Opinião
- 09 de outubro de 2015
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Chamados para cuidar das crianças
“Missão” tem origem na palavra “mittere” (latim) que significa enviar, mandar, emitir, arremessar. Ela foi adotada pela igreja na Idade Média para descrever o envio de Jesus por Deus ao mundo no poder do Espírito Santo.
Quem envia? Deus
Para onde? Para um mundo divorciado do seu Criador
Para fazer o quê? Reconciliar consigo mesmo todas as coisas.
Com que autoridade e poder? No poder do Espírito Santo.
Começamos a usar a palavra “missão” no século passado, todas as vezes que uma igreja enviava pessoas para uma atuação religiosa específica em lugares distantes. Os motivos principais eram promover a conversão dos não-cristãos e implantar igrejas.
Ao focar exclusivamente nestes dois motivos cometemos o erro de individualizar e institucionalizar demais a missão da igreja no mundo. Distanciamo-nos do modelo deixado por Jesus que via a pessoa de forma integral, o indivíduo como parte de uma comunidade, cada comunidade como parte de uma realidade maior, e esta realidade como parte integrante da história que ele mesmo escreve e cujo fim será marcado por um reino de justiça e paz.
Isto não é difícil de perceber se olharmos, por exemplo, o que o Novo Testamento diz sobre o final dos tempos. A maioria destes textos escatológicos relata acontecimentos que afetarão radicalmente não apenas pessoas, mas também a natureza, os poderes, os governos, as etnias, as nações. A grande notícia hoje é que a reconciliação (com o Criador e com as criaturas) é possível, e está disponível em todas as esferas da experiência humana. O evangelho anunciado no Novo Testamento vai muito além da resposta individual (conversão) e da conquista de novos adeptos à fé cristã (novas igrejas); ele abrange toda a história humana e todo o universo!
Voltando às origens
Voltemos então às origens. “Novamente Jesus disse: ‘Paz seja com vocês! Assim como o Pai me enviou, eu os envio” (Jo 20.21).
Quem nos envia? Jesus.
Para onde? Para os ambientes onde reina a injustiça e o descaso para com o nosso Criador. Como consequência, a vida é desvalorizada, o ser humano é oprimido – especialmente aqueles que não detêm poder.
Para fazer o quê? Para servirmos como agentes de reconciliação. Cristo tornou possível a paz entre o Criador e a criatura, entre a criatura e o seu próximo, entre a criatura e o seu meio ambiente (Co 1.20).
Com que autoridade e poder? No poder do Espírito Santo.
>> Sua igreja é “amiga da criança”? Faça o teste
Objetivos básicos no trabalho social cristão
Partindo desta perspectiva de missão, que contribuição específica o trabalho social cristão pode oferecer ao mundo? Quando uma igreja envia um de seus membros para o trabalho social entre crianças e adolescentes socialmente vulneráveis, ela deve entender que a missão na qual acaba de se envolver deve atingir quatro objetivos básicos:
- Resgate e cura. Para as crianças e adolescentes vulneráveis a mensagem de reconciliação traz a promessa de que é possível quebrar o ciclo opressor que governa seus relacionamentos. Eles podem e devem buscar ajuda para sair de situações violentas e desumanas. Eles descobrem que não foram predestinados a serem vítimas de tudo e de todos. Já em um processo de cura, eles descobrem que é necessário abrir mão de serem juízes daqueles que nos feriram – Deus se encarregará deles. E mais, descobrem que ele quer nos perdoar e curar, ele está do nosso lado e tem um futuro promissor para nós!
- Cuidado. As necessidades diárias de crianças e adolescentes não podem esperar por processos burocráticos intermináveis. Eles precisam de comida, um lugar seguro para morar, uma escola para frequentar, alguém para abraçar e aconselhar, hoje! Há mil e uma maneiras de prover estes cuidados. No final, todos eles devem dizer a mesma coisa para a criança: você mora no coração de Deus!
- Defesa. Lutamos por melhorias práticas na vida das crianças, mas não paramos por aí. Queremos ver crianças e adolescentes fazendo as pazes com Deus e com as pessoas que os rodeiam. Por isto, lutamos pela família. Queremos que eles tenham convivência em uma comunidade na qual os valores do reino de Deus começam a ser observados. Por isto, lutamos pela garantia dos direitos das crianças e adolescentes negligenciados. Queremos ver a sociedade caminhando para uma reconciliação com Deus que resulta em ações práticas de justiça, por isto lutamos nos espaços públicos e buscamos influenciar nossas autoridades para que suas decisões beneficiem as crianças e suas famílias.
