Opinião
- 22 de fevereiro de 2023
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O culto em Asbury e as Vozes femininas nos Avivamentos
Por Rute Salviano Almeida
O evento, que está sendo interpretado por alguns teólogos como um pequeno “despertamento espiritual” ou novo “avivamento” começou no último dia 8, quando alguns estudantes se reuniram para cultuar a Jesus na capela da Universidade de Asbury. A reunião costumeira e despretensiosa, irrompeu em inúmeras expressões emocionais por parte dos jovens, que testemunharam estar dominados por um silencioso senso de transcendência. O culto, que tinha hora para terminar, continuou e, até o momento não se encerrou.1
A Universidade de Asbury, em Wilmore, Kentucky, nos Estados Unidos está experimentando um mover de Deus há mais de uma semana. Centenas de universitários estão reunidos em oração e louvores ininterruptos, ajoelhados em lágrimas como dominados por um silencioso senso de transcendência.
Muitas comparações estão sendo feitas entre este acontecimento e outros na História. Lembro que ao pesquisar para escrever o livro Vozes femininas nos Avivamentos queria muito descobrir expressões físicas, dons espirituais, quebrantamentos; enfim, sem saber ainda o que iria descobrir, imaginava alguns fenômenos.
Desde o começo do livro, quando descrevi o contexto de época, percebi a frieza espiritual, as igrejas vazias, os discursos mais filosóficos do que bíblicos e o deísmo que pregava um Deus que não se importava com os homens, um Cristo que era somente mestre e não fez milagres, e uma Bíblia que não é revelação de nosso Pai Celestial.
Mas, ao ler sobre a vida e transformação dos avivalistas que pregavam somente a Palavra de Deus e, ao serem impedidos de pregar nas igrejas, saíram para fora, para as praças, para os campos, realizando grandes acampamentos, onde se reuniam milhares de pessoas que, divididos em grupos, ouviam vários pregadores, então, eu entendi.
Começando em 1790, aquele movimento atingiu o ponto máximo de 1800 a 1810 e continuou por muito tempo. As pessoas vinham de diversos lugares e as pregações eram de manhã, à tarde e à noite. Calcula-se que até 25 mil pessoas compareciam nesses acampamentos.
No século 18, o povo estava sedento da Palavra de Deus. O sermão “Pecadores nas mãos de um Deus irado”, de Jonathan Edwards, os fez cair ao chão, chorar, gritar e clamar a Deus: salva-me!
Uma descrição de um acampamento em Cane Ridge, no Kentucky, aponta que centenas caíam prostrados, diante do poder de Deus, como mortos em uma batalha. Acontecia um renascimento espiritual, um reavivamento, uma consciência de que precisavam do Senhor para viver e tinham sede dele. Pedro Cartwright afirmou que os gritos poderiam ser ouvidos a quilômetros de distância.2
Algo mais que queria destacar era a vida de santidade dos avivalistas, homens de Deus que amavam a Bíblia e ao seu próximo. John Fletcher (escolhido por Wesley para seu sucessor), considerado um anjo em corpo humano, era ouvido por aqueles que não entendiam uma palavra do que ele falava (avivamento em Dublin, na Irlanda): “fomos olhar para ele, porque o céu parecia descer em feixes sobre sua face”3, e, ao morrer, Fletcher falou: “Os meus pobres, o que será dos meus pobres?”, demonstrando sua vida humanitária e na presença do Senhor.
Somos gratas a Deus porque naquela época a preocupação era somente que a Palavra fosse ouvida, as pessoas fossem salvas e regeneradas pelo Espírito Santo. O bêbado inveterado erguia o copo e o baixava sem tomá-lo; as pessoas, depois de um longo dia de trabalho, desciam do trem, fora de sua estação, quando ouviam hinos e se juntavam aos que cantavam. Todos sedentos do alimento espiritual.
E os fenômenos que eu buscava? Aconteceram sim curas, dons musicais, línguas estranhas e estrangeiras na rua Azuza, onde foi narrado que uma adolescente falou em hebraico para um jornalista judeu, que estava ali em oculto, e ele se converteu e testemunhou porque ninguém sabia sobre sua vida, e como ela sabia tudo e falou-lhe em sua língua vernacular?
