Opinião
- 25 de outubro de 2013
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Um só Deus, uma Igreja, uma missão
A pedido do Portal Ultimato, registro a seguir minhas impressões do 2º Congresso Nordestino de Missões, que terminou hoje (25/10/2013) aqui em João Pessoa, terra boa da Paraíba.
E eu começo com um lamento. Onde estava eu onze anos atrás que perdi o primeiro Congresso?!
Logo na chegada do 2º CNM, todos os congressistas fomos recebidos por dezenas de “amarelinhos” e bandas musicais. Os “amarelinhos” eram os mais de setenta voluntários, a maior parte jovens, que usavam um colete amarelo para identificá-los como “seu criado” – sim, era isso que vinha escrito na parte de trás do colete: uma antiga expressão regional usada para se referir ao servo ou empregado. Aqueles rapazes e moças sorridentes e disponíveis nos ajudavam (ou tentavam) em qualquer necessidade. E nos recebiam, em duas filas laterais, no corredor da entrada do Espaço Gospel com um “bom dia” ou “boa noite” ou “a paz do Senhor” (acho que dependendo da expressão, roupa e tamanho da Bíblia de cada pessoa). Que atitude acolhedora e celebrativa!
O tema do congresso foi um tiro certeiro. “Um só Deus, uma Igreja, uma Missão” é o que precisamos ouvir como igreja brasileira. E ouvimos isso não só no tema, mas pelo menos em duas composições musicais do pastor Aguinaldo Melo, feitas por encomenda (a musiquinha gostosa e simples está até agora martelando na minha cabeça). Falando em música, nada como ouvir e cantar a música boa, regional e contextualizada da Banda Sal da Terra durante cinco dias. Muito bom.
O congresso foi estruturado de modo que os três dias principais (de terça a quinta) trataram de uma parte do tema durante todo aquele dia – desde a devocional dirigida por Russell Shedd, como as duas palestras da manhã, a palestra da noite e os testemunhos. Desse modo, na terça-feira o foco foi claramente o Deus Trino, o dono da missão. Na quarta, foi a vez da Igreja. Na quinta, a missão.
O congresso tinha objetivos concretos: que nós, como pessoas e igrejas representadas, saíssemos daqui com o compromisso de orar e atender às principais necessidades do Brasil e do mundo, com especial enfoque no Nordeste. Ronaldo Lidório nos lembrou mais de uma vez dos nove segmentos pouco evangelizados do Brasil. Usando suas próprias palavras:
“É injustificável que ainda haja 121 etnias indígenas sem missionários (31 delas no Nordeste). É injustificável que haja cerca de 10.000 povoados ribeirinhos no Norte do Brasil e 700 mil ciganos sem igreja (300 mil ciganos no Nordeste, com menos de 0,5% de evangélicos). É injustificável que haja 2 mil comunidades quilombolas que não possuem igreja entre eles nem em seu entorno. É injustificável que haja 6 mil assentamentos no Sertão sem presença de igreja (o desafio dos sertanejos). Temos também os imigrantes vindos de cem países, 27 são países fechados para a ação missionária (principalmente nas cidades de São Paulo, Rio, Brasília e Foz do Iguaçu). Além disso, temos 9 milhões de surdos com deficiência de fala (pouquíssimas iniciativas além da tradução dos cultos). Temos ainda os mais ricos dos ricos, isolados em seus condomínios de luxo e os mais pobres dos pobres, invisíveis aos nossos olhos (há três vezes menos evangélicos nesses dois grupos).”
