Opinião
- 28 de agosto de 2019
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Como cultivar o silêncio em uma sociedade barulhenta
Por Luiz Fernando dos Santos
“Mas o Senhor está em seu santo templo; diante dele fique em silêncio toda a terra" (Hc 2.20).
Vivemos em uma sociedade barulhenta, ruidosa e dispersiva. Estamos todos patologicamente nos acostumando ao barulho. O silêncio parece ser algo que aumenta a nossa angústia e a sensação de desamparo, solidão e alienação. Por isso mesmo, para muitos a primeira ação do dia é ligar a TV, acessar um canal do youtube ou sua playlist preferida. Outros tantos passam o dia com a TV e o rádio ligados ou ancorados nas redes sociais porque não conseguem mais, como diriam os antigos, “habitare secum”, isto é, habitar consigo mesmos, como se não se suportassem.
Transportamos essa patologia do barulho também para a hora da adoração. Já não somos mais um povo contemplativo, não existe mais espaço para o ‘silêncio sagrado’, a meditação, a quietude. Nem mesmo conseguimos saborear a palavra de Deus. Nossos cultos refletem, muitas vezes, os desarranjos estruturais de nossas emoções e de nossa psique adoecida pelo caos do barulho. Por isso, as nossas músicas são tão altas, os cantores fazem questão de soltar as vozes o quanto podem nos microfones e as guitarras e baterias não poupam ninguém da sua fúria.
Com o culto assim e com louvores tão agressivos, as coisas que ficam partidas e quebradas dentro de nós, bem como os nossos sentimentos e as nossas emoções desajustas, não conseguem pacificar-se em nosso interior. Por isso, a sensação de incomodo, irritação, cansaço e, porque não, tédio, quando somos convidados a pensar e refletir na Palavra de Deus e nas orientações gerais do sermão.
Contudo há um barulho ainda mais ensurdecedor, aquele que verdadeiramente compromete a nossa capacidade de ouvir com discernimento a voz do bom pastor Jesus. Este barulho provém do nosso coração agitado e sobressaltado pelas preocupações da vida, a depressão ocasionada por um passado não reconciliado, a ansiedade por um presente que não se consegue viver de maneira plena e o pânico quanto às incertezas de um futuro que não se pode projetar com segurança.
Essas vozes falam todas ao mesmo tempo dentro de nós e conseguem nos confundir, desorientar e até mesmo nos paralisar em face da vida que não conseguimos viver. Essas vozes precisam ser caladas, pois de outra maneira não ouviremos a doce voz de Jesus no Evangelho sendo sussurrada pelo Espírito Santo em nosso coração. Sem o discernimento de quem nos fala o que, somos suscetíveis a ouvir qualquer orientação e seguir qualquer sugestão que nos pareça mais imediata, mais prática, ainda que não seja conforme a verdade e a justiça.
Precisamos cultivar uma espiritualidade do silêncio exterior, físico, que trará equilíbrio, sanidade, calma, paz, aglutinação das forças e energias da alma e concentração nas coisas essenciais da vida. Precisamos desse silêncio exterior para aprender a contemplação, para nos deixar encantar pela criação e elevar o pensamento às alturas, onde Cristo está.
Precisamos cultivar a quietude, o silêncio interior, fazer calar e sossegar as vozes que gritam dentro de nós, aprendendo a meditar nas promessas, contar as muitas bênçãos e perceber o murmúrio do Espírito Santo dentro de nós nos convencendo do amor do Pai.
Quem sabe, além de começarmos isso em casa, no dia a dia, também pudéssemos transferir essa serenidade terapêutica para os nossos cultos, para aprendermos de fato o que significa descansar em Deus?
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Luiz Fernando dos Santos (1970-2022), foi ministro presbiteriano e era casado com Regina, pai da Talita e professor de teologia no Seminário Presbiteriano do Sul e no Seminário Teológico Servo de Cristo.
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