Opinião
- 21 de março de 2022
- Visualizações: 6861
- comente!
- +A
- -A
- compartilhar
O criativo humilde – o vício moral e a busca pela criatividade florescente
Por Matthew Niermann
A cultura criativa contemporânea fomenta o vício moral e demanda um caráter arrogante. De que outra forma o cristão pode buscar a criatividade?
A criatividade é considerada um dos mais valiosos atributos de nossos dias. O LinkedIn, o maior site de conexão entre profissionais e empresas, elaborou um estudo com base em sua ampla rede de aproximadamente 700 milhões de membros e 50 milhões de empresas para identificar as habilidades mais requisitadas.1 Os resultados de 2019 e 2020 são semelhantes. A qualidade mais procurada nos colaboradores foi a criatividade.
É importante observar que o estudo do LinkedIn abrangeu toda a gama de setores econômicos e disciplinas aplicadas. Muito frequentemente, as noções de criatividade são relegadas às artes plásticas e aplicadas: artistas, músicos ou cantores. No entanto, como esse estudo mostra, a capacidade criativa é fundamental para uma grande variedade de atividades humanas, de matemáticos a cientistas, de empresários a cirurgiões e atletas.
A criatividade, a imagem de Deus e o vício moral
A constatação da presença abrangente da criatividade nas atividades humanas não causa estranheza se analisada sob a perspectiva cristã. A Bíblia cristã ensina que Deus criou o cosmo e toda a vida que existe nele. Como parte dessa ação, Deus criou algo especial, homem e mulher, e os formou à sua própria imagem.2 Dessa forma, porque Deus é um Deus criativo, e somos criados à sua imagem, também somos seres criativos. Não apenas alguns, mas todos nós.
Mas é importante notar que temos uma capacidade limitada de alinhar nosso caráter e ações com os atributos de Deus. O cristianismo ensina que há uma distinção entre o Criador e a criação. Somos criados à imagem de Deus; não somos Deus. Portanto, não possuímos esses atributos de forma perfeita como Deus, e muitas vezes nossa vida é definida pelo vício moral.
Infelizmente, a cultura criativa contemporânea é fundamentalmente definida pelo vício. Qualquer livro ou artigo sobre criatividade apresenta uma variedade de apelos e bordões do tipo: Seja você mesmo! Encontre a sua voz! Expresse sua verdadeira forma de ser! Ou, em outras palavras: Busque em si mesmo, e somente em si mesmo, a fonte de bondade, verdade e beleza. A cultura criativa contemporânea fomenta o vício moral e demanda um caráter arrogante.
Quando nossa criatividade flui de um caráter perverso, sacrificamos a criatividade proveitosa no altar dos desejos egoístas. A vanglória, a preguiça, a concupiscência dos olhos, a ira, a ganância, a inveja e o orgulho envenenam nosso caráter e sufocam nossa criatividade.
Quem somos afeta nossa criatividade. Nosso caráter moral definirá se teremos uma criatividade desregrada ou nutriremos uma criatividade florescente.
Como seguidores de Cristo, devemos entender essa cultura arrogante e, com um espírito humilde, nos comprometer a refletir os atributos criativos de Deus. Só então, como indivíduos criativos e humildes, poderemos ver os frutos saudáveis da criatividade florescente.
Um código de conduta para criativos humildes
Apresento a seguir uma espécie de código uma tentativa de descrever a vida criativa baseada na humildade. Esse código de humildade criativa tenta simplificar o que é, na realidade, a expressão de uma longa jornada que requer a parceria ativa com Deus e o recebimento de graça abundante. Apesar de suas limitações, o código procura fornecer uma imagem coerente das raízes de humildade necessárias para uma vida de florescente criatividade.
O código de conduta dos criativos humildes
1. Reconheço que a fonte suprema de tudo o que é certo e bom não pode ser encontrada na natureza humana decaída. Nenhum ser humano pode expressar de forma plena a bondade, a verdade ou a beleza. Assim, não podemos simplesmente buscar nossa “própria voz” ou nosso “verdadeiro eu” como a fonte. Em vez disso, devemos buscar fontes externas, mais bem exemplificadas na pessoa do próprio Deus; e buscar qualquer outra fonte é um ato de orgulho.
2. Entendo que, apesar da sua natureza caída, a humanidade é feita à imagem de Deus – imago dei. Temos a capacidade inata de refletir os atributos de Deus, incluindo a criatividade. Também precisamos reconhecer que o aperfeiçoamento não é um processo involuntário; é intencional e ocorre em parceria com Deus. Todo progresso moral é uma ação espiritual resultante da graça de Deus.