O congresso enfatizou também os povos não alcançados fora do Brasil. Sérgio Ribeiro bem lembrou que o Brasil tem hoje o mesmo número de missionários entre indígenas de dez anos atrás – ele não disse, mas isso também é injustificável. Os congressistas foram convocados a darem uma resposta prática, de compromisso em oração, divulgação das necessidades em nossas igrejas locais e envio de missionários e pesquisadores para ajudar concretamente. Os compromissos de cada um já estão sendo enviados para o e-mail: contato@povosminoritarios.com.br
Como palestrantes tivemos aqueles já bem conhecidos e ‘tradicionais’ em congressos do tipo (como o próprio Ronaldo, Hernandes Dias Lopes, Barbara Burns, Henrique Terena), mas também novos líderes, principalmente nordestinos (como Eduardo Leandro, Aurivan Marinho), que não ficaram atrás em conteúdo, boa comunicação e autoridade bíblica. Foi surpreendente e desafiador ouvir cada um deles.1
E as histórias? Isso o espaço não dá pra falar. Mas foi uma das partes altas do congresso. Peça para o pastor sertanejo Aurivan contar a história da vida dele (mas leve um lenço, porque você vai precisar). Convide a missionária Gil para um chá e ouça da boca dela como foi que a primeira mulher solteira foi enviada para o campo pela Assembleia de Deus da Paraíba. Convide o Henrique Terena para um lanche e surpreenda-se com a história da evangelização dos terenas e, de quebra, pergunte como foi a ‘organização’ do primeiro CONPLEI, para o qual eram esperados de 300 a 3.000 indígenas (ninguém podia prever exatamente). Pergunte ao pastor Leonardo como é viver no Oriente Médio já por oito anos. Pergunte ao Hernandes como ele fez para decorar o Novo Testamento todinho (e com as referências bíblicas!). Procure saber a história de Sam Solomon, pseudônimo de um muçulmano convertido que nem pode ter endereço fixo devido à perseguição por sua fé em Cristo (este você não poderá chamar para um cafezinho).
A pontualidade dos ajuntamentos maiores foi uma virtude. Sérgio Ribeiro, presidente do congresso, fazia questão de começar o programa com cinco minutos de antecedência.
Os estandes estavam bonitos, sendo a maioria de organizações e ministérios do Nordeste.
O tempo todo, durante o congresso, a glória foi dada a Deus e não a qualquer pessoa ou organização.
Que venha o 3º Congresso Nordestino de Missões. E quem não demore 11 anos. Quem sabe o próximo virá com a colheita dos compromissos e parcerias assumidos nesses dias aqui. Fico imaginando o Lidório – nos desafiando, como sempre, mas com novos desafios: “É injustificável termos tantas tribos indígenas não alcançadas pelo Brasil afora, já que as 31 tribos do Nordeste agora possuem igreja e porções da Palavra em suas próprias línguas!” Como diz o paraibano: “Já pensou? Eita, Deus é bom!”
De uma “criada sudestina",
____________
Délnia Bastos foi uma das representantes do Centro Evangélico de Missões (CEM) no CNM2.
O Congresso em frases:
A minha barriga está alegre! (Henrique Terena, explicando que o centro das emoções dos Terenas não está no coração, mas na barriga)
*
Todas as ondas são do mesmo mar. (Henrique Terena, referindo-se à continuidade da ação de Deus nas três ondas missionárias2 entre indígenas brasileiros)
*
O que adianta expulsar o demônio se o demônio é você? (Aurivan Marinho)
*
Quem precisa de energia vá à fonte, que é Cristo. Por ele, todo o universo foi criado (Cl 1.16). (Russell Shedd)
*
Se acontecesse no Nordeste algo como o que aconteceu na Ásia, a partir de Éfeso, no espaço de três meses, toda a região seria rapidamente alcançada. (Russell Shedd)
*
Sua boca precisa ser lavada com sabonete espiritual. (Russell Shedd)
*
A mentira mais comum entre os crentes é a hipocrisia. (Russell Shedd)
*
Este congresso foi um congresso de líderes (talvez 70% dos participantes), que irão influenciar em seu retorno para casa. Este congresso teve de fato foco missionário. Este congresso foi sujeito a Deus e à Palavra de Deus (não apenas histórias e desafios), mas alimento espiritual. (Ronaldo Lidório, no encerramento)
Notas:
1. As palestras, as devocionais e os cursos podem ser adquiridos em www.lifestream.com.br
2. Termo cunhado por Isaac Costa: COSTA, Isaac. De todas as tribos: a missão da Igreja e a questão indígena. Ultimato, Editora.
