Opinião
- 12 de agosto de 2016
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Ser mãe é “padecer no paraíso”. E ser pai?
Coelho Neto escreveu que “ser mãe é padecer no paraíso”. Uma frase poética que mostra dois lados opostos de uma maravilhosa lida: padecimento e satisfação. Mas, e ser pai?
Ser pai é deter-se diante do mistério da vida e ousar participar dele. É experimentar com sua esposa esse processo divino de gerar, de fertilizar, de semear. Depois, regar, cuidar, dar atenção e sonhar. É lançar a semente e colher, nove meses depois, o fruto desse amor, fruto inquietantemente aguardado.
Ser pai é aprender o desapego de si mesmo. É aprender a domar o selvagem egoísmo e o “eucentrismo” que urra dentro de nós. É deixar-se doer de amor por aquela pequenina criatura, parte de você, que fragilmente espera por seu cuidado e por sua atenção. É morrer para seus “purismos” mais impuros, para renascer genitor.
Ser pai é aprender que a cumplicidade mãe e filho é algo inestimável e por isso saber colocar-se, principalmente nos primeiros anos do pequenino bebê, no seu devido lugar. Nesse tempo o pai é especialmente protetor e contemplativo da relação intensa entre os dois: o que esteve dentro, no útero, e a que o acolheu, no útero. O pai, nessa época, é alguém como que de fora. Faz parte da relação, mas não partilha das primeiras revelações íntimas pós-uterinas. À medida que os dias avançam, integra-se de maneira igualmente intensa e amorosa na relação filial. Assim, ser pai é saber cuidar sem ser cuidado, descobrir o ritmo do afastar-se e do aproximar-se, isso tudo sem ferir a si mesmo e ao outro, como que tomado pelo desvanecimento da exclusão e da inferioridade. Ser pai é não exigir para si o protagonismo da história da vida.
Ser pai é ver os filhos crescendo ao redor e tê-los como amigos. Todavia, ao mesmo tempo, ser pai é não negar-lhes a bênção do ensino e da orientação, por meio de conversas, beijos, abraços, “varas” e repreensões. Não repreender com dureza e ternura é o mesmo que deixar o filho à solta, à míngua, sem parâmetros que o nortearão para toda a vida. E o pior, sem essa expressão de amor jamais a criança conhecerá profundamente o Deus que é todo amor e todo justiça. O pai que se omite na criação se omite no amor e no cuidado. O dinheiro pouco pode realizar nessa área do relacionamento.
Ser pai é ver o tempo passar velozmente, testemunhar os meninos se tornando moços tão belos, tão rapidamente e trazer consigo aquele sentimento de incompletude: “eu poderia ter feito mais por eles…” Ser pai é ser assim: totalmente felicidade, totalmente dúvida. Ser pai é indagar-se no paraíso.
• Carlinhos Veiga é pastor, músico e jornalista. Conheça o blog do autor.
Leia mais
A mui santa missão de ser pai
O Pai Desconhecido
Pais Santos, Filhos Nem Tanto
Foto: Domínio público / Pixabay.com
Ser pai é deter-se diante do mistério da vida e ousar participar dele. É experimentar com sua esposa esse processo divino de gerar, de fertilizar, de semear. Depois, regar, cuidar, dar atenção e sonhar. É lançar a semente e colher, nove meses depois, o fruto desse amor, fruto inquietantemente aguardado.
Ser pai é aprender o desapego de si mesmo. É aprender a domar o selvagem egoísmo e o “eucentrismo” que urra dentro de nós. É deixar-se doer de amor por aquela pequenina criatura, parte de você, que fragilmente espera por seu cuidado e por sua atenção. É morrer para seus “purismos” mais impuros, para renascer genitor.
Ser pai é aprender que a cumplicidade mãe e filho é algo inestimável e por isso saber colocar-se, principalmente nos primeiros anos do pequenino bebê, no seu devido lugar. Nesse tempo o pai é especialmente protetor e contemplativo da relação intensa entre os dois: o que esteve dentro, no útero, e a que o acolheu, no útero. O pai, nessa época, é alguém como que de fora. Faz parte da relação, mas não partilha das primeiras revelações íntimas pós-uterinas. À medida que os dias avançam, integra-se de maneira igualmente intensa e amorosa na relação filial. Assim, ser pai é saber cuidar sem ser cuidado, descobrir o ritmo do afastar-se e do aproximar-se, isso tudo sem ferir a si mesmo e ao outro, como que tomado pelo desvanecimento da exclusão e da inferioridade. Ser pai é não exigir para si o protagonismo da história da vida.
Ser pai é ver os filhos crescendo ao redor e tê-los como amigos. Todavia, ao mesmo tempo, ser pai é não negar-lhes a bênção do ensino e da orientação, por meio de conversas, beijos, abraços, “varas” e repreensões. Não repreender com dureza e ternura é o mesmo que deixar o filho à solta, à míngua, sem parâmetros que o nortearão para toda a vida. E o pior, sem essa expressão de amor jamais a criança conhecerá profundamente o Deus que é todo amor e todo justiça. O pai que se omite na criação se omite no amor e no cuidado. O dinheiro pouco pode realizar nessa área do relacionamento.
Ser pai é ver o tempo passar velozmente, testemunhar os meninos se tornando moços tão belos, tão rapidamente e trazer consigo aquele sentimento de incompletude: “eu poderia ter feito mais por eles…” Ser pai é ser assim: totalmente felicidade, totalmente dúvida. Ser pai é indagar-se no paraíso.
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