Opinião
- 02 de junho de 2021
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As primeiras orações da Bíblia e as razões para orar
Por Mario Rost
No Novo Testamento, Jesus e os apóstolos ensinam sobre a importância de orarmos sempre. Mas quando aparecem as primeiras orações na Bíblia? Quando Adão e Eva, ainda no jardim do Éden falavam com Deus, quando dialogavam com o Criador... podemos dizer que eram orações? Onde se ensina, no início da Bíblia, que os seres humanos podem continuar falando com Deus mesmo depois de terem sido expulsos do paraíso? Existe, no começo da Bíblia, um mandamento dizendo: “Orem”?
Que situações nos levam a orar? As primeiras orações mencionadas na Bíblia nos ensinam sobre as razões para orarmos.
1 – É conhecida a oração de Abraão (Gênesis 18) que clama por misericórdia para que os justos que eventualmente existissem em Sodoma não fossem destruídos junto com os maus. Uma oração de puro atrevimento, não em favor de si mesmo, mas pelos moradores da cidade prestes a ser destruída. Parece um duelo: “Talvez haja cinquenta pessoas direitas na cidade” (vs.23ss). “Pode acontecer que haja apenas quarenta e cinco pessoas direitas” (vs.27ss). “E se houver somente quarenta bons?” (vs.29). “E se houver só trinta?” (vs.30). “E se houver somente vinte?” (vs.31). “E se houver só dez?” (vs.32).
A resposta de Deus foi sempre a mesma: “Por causa desses (50... 40...10...), não destruirei a cidade”. Mas, como sabemos, a cidade pereceu.
Anotemos para nós o exemplo de Abraão. É legítimo “falar com Deus” intercedendo pelos nossos vizinhos, pelas pessoas do nosso bairro, da nossa cidade.
2 – Vamos encontrar a primeira oração, digo, um texto que se reconheceria como tendo formato de oração, em Gênesis 24, a oração de Eliezer. Por um lado, sublinha que assuntos das famílias são assuntos de oração. Era uma grande preocupação de Abraão encontrar uma esposa para seu filho Isaque. Deu ao seu fiel empregado Eliezer, a tarefa de encontrá-la. Por outro lado, esta oração, feita pelo empregado, põe que é legítimo orarmos pelo sucesso do nosso trabalho, que a bênção de Deus é importante e necessária para realizarmos bem o nosso trabalho.
A oração de Eliezer foi: “Ó Senhor, Deus do meu patrão Abraão, faze com que tudo dê certo e sê bondoso para o meu patrão. Eu estou aqui perto do poço aonde as moças da cidade vêm para tirar água. Vou dizer a uma delas: "Por favor, abaixe o seu pote para que eu beba um pouco de água". Se ela disser assim: "Beba, e eu vou dar água também para os seus camelos", que seja essa a moça que escolheste para o teu servo Isaque. Se isso acontecer, ficarei sabendo que foste bondoso para o meu patrão.”
Neste caso, aconteceu exatamente como Eliezer apresentara a Deus. Rebeca seguiu com ele para ser esposa de Isaque na tranquilidade de que essa era a vontade de Deus para ela. Como diríamos: Rebeca foi resposta de oração!
3 – Notem como o assunto de mulheres estéreis é bem recorrente na Bíblia. Muitas mulheres estéreis tiveram filhos em resposta a suas orações. Ana que gerou Samuel, Isabel que gerou João e tantas outras. Que acontecia? O que explica? Eram “bloqueios psicológicos” que ficavam atenuados quando o assunto era entregue a Deus? Ou foram milagres que Deus realizou para que tivessem os filhos? Entre as primeiras orações da Bíblia também destacamos esta, em Gn 25.21: “Rebeca não podia ter filhos, e por isso Isaque orou a Deus, o SENHOR, em favor dela. O Senhor ouviu a oração dele, e Rebeca ficou grávida. Na barriga dela havia gêmeos”, Esaú e Jacó.
A formação da família, o nascimento de filhos é motivo de orarmos.
4 – As tensões e conflitos entre membros de uma família são motivos de oração. Em Gn 32.9, Jacó está voltando para sua terra de origem, donde tivera que fugir por desavenças com o irmão Esaú. Agora que o reencontro com o passado se aproximava, Jacó recorre a Deus em oração.
Está voltando carregado de ansiedade e tensões por um reencontro difícil e imprevisível com o irmão. Sente culpa por trapaças realizadas contra os interesses do irmão Esaú. Não tem controle da situação e há muito potencial para um desfecho desfavorável. Então orou dizendo: “Ó Senhor, eu te peço que me salves do meu irmão Esaú. Tenho medo de que ele venha e me mate e também as mulheres e as crianças. Lembra que prometeste que tudo me correria bem e que os meus descendentes seriam como a areia da praia, tantos que ninguém poderia contar.”
A resposta traria, como de fato trouxe, paz ao coração do próprio Jacó e traria benefícios para toda a família, restaurando a relação dos irmãos.
Este olhar sobre a oração no tempo dos patriarcas Abraão, Isaque e Jacó só pode nos animar a nos dirigirmos intencionalmente a Deus pela família, pelo trabalho e pela cidade. Oremos.
• Mário Rost, nascido em Ijuí, RS, graduado em Teologia pelo Seminário Concórdia, de Porto Alegre, RS, e Letras pela Universidade de São Paulo (USP), é pastor da Igreja Evangélica Luterana do Brasil (IELB) e Gerente de Desenvolvimento Institucional da Sociedade Bíblica do Brasil (“Engajamento com a Bíblia”).
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