Atualizado em 29/10/2013, às 09h11.
Leia mais
Relatos diários do CNM2 (Blog do Paralelo 10)
A redenção do sertão nordestino (revista Ultimato 336)
Cidades do Interior (Sérgio Lyra)
E eu começo com um lamento. Onde estava eu onze anos atrás que perdi o primeiro Congresso?!
Logo na chegada do 2º CNM, todos os congressistas fomos recebidos por dezenas de “amarelinhos” e bandas musicais. Os “amarelinhos” eram os mais de setenta voluntários, a maior parte jovens, que usavam um colete amarelo para identificá-los como “seu criado” – sim, era isso que vinha escrito na parte de trás do colete: uma antiga expressão regional usada para se referir ao servo ou empregado. Aqueles rapazes e moças sorridentes e disponíveis nos ajudavam (ou tentavam) em qualquer necessidade. E nos recebiam, em duas filas laterais, no corredor da entrada do Espaço Gospel com um “bom dia” ou “boa noite” ou “a paz do Senhor” (acho que dependendo da expressão, roupa e tamanho da Bíblia de cada pessoa). Que atitude acolhedora e celebrativa!
O tema do congresso foi um tiro certeiro. “Um só Deus, uma Igreja, uma Missão” é o que precisamos ouvir como igreja brasileira. E ouvimos isso não só no tema, mas pelo menos em duas composições musicais do pastor Aguinaldo Melo, feitas por encomenda (a musiquinha gostosa e simples está até agora martelando na minha cabeça). Falando em música, nada como ouvir e cantar a música boa, regional e contextualizada da Banda Sal da Terra durante cinco dias. Muito bom.
O congresso foi estruturado de modo que os três dias principais (de terça a quinta) trataram de uma parte do tema durante todo aquele dia – desde a devocional dirigida por Russell Shedd, como as duas palestras da manhã, a palestra da noite e os testemunhos. Desse modo, na terça-feira o foco foi claramente o Deus Trino, o dono da missão. Na quarta, foi a vez da Igreja. Na quinta, a missão.
O congresso tinha objetivos concretos: que nós, como pessoas e igrejas representadas, saíssemos daqui com o compromisso de orar e atender às principais necessidades do Brasil e do mundo, com especial enfoque no Nordeste. Ronaldo Lidório nos lembrou mais de uma vez dos nove segmentos pouco evangelizados do Brasil. Usando suas próprias palavras:
“É injustificável que ainda haja 121 etnias indígenas sem missionários (31 delas no Nordeste). É injustificável que haja cerca de 10.000 povoados ribeirinhos no Norte do Brasil e 700 mil ciganos sem igreja (300 mil ciganos no Nordeste, com menos de 0,5% de evangélicos). É injustificável que haja 2 mil comunidades quilombolas que não possuem igreja entre eles nem em seu entorno. É injustificável que haja 6 mil assentamentos no Sertão sem presença de igreja (o desafio dos sertanejos). Temos também os imigrantes vindos de cem países, 27 são países fechados para a ação missionária (principalmente nas cidades de São Paulo, Rio, Brasília e Foz do Iguaçu). Além disso, temos 9 milhões de surdos com deficiência de fala (pouquíssimas iniciativas além da tradução dos cultos). Temos ainda os mais ricos dos ricos, isolados em seus condomínios de luxo e os mais pobres dos pobres, invisíveis aos nossos olhos (há três vezes menos evangélicos nesses dois grupos).”