3. Estou disposto a definir minha identidade na segurança que encontro em Deus e não no reconhecimento público do trabalho criativo, sem confundir trabalhos criativos com identidade pessoal. Assim, o criativo humilde é a expressão de um processo criativo que é livre para explorar, experimentar e até falhar.
4. Empenho-me a conduzir um processo criativo que satisfaça as exigências do amor. Tal processo coloca as necessidades dos outros acima do estilo criativo ou da marca, definindo objetivos criativos por meio de atitudes empáticas de serviço, cuidado e amor.
5. Comprometo-me a utilizar princípios criativos definidos pela bondade, verdade e beleza, em vez de ceder à tentação de explorar curiosidades hedonistas. Tal criatividade não busca a inovação meramente pelo seu aspecto inovador, mas visa realmente compreender bem a criação e o Criador.
6. Valorizo os talentos e sucessos de outros indivíduos criativos. O criativo humilde resiste aos sentimentos concomitantes de dúvida, insegurança e amargura, celebrando o sucesso de outros trabalhos criativos pois entende que eles exercem seu papel na promoção da bondade, da verdade e da beleza.
7. Estou disposto a compartilhar ideias e a colaborar no processo criativo, sabendo que o objetivo supremo da criatividade não é a vanglória, mas a reconciliação de Deus e sua criação. Essa criatividade prioriza o dever de atuar como agente de reconciliação neste mundo, acima da garantia de posse.
8. Valorizo o aspecto fundamentalmente contracultural da vida definida pela humildade, reconhecendo que atingir esse nível de criatividade florescente não é um evento único e isolado. Em vez disso, é um caminho de fidelidade duradoura que segue na mesma direção da busca por humildade, virtude e semelhança com Cristo. Tal caminho de fidelidade, se trilhado sem intencionalidade e longe da graça de Deus, poderá naturalmente se desviar para o caminho do vício. No entanto, apesar do caminho estreito, a esperança e o anseio por uma criatividade florescente impulsionam o movimento em direção à criatividade humilde.
Quando participamos de atos criativos, não apenas expressamos a nós mesmos, mas refletimos os atributos de Deus. Portanto, como cristãos que buscam a criatividade, não devemos trabalhar com orgulho para “sermos fiéis a nós mesmos”. Em vez disso, como cristãos que buscam a criatividade, devemos humildemente aperfeiçoar nosso caráter à semelhança de Cristo. Só assim, como pessoas criativas humildes, nossa criatividade pode florescer como Deus planejou.
Notas
1. Petrone, P. (2020, December 2018). Why creativity is the most important skill in the world.
2. Genesis 1.27
Nota da Editora: Este artigo é baseado no livro The Humble Creative: Moral Vice and the Pursuit of Flourishing Creativity. Este livro oferece os primeiros passos na busca da criatividade florescente, examinando a cultura criativa contemporânea e identificando áreas-chave nas quais essa cultura fomenta vícios específicos na vida de uma pessoa criativa. O livro é um apelo a todos os criativos cristãos para que busquem exercer sua criatividade com base em atitudes de humildade.
• Matthew Niermann é reitor adjunto de arquitetura e criatividade e diretor do Centro de Criatividade e Testemunho Cristão da Universidade Batista da Califórnia. Também atua como diretor de sistema de dados para o Movimento de Lausanne. É PhD em design arquitetônico pela Universidade de Michigan e tem pós-graduações em pensamento cristão pela Universidade Biola e pelo Seminário Teológico Gordon-Conwell.
Artigo originalmente publicado no site Movimento Lausanne. Reproduzido com permissão.
Leia mais:
» Conheça o livro Cristo e a Criatividade, de Michael Card
A cultura criativa contemporânea fomenta o vício moral e demanda um caráter arrogante. De que outra forma o cristão pode buscar a criatividade?
A criatividade é considerada um dos mais valiosos atributos de nossos dias. O LinkedIn, o maior site de conexão entre profissionais e empresas, elaborou um estudo com base em sua ampla rede de aproximadamente 700 milhões de membros e 50 milhões de empresas para identificar as habilidades mais requisitadas.1 Os resultados de 2019 e 2020 são semelhantes. A qualidade mais procurada nos colaboradores foi a criatividade.
É importante observar que o estudo do LinkedIn abrangeu toda a gama de setores econômicos e disciplinas aplicadas. Muito frequentemente, as noções de criatividade são relegadas às artes plásticas e aplicadas: artistas, músicos ou cantores. No entanto, como esse estudo mostra, a capacidade criativa é fundamental para uma grande variedade de atividades humanas, de matemáticos a cientistas, de empresários a cirurgiões e atletas.