- Promoção. Num mundo onde Jesus é o Rei, as crianças serão acolhidas como cidadãs, não como objetos de consumo, como é a realidade de tantas hoje. Isto significa treinar a nós mesmos a enxergar as crianças pela perspectiva de Jesus, começando no seio da igreja! Se Jesus participasse de nossas igrejas hoje, que reformas ele faria no jeito de tratarmos as crianças? Teríamos crianças ministrando, na sua simplicidade, a seu modo, a nós adultos? Será que a nossa adoração seria tão “adultocêntrica” como é hoje? Reconheceríamos a espiritualidade dos pequeninos como algo a ser admirada e imitada?
O trabalho de Deus de “reconciliar consigo mesmo todas as coisas” exige de nós uma resposta que envolve nosso compromisso e engajamento. Apesar disso ele é essencialmente uma obra divina, e, é claro, divinamente orquestrada. Parte do que almejamos só acontecerá no futuro. No presente anunciamos esta nova ordem inaugurada por Jesus na sua morte e ressurreição há dois milênios.
Que programa de governo pode fazer isto? Que autoridade humana instituída pode ligar na terra algo que será ao mesmo tempo ligado no céu? (Mt18.18.) No entanto, fomos comissionados para fazer justamente essa tarefa, que se torna impossível se não ocuparmos todas as brechas disponíveis na sociedade.
No trabalho social é comum expressarmos tristeza e até mágoa em relação à igreja. Como manifestação da presença de Jesus na terra, ela precisa se empenhar em nos enviar, nos capacitar, nos acolher de volta quando adoecemos na alma. E nós, trabalhadores, precisamos reconhecer que a obra é de Deus e que a missão é da igreja. Reconciliemo-nos então com ela!
• Elsie Gilbert é jornalista e editora do blog da Rede Mãos Dadas.
Nota:
Artigo publicado originalmente na revista Mãos Dadas nº 28, com o título O Trabalho Social como Missão: começando pela Igreja.
Leia também
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Foto: James GIlbert
Quem envia? Deus
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Para fazer o quê? Reconciliar consigo mesmo todas as coisas.
Com que autoridade e poder? No poder do Espírito Santo.
Começamos a usar a palavra “missão” no século passado, todas as vezes que uma igreja enviava pessoas para uma atuação religiosa específica em lugares distantes. Os motivos principais eram promover a conversão dos não-cristãos e implantar igrejas.
Ao focar exclusivamente nestes dois motivos cometemos o erro de individualizar e institucionalizar demais a missão da igreja no mundo. Distanciamo-nos do modelo deixado por Jesus que via a pessoa de forma integral, o indivíduo como parte de uma comunidade, cada comunidade como parte de uma realidade maior, e esta realidade como parte integrante da história que ele mesmo escreve e cujo fim será marcado por um reino de justiça e paz.
Isto não é difícil de perceber se olharmos, por exemplo, o que o Novo Testamento diz sobre o final dos tempos. A maioria destes textos escatológicos relata acontecimentos que afetarão radicalmente não apenas pessoas, mas também a natureza, os poderes, os governos, as etnias, as nações. A grande notícia hoje é que a reconciliação (com o Criador e com as criaturas) é possível, e está disponível em todas as esferas da experiência humana. O evangelho anunciado no Novo Testamento vai muito além da resposta individual (conversão) e da conquista de novos adeptos à fé cristã (novas igrejas); ele abrange toda a história humana e todo o universo!
Voltando às origens
Voltemos então às origens. “Novamente Jesus disse: ‘Paz seja com vocês! Assim como o Pai me enviou, eu os envio” (Jo 20.21).
Quem nos envia? Jesus.
Para onde? Para os ambientes onde reina a injustiça e o descaso para com o nosso Criador. Como consequência, a vida é desvalorizada, o ser humano é oprimido – especialmente aqueles que não detêm poder.
