Opinião
- 25 de fevereiro de 2022
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Cadê o povo que estava aqui?
A contagem regressiva da pandemia
Por Cláudio Marra
A questão dos números sempre chamou a atenção da igreja. Desde o começo. Lucas conta que, após o sermão de Pedro no Pentecostes, houve batismos e acréscimo de quase três mil pessoas (At 2.41). Lucas não possuía o número exato, mas registrou que “o Senhor acrescentava dia a dia os que iam sendo salvos” (v.47). Tornaram-se uma multidão de homens e mulheres (4.32;5.14) e ia aumentando o número dos discípulos (6.1,7).
No consolo do Espírito Santo, a igreja crescia em número (9.31).
Somando convertidos ou subtraindo perseguidos, a contagem não parou ao longo dos séculos. E chegou a época em que, orientada por forte pragmatismo, a igreja transformou o crescimento numérico em artigo de fé. Técnicas “evangelísticas” foram aperfeiçoadas para engordar os relatórios. Sem cerimônia, mesmo a manipulação foi adotada.
Por que as pessoas vinham para a igreja, e por que continuavam frequentando?
Alguns momentos especiais na vida da sociedade aumentaram adesões e frequência. Após a Segunda Guerra Mundial, viam-se longas filas à entrada para os cultos nos Estados Unidos. Pessoas na chuva esperando a igreja abrir. No livro Para Todo o Sempre (CEP), Catherine Marshall relata essa ocorrência, mas não se aprofunda na análise das causas. Fica parecendo que a explicação se encontrava na excelente performance retórica e homilética do rev. Peter Marshall que, de fato foi um notável pregador. O clima da sociedade pós-guerra e o resultante apelo emocional não são mencionados.
Os mesmos recursos retóricos e homiléticos continuaram explicando o sucesso de pregadores também em nossa cultura tupiniquim e a crescente adesão de muitos fiéis. Claro que não vamos nos esquecer da religiosidade de raiz, familiar e social. Muitos iam e vão à igreja porque sim. E outro componente importante é o entretenimento. Ordem e reverência, nem pensar. Numa sociedade que valoriza a diversão acima de tudo, os cultos foram se tornando espetáculos, há muita piada, a galera aplaude. Aí a igreja cresce.
E assim chegamos aos tempos da pandemia. Só que os números andam encolhendo. Primeiro nos entusiasmamos com tanta gente acompanhando os cultos on-line. Depois a realidade foi se impondo, os números foram minguando. Agora, com o retorno ao presencial sendo ensaiado, nos perguntamos: “Aonde foram todos?”.
Na verdade, a queda vertiginosa da frequência não começou na pandemia. Já vinha ocorrendo, mascarada, porém, pela situação de poucas igrejas maiores que mantinham elevada frequência graças a seus recursos midiáticos e ao talento de seu standup entertainer. Esse caminho é muito ingrato, porque, depender dos recursos do showbizz para sobreviver significa entrar em uma competição que não podemos vencer. Podemos ousar muito, mas o showbizz ousa muito mais.
Houve um momento na história de Israel em que o profeta Elias se julgou sozinho como servo do Senhor (1Rs 19.1-18). Servir ao Deus verdadeiro punha a saúde em risco e a debandada foi geral. Mas Deus tinha os que não haviam dobrado seus joelhos a Baal. Sete mil adoradores fiéis.
Não sabemos quem foram eles então, e não sabemos quem é o remanescente hoje. Crentes que não dependem de ser entretidos para ir à igreja. Não vão aos cultos só porque sim. Não é apenas uma questão de tradição. Não apreciam apenas a socialização. Não são fãs do pastor descolado.
Esse rebanho pequeno e fiel precisa ser pastoreado, discipulado. E a igreja continua. Com muitos ou com poucos (Mt 16.13-26).
Leia mais:
» A pandemia, o exílio e a festa
» O que se espera da Igreja na (pós) pandemia?