A criatividade, a imagem de Deus e o vício moral
A constatação da presença abrangente da criatividade nas atividades humanas não causa estranheza se analisada sob a perspectiva cristã. A Bíblia cristã ensina que Deus criou o cosmo e toda a vida que existe nele. Como parte dessa ação, Deus criou algo especial, homem e mulher, e os formou à sua própria imagem.2 Dessa forma, porque Deus é um Deus criativo, e somos criados à sua imagem, também somos seres criativos. Não apenas alguns, mas todos nós.
Mas é importante notar que temos uma capacidade limitada de alinhar nosso caráter e ações com os atributos de Deus. O cristianismo ensina que há uma distinção entre o Criador e a criação. Somos criados à imagem de Deus; não somos Deus. Portanto, não possuímos esses atributos de forma perfeita como Deus, e muitas vezes nossa vida é definida pelo vício moral.
Infelizmente, a cultura criativa contemporânea é fundamentalmente definida pelo vício. Qualquer livro ou artigo sobre criatividade apresenta uma variedade de apelos e bordões do tipo: Seja você mesmo! Encontre a sua voz! Expresse sua verdadeira forma de ser! Ou, em outras palavras: Busque em si mesmo, e somente em si mesmo, a fonte de bondade, verdade e beleza. A cultura criativa contemporânea fomenta o vício moral e demanda um caráter arrogante.
Quando nossa criatividade flui de um caráter perverso, sacrificamos a criatividade proveitosa no altar dos desejos egoístas. A vanglória, a preguiça, a concupiscência dos olhos, a ira, a ganância, a inveja e o orgulho envenenam nosso caráter e sufocam nossa criatividade.
Quem somos afeta nossa criatividade. Nosso caráter moral definirá se teremos uma criatividade desregrada ou nutriremos uma criatividade florescente.
Como seguidores de Cristo, devemos entender essa cultura arrogante e, com um espírito humilde, nos comprometer a refletir os atributos criativos de Deus. Só então, como indivíduos criativos e humildes, poderemos ver os frutos saudáveis da criatividade florescente.
Um código de conduta para criativos humildes
Apresento a seguir uma espécie de código uma tentativa de descrever a vida criativa baseada na humildade. Esse código de humildade criativa tenta simplificar o que é, na realidade, a expressão de uma longa jornada que requer a parceria ativa com Deus e o recebimento de graça abundante. Apesar de suas limitações, o código procura fornecer uma imagem coerente das raízes de humildade necessárias para uma vida de florescente criatividade.
O código de conduta dos criativos humildes
1. Reconheço que a fonte suprema de tudo o que é certo e bom não pode ser encontrada na natureza humana decaída. Nenhum ser humano pode expressar de forma plena a bondade, a verdade ou a beleza. Assim, não podemos simplesmente buscar nossa “própria voz” ou nosso “verdadeiro eu” como a fonte. Em vez disso, devemos buscar fontes externas, mais bem exemplificadas na pessoa do próprio Deus; e buscar qualquer outra fonte é um ato de orgulho.
2. Entendo que, apesar da sua natureza caída, a humanidade é feita à imagem de Deus – imago dei. Temos a capacidade inata de refletir os atributos de Deus, incluindo a criatividade. Também precisamos reconhecer que o aperfeiçoamento não é um processo involuntário; é intencional e ocorre em parceria com Deus. Todo progresso moral é uma ação espiritual resultante da graça de Deus.
3. Estou disposto a definir minha identidade na segurança que encontro em Deus e não no reconhecimento público do trabalho criativo, sem confundir trabalhos criativos com identidade pessoal. Assim, o criativo humilde é a expressão de um processo criativo que é livre para explorar, experimentar e até falhar.
4. Empenho-me a conduzir um processo criativo que satisfaça as exigências do amor. Tal processo coloca as necessidades dos outros acima do estilo criativo ou da marca, definindo objetivos criativos por meio de atitudes empáticas de serviço, cuidado e amor.
5. Comprometo-me a utilizar princípios criativos definidos pela bondade, verdade e beleza, em vez de ceder à tentação de explorar curiosidades hedonistas. Tal criatividade não busca a inovação meramente pelo seu aspecto inovador, mas visa realmente compreender bem a criação e o Criador.
6. Valorizo os talentos e sucessos de outros indivíduos criativos. O criativo humilde resiste aos sentimentos concomitantes de dúvida, insegurança e amargura, celebrando o sucesso de outros trabalhos criativos pois entende que eles exercem seu papel na promoção da bondade, da verdade e da beleza.
7. Estou disposto a compartilhar ideias e a colaborar no processo criativo, sabendo que o objetivo supremo da criatividade não é a vanglória, mas a reconciliação de Deus e sua criação. Essa criatividade prioriza o dever de atuar como agente de reconciliação neste mundo, acima da garantia de posse.
