Por Escrito
- 04 de maio de 2020
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Eu também sou um “Murilinho”
Por Quézia de Alcantara
A quarentena imposta contra a pandemia de Covid-19, que se espalhou pelo mundo e chegou até nós, permitiu que nossa presença em perfis de redes sociais se intensificasse. Acompanhar a vida dos nossos amigos e parentes tem ajudado a diminuir a saudade e propiciado que a amizade continue a ser partilhada.
Entre os perfis que revisitei está o da família Miranda. Encantou-me rever as fotos das férias deles durante o mês de janeiro deste ano. Esse casal amigo possui uma menina, a Maria Clara, entrando na adolescência e dois meninos – o Murilo, de 2 anos e meio e o Michel, de seis meses.
De todas as fotos postadas pela família em seus dias de férias, uma tornou-se muito especial para mim. Ela carrega, a meu ver, um simbolismo de como deve ser meu relacionamento com Deus, Senhor e Criador: a foto do pai e do filho mais velho, tomando banho em um dos córregos do rio Corumbá, após caminharem por uma trilha de trekking.
Na foto, o pequeno está no rio, num lugar bem raso, cheio de pedrinhas polidas. O pai está lá com ele, mas apenas sua mão é visualizada na selfie. A mão de um pai entregando uma pedrinha para o menino Murilo, que a observa com toda atenção. No ângulo da foto, ele parece tão menor e a mão de seu pai tão grande e forte que me fez pensar em mim e na mão de outro pai, a mão de Deus.
Aquela mão que entrega uma pedrinha para a criança é a mesma que a segura na ponte móvel, na bicicleta, nos cabos que acessam as cachoeiras e nas trilhas lamacentas que circundam o rio. Também é a mão que leva o menino pelas ruas bucólicas de paralelepípedos até o restaurante que serve um delicioso empadão goiano, onde almoçam.
Essa mão me lembrou da potente mão do Bom Pastor que leva a ovelhinha às águas tranquilas e às pastagens verdes. A criança, tão pequena, e menor ainda naquela imagem, relembra-me o quanto dependente sou do Pai, quão vulnerável estou neste mundo cheio de peripécias, incertezas e perigos, como uma doença avassaladora, praticamente desconhecida, sem cura.
Porém, aquele “meninozinho”, com os pezinhos na água, olhar seguro e confiante, expressão despretensiosa, entregue aos planos que seu pai fez para passarem as férias, me relembrou que eu também sou um “Murilinho”.
Tenho um Pai amoroso e cuidador, que me conduz pela vida, que é forte e terno ao mesmo tempo; que provê tudo o que necessito, pois é Soberano.
Ele me leva às águas mansas, mas também me ensina a escolher a melhor trilha – não uma estrada larga e asfaltada – mas aquela que, apesar de tortuosa, íngreme e escorregadia, é a certa a seguir porque Ele sabe o que é melhor para seu rebento.
E ainda que eu ande entre os arbustos sombrios, estará lá, com sua potente e firme mão a me iluminar. Igualmente, posso me atirar na tirolesa do cotidiano que Ele não me faltará – seus braços me segurarão. Se eu cair e me machucar, com certeza me levantará e me acalentará, envolvendo-me em seus braços e me escondendo da vergonha do mundo.
Ele mostra que não há medo ou ansiedade, porque estando comigo, segurando minha frágil mão, posso enfrentar qualquer revés, qualquer doença que porventura me acometer.
Posso igualmente me aventurar por sonhos e projetos, pois se eu errar, ele me corrigirá e me indicará a estrada certa a pegar no futuro.
Olhando aquela foto, sei que o menino vai crescer em graça e sabedoria, confiante, explorando as possibilidades, seguro de si, pois nada lhe faltará.
Acredito que o verei ainda nas recordações on-line de outras férias, quando esse isolamento social acabar, vivendo outras aventuras, guardado e protegido.
No entanto, cada vez que eu olhar para essa foto do menino e da mão de seu amado pai, recordarei que eu também sou um “Murilinho” e que meu Pai Celeste estará segurando minha mão todos os dias até a consumação dos séculos, conforme prometeu. Saberei que “com sua mão, segura bem a minha”.
• Quézia de Alcantara é jornalista e mestre em comunicação. Membro da PIB em Goiânia.
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