Opinião
- 29 de março de 2018
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Malhar o Judas ou seguir o Cristo
Por William Lane
Nessa Páscoa, a situação política e social do país está mais propensa à malhação de Judas do que à celebração do Cristo ressurreto. A tradição católica popular de malhar Judas no sábado de aleluia se tornou não só um rito de execução post mortem do traidor de Jesus, mas também de malhar simbolicamente figuras públicas que de algum modo são consideradas traidoras da população. Ultimamente, pelo olhar do povo, várias figuras públicas se candidatariam a serem representadas por Judas no sábado de aleluia.
Alguns defendem essa tradição não só por questões religiosas, mas justamente por dar oportunidade às pessoas de extravasarem sua indignação, revolta e protesto contra tudo que representa uma afronta ao bem estar das pessoas e à justiça. Outros, contudo, acham que isso apenas alimenta mais indignação e, sobretudo, reforça a atitude de transferência da culpa para os outros.
Embora seja uma tradição muito antiga e em alguns lugares seja muito valorizada, evidentemente, não tem origem na Bíblia nem na tradição cristã, pois não temos nenhuma informação de que Judas foi linchado ou fustigado pela multidão. Pelo contrário, o que os Evangelhos nos contam que o próprio Cristo foi açoitado e sofreu a humilhação da multidão até ser, finalmente, colocado no madeiro. Judas, por outro lado, foi e se enforcou (Mt 27.5).
>> Pode a mesma boca que diz “Hosanas ao Rei” gritar “crucifica-o”? <<
O relato bíblico também conta outro fato em relação à multidão. O povo preferiu a liberdade de Barrabás à de Cristo. Pilatos lavou as mãos (Mt 27.24). Porém, longe de significar isenção, o gesto representa omissão e deliberada transferência da responsabilidade à multidão. Tomada pelo torpor das paixões, euforia e indignação, a multidão não tinha outra coisa a fazer a não ser seguir o caminho da revolta coletiva injustificada, e clamar, “Crucifica-o!”.
Muitas figuras públicas provavelmente serão simbolicamente enforcadas, malhadas, queimadas e até, literalmente, bombardeadas neste sábado de aleluia. Muitos ‘amigos’ serão deletados nas redes sociais. Mas a mesma comoção e paixão que nos leva malhar o traidor é a que nos leva crucificar o Cristo. Malhar Judas é a mesma coisa que crucificar o Cristo.
Ah! Como precisamos – como indivíduos, ‘amigos’ virtuais, famílias, nação – encontrar com o Cristo ressurreto! Mas não queremos o Cristo. Preferimos Barrabás. A paixão (entusiasmo excessivo) por Barrabás nos fascina muito mais do que a Paixão (martírio) de Cristo; a malhação de Judas, mais do que a ressurreição de Cristo. Seguir a Cristo é sofrer, perdoar, amar, ter compaixão, viver a justiça do reino acima de todas as coisas!
Leia mais
>> Não Perca Jesus de Vista
>> 3 e-books gratuitos para celebrar e entender melhor a Páscoa
>> Corrupção: aspectos sociais, bíblicos e teológicos
Nessa Páscoa, a situação política e social do país está mais propensa à malhação de Judas do que à celebração do Cristo ressurreto. A tradição católica popular de malhar Judas no sábado de aleluia se tornou não só um rito de execução post mortem do traidor de Jesus, mas também de malhar simbolicamente figuras públicas que de algum modo são consideradas traidoras da população. Ultimamente, pelo olhar do povo, várias figuras públicas se candidatariam a serem representadas por Judas no sábado de aleluia.
Alguns defendem essa tradição não só por questões religiosas, mas justamente por dar oportunidade às pessoas de extravasarem sua indignação, revolta e protesto contra tudo que representa uma afronta ao bem estar das pessoas e à justiça. Outros, contudo, acham que isso apenas alimenta mais indignação e, sobretudo, reforça a atitude de transferência da culpa para os outros.
Embora seja uma tradição muito antiga e em alguns lugares seja muito valorizada, evidentemente, não tem origem na Bíblia nem na tradição cristã, pois não temos nenhuma informação de que Judas foi linchado ou fustigado pela multidão. Pelo contrário, o que os Evangelhos nos contam que o próprio Cristo foi açoitado e sofreu a humilhação da multidão até ser, finalmente, colocado no madeiro. Judas, por outro lado, foi e se enforcou (Mt 27.5).
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O relato bíblico também conta outro fato em relação à multidão. O povo preferiu a liberdade de Barrabás à de Cristo. Pilatos lavou as mãos (Mt 27.24). Porém, longe de significar isenção, o gesto representa omissão e deliberada transferência da responsabilidade à multidão. Tomada pelo torpor das paixões, euforia e indignação, a multidão não tinha outra coisa a fazer a não ser seguir o caminho da revolta coletiva injustificada, e clamar, “Crucifica-o!”.
Muitas figuras públicas provavelmente serão simbolicamente enforcadas, malhadas, queimadas e até, literalmente, bombardeadas neste sábado de aleluia. Muitos ‘amigos’ serão deletados nas redes sociais. Mas a mesma comoção e paixão que nos leva malhar o traidor é a que nos leva crucificar o Cristo. Malhar Judas é a mesma coisa que crucificar o Cristo.
Ah! Como precisamos – como indivíduos, ‘amigos’ virtuais, famílias, nação – encontrar com o Cristo ressurreto! Mas não queremos o Cristo. Preferimos Barrabás. A paixão (entusiasmo excessivo) por Barrabás nos fascina muito mais do que a Paixão (martírio) de Cristo; a malhação de Judas, mais do que a ressurreição de Cristo. Seguir a Cristo é sofrer, perdoar, amar, ter compaixão, viver a justiça do reino acima de todas as coisas!
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Pastor presbiteriano e doutor em Antigo Testamento, é professor e capelão no Seminário Presbiteriano do Sul, e tradutor de obras teológicas. É autor do livro O propósito bíblico da missão.
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