O congresso enfatizou também os povos não alcançados fora do Brasil. Sérgio Ribeiro bem lembrou que o Brasil tem hoje o mesmo número de missionários entre indígenas de dez anos atrás – ele não disse, mas isso também é injustificável. Os congressistas foram convocados a darem uma resposta prática, de compromisso em oração, divulgação das necessidades em nossas igrejas locais e envio de missionários e pesquisadores para ajudar concretamente. Os compromissos de cada um já estão sendo enviados para o e-mail: contato@povosminoritarios.com.br
Como palestrantes tivemos aqueles já bem conhecidos e ‘tradicionais’ em congressos do tipo (como o próprio Ronaldo, Hernandes Dias Lopes, Barbara Burns, Henrique Terena), mas também novos líderes, principalmente nordestinos (como Eduardo Leandro, Aurivan Marinho), que não ficaram atrás em conteúdo, boa comunicação e autoridade bíblica. Foi surpreendente e desafiador ouvir cada um deles.1
E as histórias? Isso o espaço não dá pra falar. Mas foi uma das partes altas do congresso. Peça para o pastor sertanejo Aurivan contar a história da vida dele (mas leve um lenço, porque você vai precisar). Convide a missionária Gil para um chá e ouça da boca dela como foi que a primeira mulher solteira foi enviada para o campo pela Assembleia de Deus da Paraíba. Convide o Henrique Terena para um lanche e surpreenda-se com a história da evangelização dos terenas e, de quebra, pergunte como foi a ‘organização’ do primeiro CONPLEI, para o qual eram esperados de 300 a 3.000 indígenas (ninguém podia prever exatamente). Pergunte ao pastor Leonardo como é viver no Oriente Médio já por oito anos. Pergunte ao Hernandes como ele fez para decorar o Novo Testamento todinho (e com as referências bíblicas!). Procure saber a história de Sam Solomon, pseudônimo de um muçulmano convertido que nem pode ter endereço fixo devido à perseguição por sua fé em Cristo (este você não poderá chamar para um cafezinho).
A pontualidade dos ajuntamentos maiores foi uma virtude. Sérgio Ribeiro, presidente do congresso, fazia questão de começar o programa com cinco minutos de antecedência.
Os estandes estavam bonitos, sendo a maioria de organizações e ministérios do Nordeste.
O tempo todo, durante o congresso, a glória foi dada a Deus e não a qualquer pessoa ou organização.
Que venha o 3º Congresso Nordestino de Missões. E quem não demore 11 anos. Quem sabe o próximo virá com a colheita dos compromissos e parcerias assumidos nesses dias aqui. Fico imaginando o Lidório – nos desafiando, como sempre, mas com novos desafios: “É injustificável termos tantas tribos indígenas não alcançadas pelo Brasil afora, já que as 31 tribos do Nordeste agora possuem igreja e porções da Palavra em suas próprias línguas!” Como diz o paraibano: “Já pensou? Eita, Deus é bom!”
De uma “criada sudestina",
____________
Délnia Bastos foi uma das representantes do Centro Evangélico de Missões (CEM) no CNM2.
O Congresso em frases:
A minha barriga está alegre! (Henrique Terena, explicando que o centro das emoções dos Terenas não está no coração, mas na barriga)
*
Todas as ondas são do mesmo mar. (Henrique Terena, referindo-se à continuidade da ação de Deus nas três ondas missionárias2 entre indígenas brasileiros)
*
O que adianta expulsar o demônio se o demônio é você? (Aurivan Marinho)
*
Quem precisa de energia vá à fonte, que é Cristo. Por ele, todo o universo foi criado (Cl 1.16). (Russell Shedd)
*
Se acontecesse no Nordeste algo como o que aconteceu na Ásia, a partir de Éfeso, no espaço de três meses, toda a região seria rapidamente alcançada. (Russell Shedd)
*
Sua boca precisa ser lavada com sabonete espiritual. (Russell Shedd)
*
A mentira mais comum entre os crentes é a hipocrisia. (Russell Shedd)
*
Este congresso foi um congresso de líderes (talvez 70% dos participantes), que irão influenciar em seu retorno para casa. Este congresso teve de fato foco missionário. Este congresso foi sujeito a Deus e à Palavra de Deus (não apenas histórias e desafios), mas alimento espiritual. (Ronaldo Lidório, no encerramento)
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1. As palestras, as devocionais e os cursos podem ser adquiridos em www.lifestream.com.br
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