Para fazer o quê? Para servirmos como agentes de reconciliação. Cristo tornou possível a paz entre o Criador e a criatura, entre a criatura e o seu próximo, entre a criatura e o seu meio ambiente (Co 1.20).
Com que autoridade e poder? No poder do Espírito Santo.
>> Sua igreja é “amiga da criança”? Faça o teste
Objetivos básicos no trabalho social cristão
Partindo desta perspectiva de missão, que contribuição específica o trabalho social cristão pode oferecer ao mundo? Quando uma igreja envia um de seus membros para o trabalho social entre crianças e adolescentes socialmente vulneráveis, ela deve entender que a missão na qual acaba de se envolver deve atingir quatro objetivos básicos:
- Resgate e cura. Para as crianças e adolescentes vulneráveis a mensagem de reconciliação traz a promessa de que é possível quebrar o ciclo opressor que governa seus relacionamentos. Eles podem e devem buscar ajuda para sair de situações violentas e desumanas. Eles descobrem que não foram predestinados a serem vítimas de tudo e de todos. Já em um processo de cura, eles descobrem que é necessário abrir mão de serem juízes daqueles que nos feriram – Deus se encarregará deles. E mais, descobrem que ele quer nos perdoar e curar, ele está do nosso lado e tem um futuro promissor para nós!
- Cuidado. As necessidades diárias de crianças e adolescentes não podem esperar por processos burocráticos intermináveis. Eles precisam de comida, um lugar seguro para morar, uma escola para frequentar, alguém para abraçar e aconselhar, hoje! Há mil e uma maneiras de prover estes cuidados. No final, todos eles devem dizer a mesma coisa para a criança: você mora no coração de Deus!
- Defesa. Lutamos por melhorias práticas na vida das crianças, mas não paramos por aí. Queremos ver crianças e adolescentes fazendo as pazes com Deus e com as pessoas que os rodeiam. Por isto, lutamos pela família. Queremos que eles tenham convivência em uma comunidade na qual os valores do reino de Deus começam a ser observados. Por isto, lutamos pela garantia dos direitos das crianças e adolescentes negligenciados. Queremos ver a sociedade caminhando para uma reconciliação com Deus que resulta em ações práticas de justiça, por isto lutamos nos espaços públicos e buscamos influenciar nossas autoridades para que suas decisões beneficiem as crianças e suas famílias.
- Promoção. Num mundo onde Jesus é o Rei, as crianças serão acolhidas como cidadãs, não como objetos de consumo, como é a realidade de tantas hoje. Isto significa treinar a nós mesmos a enxergar as crianças pela perspectiva de Jesus, começando no seio da igreja! Se Jesus participasse de nossas igrejas hoje, que reformas ele faria no jeito de tratarmos as crianças? Teríamos crianças ministrando, na sua simplicidade, a seu modo, a nós adultos? Será que a nossa adoração seria tão “adultocêntrica” como é hoje? Reconheceríamos a espiritualidade dos pequeninos como algo a ser admirada e imitada?
O trabalho de Deus de “reconciliar consigo mesmo todas as coisas” exige de nós uma resposta que envolve nosso compromisso e engajamento. Apesar disso ele é essencialmente uma obra divina, e, é claro, divinamente orquestrada. Parte do que almejamos só acontecerá no futuro. No presente anunciamos esta nova ordem inaugurada por Jesus na sua morte e ressurreição há dois milênios.
Que programa de governo pode fazer isto? Que autoridade humana instituída pode ligar na terra algo que será ao mesmo tempo ligado no céu? (Mt18.18.) No entanto, fomos comissionados para fazer justamente essa tarefa, que se torna impossível se não ocuparmos todas as brechas disponíveis na sociedade.
No trabalho social é comum expressarmos tristeza e até mágoa em relação à igreja. Como manifestação da presença de Jesus na terra, ela precisa se empenhar em nos enviar, nos capacitar, nos acolher de volta quando adoecemos na alma. E nós, trabalhadores, precisamos reconhecer que a obra é de Deus e que a missão é da igreja. Reconciliemo-nos então com ela!
• Elsie Gilbert é jornalista e editora do blog da Rede Mãos Dadas.
Nota:
Artigo publicado originalmente na revista Mãos Dadas nº 28, com o título O Trabalho Social como Missão: começando pela Igreja.
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