponto, não há nada que justifique que seu nome figure como um livro da Bíblia.
Entra em cena Hamã e o conto de fadas se transforma num pesadelo. Hamã é o conselheiro real, homem ambicioso e manipulador. Ele convence o rei que ordene a todos os súditos que se curvem diante dele, reconhecendo seu poder, mas Mordecai se recusa e isso deixa Hamã furioso. Hamã descobre que Mordecai era judeu e elabora um plano para aniquilar todos os judeus que viviam no Império Persa (3:6-9); isso envolvia praticamente todos os judeus daquela época. O rei, mais preocupado com suas festas, deu carta branca a Hamã e nem se preocupou em saber que povo era aquele.
Chegamos ao clímax da história. Mordecai, sabendo do plano de Hamã, pediu para Ester falar com o rei a fim de evitar uma tragédia. Ela responde dizendo que seria impossível. Mordecai envia o seguinte recado para Ester: “Porque, se de todo te calares agora, de outra parte se levantará para os judeus socorro e livramento, mas tu e a casa de teu pai perecereis; e quem sabe se para conjuntura como esta é que foste elevada a rainha?” (4:14). A jovem Ester, que até este momento nunca havia tomado uma decisão, se vê diante de um conflito onde apenas ela se encontra numa posição capaz de evitar um genocídio. Ela assume seu papel de rainha e a responsabilidade de mudar a decisão do rei arriscando a sua própria vida.
A história de Ester, sob vários aspectos, tem muita semelhança com a história de Moisés, com a diferença de que ela não viu a sarça ardente, nem as pragas, o mar se abrindo ou a coluna de fogo. A libertação dos judeus do Egito é comemorada na festa da Páscoa, e a festa de Purim celebra os feitos da rainha Ester salvando os judeus do massacre.
Somos, como Ester, pessoas comuns vivendo vidas ordinárias. As demandas e oportunidades estão à nossa volta o tempo todo, precisamos apenas compreender a conjuntura do dia a dia e responder com coragem e obediência à sua demanda. Achamos que é preciso encontrar um propósito para a vida, quando na verdade é Deus que nos encontra e realiza o seu propósito através das circunstâncias em que nos encontramos. Cada um precisa, de fato, encontrar o seu lugar na grande história.
Pastor da Igreja Presbiteriana do Planalto e coordenador do Centro Cristão de Estudos, em Brasília (DF). É colunista da revista Ultimato e autor de A Espiritualidade, o Evangelho e a Igreja, Pensamentos Transformados, Emoções Redimidas e O Caminho do Coração.
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