8. Valorizo o aspecto fundamentalmente contracultural da vida definida pela humildade, reconhecendo que atingir esse nível de criatividade florescente não é um evento único e isolado. Em vez disso, é um caminho de fidelidade duradoura que segue na mesma direção da busca por humildade, virtude e semelhança com Cristo. Tal caminho de fidelidade, se trilhado sem intencionalidade e longe da graça de Deus, poderá naturalmente se desviar para o caminho do vício. No entanto, apesar do caminho estreito, a esperança e o anseio por uma criatividade florescente impulsionam o movimento em direção à criatividade humilde.
Quando participamos de atos criativos, não apenas expressamos a nós mesmos, mas refletimos os atributos de Deus. Portanto, como cristãos que buscam a criatividade, não devemos trabalhar com orgulho para “sermos fiéis a nós mesmos”. Em vez disso, como cristãos que buscam a criatividade, devemos humildemente aperfeiçoar nosso caráter à semelhança de Cristo. Só assim, como pessoas criativas humildes, nossa criatividade pode florescer como Deus planejou.
Notas
1. Petrone, P. (2020, December 2018). Why creativity is the most important skill in the world.
2. Genesis 1.27
Nota da Editora: Este artigo é baseado no livro The Humble Creative: Moral Vice and the Pursuit of Flourishing Creativity. Este livro oferece os primeiros passos na busca da criatividade florescente, examinando a cultura criativa contemporânea e identificando áreas-chave nas quais essa cultura fomenta vícios específicos na vida de uma pessoa criativa. O livro é um apelo a todos os criativos cristãos para que busquem exercer sua criatividade com base em atitudes de humildade.
• Matthew Niermann é reitor adjunto de arquitetura e criatividade e diretor do Centro de Criatividade e Testemunho Cristão da Universidade Batista da Califórnia. Também atua como diretor de sistema de dados para o Movimento de Lausanne. É PhD em design arquitetônico pela Universidade de Michigan e tem pós-graduações em pensamento cristão pela Universidade Biola e pelo Seminário Teológico Gordon-Conwell.
Artigo originalmente publicado no site Movimento Lausanne. Reproduzido com permissão.
Leia mais:
» Conheça o livro Cristo e a Criatividade, de Michael Card
- 21 de março de 2022
- Visualizações: 6861
- comente!
- +A
- -A
- compartilhar
QUE BOM QUE VOCÊ CHEGOU ATÉ AQUI.
Ultimato quer falar com você.
A cada dia, mais de dez mil usuários navegam pelo Portal Ultimato. Leem e compartilham gratuitamente dezenas de blogs e hotsites, além do acervo digital da revista Ultimato, centenas de estudos bíblicos, devocionais diárias de autores como John Stott, Eugene Peterson, C. S. Lewis, entre outros, além de artigos, notícias e serviços que são atualizados diariamente nas diferentes plataformas e redes sociais.
PARA CONTINUAR, precisamos do seu apoio. Compartilhe conosco um cafezinho.
Leia mais em Opinião
Opinião do leitor
Para comentar é necessário estar logado no site. Clique aqui para fazer o login ou o seu cadastro.
Ainda não há comentários sobre este texto. Seja o primeiro a comentar!
Escreva um artigo em resposta
Para escrever uma resposta é necessário estar cadastrado no site. Clique aqui para fazer o login ou seu cadastro.
Ainda não há artigos publicados na seção "Palavra do leitor" em resposta a este texto.
Assuntos em Últimas
- 500AnosReforma
- Aconteceu Comigo
- Aconteceu há...
- Agenda50anos
- Arte e Cultura
- Biografia e História
- Casamento e Família
- Ciência
- Devocionário
- Espiritualidade
- Estudo Bíblico
- Evangelização e Missões
- Ética e Comportamento
- Igreja e Liderança
- Igreja em ação
- Institucional
- Juventude
- Legado e Louvor
- Meio Ambiente
- Política e Sociedade
- Reportagem
- Resenha
- Série Ciência e Fé Cristã
- Teologia e Doutrina
- Testemunho
- Vida Cristã
Revista Ultimato
+ lidos
- Corpos doentes [fracos, limitados, mutilados] também adoram
- Pesquisa Força Missionária Brasileira 2025 quer saber como e onde estão os missionários brasileiros
- Perigo à vista ! - Vulnerabilidades que tornam filhos de missionários mais suscetíveis ao abuso e ao silêncio
- As 97 teses de Martinho Lutero
- Lutar pelos sonhos é possível após os 60. Sempre pela bondade do Senhor
- A urgência da reconciliação: Reflexões a partir do 4º Congresso de Lausanne, um ano após o 7 de outubro
- Para fissurados por controle, cancelamento é saída fácil
- Diálogos de Esperança: nova temporada conversa sobre a Igreja e Lausanne 4
- A última revista do ano
- Vem aí "The Connect Faith 2024"