» Coronavírus. Oração não é prevenção. Prevenção não é oração
Por Cláudio Marra
A questão dos números sempre chamou a atenção da igreja. Desde o começo. Lucas conta que, após o sermão de Pedro no Pentecostes, houve batismos e acréscimo de quase três mil pessoas (At 2.41). Lucas não possuía o número exato, mas registrou que “o Senhor acrescentava dia a dia os que iam sendo salvos” (v.47). Tornaram-se uma multidão de homens e mulheres (4.32;5.14) e ia aumentando o número dos discípulos (6.1,7).
No consolo do Espírito Santo, a igreja crescia em número (9.31).
Somando convertidos ou subtraindo perseguidos, a contagem não parou ao longo dos séculos. E chegou a época em que, orientada por forte pragmatismo, a igreja transformou o crescimento numérico em artigo de fé. Técnicas “evangelísticas” foram aperfeiçoadas para engordar os relatórios. Sem cerimônia, mesmo a manipulação foi adotada.
Por que as pessoas vinham para a igreja, e por que continuavam frequentando?
Alguns momentos especiais na vida da sociedade aumentaram adesões e frequência. Após a Segunda Guerra Mundial, viam-se longas filas à entrada para os cultos nos Estados Unidos. Pessoas na chuva esperando a igreja abrir. No livro Para Todo o Sempre (CEP), Catherine Marshall relata essa ocorrência, mas não se aprofunda na análise das causas. Fica parecendo que a explicação se encontrava na excelente performance retórica e homilética do rev. Peter Marshall que, de fato foi um notável pregador. O clima da sociedade pós-guerra e o resultante apelo emocional não são mencionados.
Os mesmos recursos retóricos e homiléticos continuaram explicando o sucesso de pregadores também em nossa cultura tupiniquim e a crescente adesão de muitos fiéis. Claro que não vamos nos esquecer da religiosidade de raiz, familiar e social. Muitos iam e vão à igreja porque sim. E outro componente importante é o entretenimento. Ordem e reverência, nem pensar. Numa sociedade que valoriza a diversão acima de tudo, os cultos foram se tornando espetáculos, há muita piada, a galera aplaude. Aí a igreja cresce.
E assim chegamos aos tempos da pandemia. Só que os números andam encolhendo. Primeiro nos entusiasmamos com tanta gente acompanhando os cultos on-line. Depois a realidade foi se impondo, os números foram minguando. Agora, com o retorno ao presencial sendo ensaiado, nos perguntamos: “Aonde foram todos?”.
Na verdade, a queda vertiginosa da frequência não começou na pandemia. Já vinha ocorrendo, mascarada, porém, pela situação de poucas igrejas maiores que mantinham elevada frequência graças a seus recursos midiáticos e ao talento de seu standup entertainer. Esse caminho é muito ingrato, porque, depender dos recursos do showbizz para sobreviver significa entrar em uma competição que não podemos vencer. Podemos ousar muito, mas o showbizz ousa muito mais.
Houve um momento na história de Israel em que o profeta Elias se julgou sozinho como servo do Senhor (1Rs 19.1-18). Servir ao Deus verdadeiro punha a saúde em risco e a debandada foi geral. Mas Deus tinha os que não haviam dobrado seus joelhos a Baal. Sete mil adoradores fiéis.
Não sabemos quem foram eles então, e não sabemos quem é o remanescente hoje. Crentes que não dependem de ser entretidos para ir à igreja. Não vão aos cultos só porque sim. Não é apenas uma questão de tradição. Não apreciam apenas a socialização. Não são fãs do pastor descolado.
Esse rebanho pequeno e fiel precisa ser pastoreado, discipulado. E a igreja continua. Com muitos ou com poucos (Mt 16.13-26).
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Casado com Sandra, é jornalista, pastor presbiteriano e editor da Cultura Cristã.
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Ricardo Barbosa