Em Asbury, uma estudante de psicologia declarou: “Quando ouvi falar sobre o que acontecia, fiquei confusa, mas, quando fui à capela da Universidade, entendi que precisava daquela experiência e que muitos outros estudantes dela necessitavam”.4
Assim como eu, após pesquisar os avivamentos, entendi que gritos, prantos, arrependimentos, pessoas caídas no solo na convicção de que nada eram diante de um Deus tão poderoso são comuns quando o ser humano se encontra diante da mensagem do criador do Universo.
Uma mulher foi transportada automaticamente de um lugar para outro porque não queria pregar, pela proibição que lhe era imposta. E muitas mulheres estadunidenses atravessaram o país anunciando a fé em Cristo, e a abstinência alcóolica, relatos que se encontram no Vozes femininas nos Avivamentos.
As igrejas fecharam-se ao movimento, não era tradicional, não era normal; mas, os avivalistas encontraram seu local de fala, e milhares se converteram ao Cristo vivo, e a sociedade começou um processo de transformação.
Percebi que, para que ocorra um avivamento, o que mais importa é estar na presença de Deus, é ter sede pela Bíblia, é a pregação pura e genuína dessa Palavra, é apelar ao arrependimento e à mudança de vida, como o fez João Batista, como o fez Jesus Cristo, como o fez o apóstolo Paulo, assim devem fazer nossos ministros: buscar conhecer e entender a vontade divina e agir segundo o seu conduzir. Basta de sermões sem profundidade que pretendem seguir o que é rápido e descartável da sociedade atual.
“Se o meu povo, que se chama pelo meu nome, se humilhar, orar, me buscar e se converter dos seus maus caminhos, eu ouvirei dos céus, perdoarei os seus pecados e sararei a sua terra”. 2 Crônicas 7.14.
A BÍBLIA NÃO ERRA. OS LEITORES, NEM TANTO | REVISTA ULTIMATO
O Ano-Novo é sempre uma oportunidade de renovação de votos. E não há voto mais importante e definidor para 2023 do que o propósito de se expor regularmente à Palavra de Deus, por meio da leitura das Escrituras. A Bíblia deve ocupar lugar central em nossa vida e na vida da igreja.
A matéria de capa desta edição não só incentiva o leitor à leitura regular da Bíblia, mas também o encoraja a aceitar o desafio de olhar reverentemente para as Escrituras como “um diário de Deus”, a partir da “chave” do amor.
Notas:
1. CAPLER, Rodolfo. Asbury: o culto evangélico que começou, mas ainda não terminou. Blog de Matheus Leitão. 15 fev. 2023. Disponível em: https://veja.abril.com.br/coluna/matheus-leitao/asbury-o-culto-evangelico-que-comecou-mas-ainda-nao-terminou/ Acesso em: 17 fev. 2023
2. LUCCOK, Halford E. Linha de esplendor sem fim. Trad. Oswaldo Ramos. São Paulo: Junta Geral de Educação Cristã da Igreja |Metodista do Brasil, [s.d], p. 46-47.
1. CAPLER, Rodolfo. Asbury: o culto evangélico que começou, mas ainda não terminou. Blog de Matheus Leitão. 15 fev. 2023. Disponível em: https://veja.abril.com.br/coluna/matheus-leitao/asbury-o-culto-evangelico-que-comecou-mas-ainda-nao-terminou/ Acesso em: 17 fev. 2023
2. LUCCOK, Halford E. Linha de esplendor sem fim. Trad. Oswaldo Ramos. São Paulo: Junta Geral de Educação Cristã da Igreja |Metodista do Brasil, [s.d], p. 46-47.
3. MOORE, Henry. The life of Mrs. Mary Fletcher, p. 173-174. Nota do editor na edição de 1818, pela Methodist Episcopal Church in the United States.
4. CAPLER, Rodolfo. Asbury: o culto evangélico que começou, mas ainda não terminou. Blog de Matheus Leitão. 15 fev. 2023. Disponível em: https://veja.abril.com.br/coluna/matheus-leitao/asbury-o-culto-evangelico-que-comecou-mas-ainda-nao-terminou/ Acesso em: 17 fev. 2023.
Mestre em teologia e pós-graduada em história do cristianismo, é autora de Vozes Femininas nos Avivamentos (Ultimato), além de Vozes Femininas no Início do Cristianismo, Uma Voz Feminina Calada pela Inquisição, Uma Voz Feminina na Reforma e Vozes Femininas no Início do Protestantismo Brasileiro (Prêmio Areté 2015).
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